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Língua Portuguesa – Recursos linguísticos em narrativas ficcionais

Esta atividade de Língua Portuguesa tem como base as sequências didáticas propostas pelo Programa Aprender Sempre, da SME-Goiânia, com base no DC/GO – Ampliado e está destinada a estudantes do 7º ano do Ensino Fundamental.

Narrativa. Disponível em: <https://pixabay.com/images/id-2929646/> Acesso em: 11, mai. 22

A palavra “narrativa” está associada ao ato de narrar, contar. O texto narrativo é aquele em que fatos são narrados em uma sequência de ações que se sucedem através do tempo e do espaço. Para construir textos narrativos, o produtor recorre a vários recursos da língua.

As narrativas podem ser ficcionais ou não ficcionais. A narrativa não ficcional (ou real), conta os fatos reais, isto é, não procura recriá-los, apenas relata como realmente aconteceram. Alguns exemplos desse tipo de narrativa são as biografias, reportagens, notícias, entre outros. Já a narrativa ficcional (ou fictícia) cria ou recria fatos, como é o caso dos romances, contos, mitos, das fábulas, parábolas e novelas.

No caso das narrativas ficcionais, independentemente de qual seja o gênero discursivo-textual, sempre contamos com personagens situados em tempo e espaço e um enredo a respeito desses personagens contado por um narrador que participa ou apenas observa os fatos narrados. 

Para caracterizar as personagens, são utilizadas descrições, adjetivações, comparações. Caracterizar um personagem vai além de sua identificação, consiste em determinar o seu perfil psicológico e físico e em associar essa determinação à sua complexidade. 

Para enfatizar a voz e as ações dos personagens uns com os outros, a forma como eles dialogam é crucial. O autor, de maneira estratégica, pode utilizar o discurso direto, o discurso indireto e/ou o discurso indireto livre para compor a narrativa. Quando você criar uma história, reflita sobre essa escolha. Por exemplo, o que é mais apropriado para seu texto, um personagem reproduzindo diretamente sua fala, ou um narrador reproduzindo a voz de um personagem?

Outro fator que colabora para a progressão da narrativa é a organização da passagem temporal, que culmina no desfecho. A presença de substantivos que indicam meses e anos, verbos que apontam ações no tempo, e advérbios, locuções adverbiais devem ser utilizados para produzir um bom texto narrativo ficcional. Veja os seguintes exemplos:

Há muito tempo, na floresta passeava Narciso…

As coisas foram assim até o dia em que a Ninfa Eco o viu…

A utilização do discurso direto ou indireto para marcar a fala dos personagens, da escolha consciente de substantivos e adjetivos nas caracterizações dos espaços e dos personagens, dos verbos, advérbios e locuções adverbiais nas marcações temporais do enredo e da escolha mais apropriada de um narrador para contar os fatos colaboram para o sucesso de um texto narrativo de ficção. Além de levar em consideração essas características na produção de textos, passe a observá-las nos textos ao realizar a leitura e estudo.

Assista à videoaula do professor Marlon Santos com essa temática.

Canal Portal Conexão Escola – Aprender Sempre – L. Portuguesa – 7º Ano – 2º Bim – Videoaula 4 – Recursos Linguísticos Em Narrativa – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=K7-yvJw8LTE> Acesso em: 16, mai. 22

Responda às questões a seguir.

Leia um trecho do conto “O Espelho”, de Machado de Assis, para responder às questões:

O Espelho

Esboço de uma nova teoria da alma humana

Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. A casa ficava no morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas, cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora. Entre a cidade, com as suas agitações e aventuras, e o céu, em que as estrelas pestanejavam, através de uma atmosfera límpida e sossegada, estavam os nossos quatro ou cinco investigadores de coisas metafísicas, resolvendo amigavelmente os mais árduos problemas do universo.

Por que quatro ou cinco? Rigorosamente eram quatro os que falavam; mas, além deles, havia na sala um quinto personagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação. Esse homem tinha a mesma idade dos companheiros, entre quarenta e cinquenta anos, era provinciano, capitalista, inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e cáustico. Não discutia nunca; e defendia-se da abstenção com um paradoxo, dizendo que a discussão é a forma polida do instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança bestial; e acrescentava que os serafins e os querubins não controvertiam nada, e, aliás, eram a perfeição espiritual e eterna. Como desse esta mesma resposta naquela noite, contestou-lha um dos presentes, e desafiou-o a demonstrar o que dizia, se era capaz. Jacobina (assim se chamava ele) refletiu um instante, e respondeu:

– Pensando bem, talvez o senhor tenha razão.

Vai senão quando, no meio da noite, sucedeu que este casmurro usou da palavra, e não dois ou três minutos, mas trinta ou quarenta. A conversa, em seus meandros, veio a cair na natureza da alma, ponto que dividiu radicalmente os quatro amigos. Cada cabeça, cada sentença; não só o acordo, mas a mesma discussão tornou-se difícil, senão impossível, pela multiplicidade das questões que se deduziram do tronco principal e um pouco, talvez, pela inconsistência dos pareceres. Um dos argumentadores pediu ao Jacobina alguma opinião – uma conjetura, ao menos.

– Nem conjetura, nem opinião, redarguiu ele; uma ou outra pode dar lugar a dissentimento, e, como sabem, eu não discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um caso de minha vida, em que ressalta a mais clara demonstração acerca da matéria de que se trata. Em primeiro lugar, não há uma só alma, há duas…

– Duas?

– Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro… Espantem-se à vontade; podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a alma exterior de uma pessoa; – e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira. Shylock, por exemplo. A alma exterior daquele judeu eram os seus ducados; perdê-los equivalia a morrer. “Nunca mais verei o meu ouro, diz ele a Tubal; é um punhal que me enterras no coração.” Vejam bem esta frase; a perda dos ducados, alma exterior, era a morte para ele. Agora, é preciso saber que a alma exterior não é sempre a mesma…

– Não?

[…] ASSIS, Machado de. Obra Completa. Vol. II. Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.

QUESTÃO 1

No trecho “Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos” fica claro que tipo de narrador contará os fatos. Assinale a alternativa que explica qual é o tipo de narrador e que indica um elemento que comprova sua voz.

(A) Narrador personagem, que, aliás, é um dos quatro cavaleiros que debatiam sobre a disparidade dos votos.

(B) Narrador observador, como pode ser percebido através do verbo “debatiam” relacionado às ações dos personagens.

(C) Narrador personagem, como pode ser notado pela percepção muito pessoal sobre a alteração dos espíritos dos personagens.

(D) Narrador observador, como pode ser percebido através da marcação temporal “uma noite”, que situa o tempo da narrativa.

QUESTÃO 2

Releia o seguinte fragmento:

 Jacobina (assim se chamava ele) refletiu um instante, e respondeu:  – Pensando bem, talvez o senhor tenha razão.

No trecho é empregado o discurso direto para introduzir a fala da personagem Jacobina. Reelabore o trecho passando a fala da personagem para o discurso indireto.

QUESTÃO 3

Na questão anterior, você retextualizou um trecho que reproduz o discurso direto em discurso indireto. Para que isso acontecesse, quais procedimentos você utilizou?

QUESTÃO 4

Assinale a alternativa em que o termo destacado não está se referindo a uma marcação temporal.

(A) Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos.

(B) Como desse esta mesma resposta naquela noite, contestou-lha um dos presentes, e desafiou-o a demonstrar o que dizia, se era capaz.

(C) Vai senão quando, no meio da noite, sucedeu que este casmurro usou da palavra, e não dois ou três minutos, mas trinta ou quarenta.

(D) Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro…

QUESTÃO 5

Releia o seguinte trecho:

“Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro… Espantem-se à vontade; podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica.”

a) Que efeito de sentido as reticências (…) podem causar nesse contexto?

b) Qual é a função das vírgulas (,) no trecho “podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo”?

c) No trecho “Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro…”, qual é a função dos dois-pontos (:)? Que justificativa pode ser dada para explicar a estratégia de utilizar os dois-pontos e não a vírgula (,) nesse parágrafo?


Autoria:Marlon Santos
Formação:Letras – Português
Componente curricular:Língua Portuguesa
Habilidades
estruturantes:
(EF69LP47-A) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, as escolhas lexicais típicas de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo. 
(EF69LP47-B) Perceber como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto, indireto e indireto livre), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios de cada gênero narrativo. 
(EF67LP30-B) Observar os elementos da estrutura narrativa próprios ao gênero pretendido, tais como enredo, personagens, tempo, espaço e narrador. 
Referências:GOIÂNIA. Secretaria Municipal de Educação. Aprender Sempre. 6° ao 9º ano – Ensino Fundamental; Língua Portuguesa; 2° Bimestre; Goiânia, 2022.