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Língua Portuguesa – Gênero conto: o enredo de um povo

Olá, estudante! Esta videoaula de Língua Portuguesa para o 7º ano do Ensino Fundamental foi veiculada na TV no dia 31/08/2021 (terça-feira). Aqui no Portal Conexão Escola, ela está disponível juntamente com a proposta de atividade.

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O gênero literário conto surgiu da tradição oral, desde tempos remotos em que o ser humano sequer tinha inventado a escrita. Com o passar do tempo e com advento da escrita, esse gênero foi ganhando forma e características particulares, colocando em evidência a cultura e os valores de um povo. Estude, nesta aula, o gênero conto e algumas de suas características. Bons estudos!

Assista agora a videoaula do professor Marlon Santos com a temática gênero literário conto.

7 ano Português 31 08 Bloco 01

Certamente, você já deve ter lido diversos contos: alguns engraçados, outros de terror; alguns bem realistas e outros no mundo das fadas, da fantasia.  Acontece que há diversos tipos de conto, porque também há diversas formas de contar, não é verdade?

A origem do conto está justamente na transmissão oral de fatos, verídicos ou não, que vão se repetindo de geração em geração. Já ouviu aquele ditado “quem conta um conto, aumenta um ponto”? Pois é… Foi bem dessa forma que muitos contos foram se cristalizando no imaginário coletivo e resistindo ao tempo. Desde a origem humana, antes mesmo do surgimento da escrita, o ser humano transmite oralmente suas crenças, valores e sabedorias por meio de narrativas. Por mais de dois mil anos, as diversas civilizações contam e recontam histórias, que podem ir sendo modificadas por seus novos contadores.

Com o advento da escrita, o ato de narrar acontecimentos evoluiu da oralidade para o registro escrito. Mas, é só na Idade Moderna, em meados do século XV, que o conto se consolida como literatura. 

Você já deve ter ouvido falar nos Irmãos Grimm e até lido contos de fadas com a autoria atribuída a eles. Os Irmãos Grimm são dois irmãos alemães que entraram para a história como folcloristas e por suas coletâneas de contos infantis. Eles coletaram mais de 150 contos da tradição oral da Alemanha. Ouviam as histórias nas comunidades e as registravam. Em 1812, lançaram o primeiro volume “Contos de Fadas para o Lar e as Crianças”, em nossa língua. 

Vejamos, existe uma diferença entre colher narrativas e criar narrativas. Há uma grande importância em registar essas transmissões culturais orais para as próximas gerações, mas nem tudo que contamos é criação nossa, não é mesmo? Por isso, a definição de o que é conto, é bastante tênue. Muitos estudiosos tentam conceituar esse gênero, porém, a habilidade de contar histórias possui muitas peculiaridades, características que vão sendo mudadas de cultura para cultura. Desse modo, uma pessoa contadora de história, comumente, explica qual é sua visão sobre o conto e a arte de contar histórias, ora mais autoral, ora mais coletiva.

Cora Coralina, contista, poetisa e doceira da Cidade de Goiás – GO, foi uma autora que resolveu contar “estórias” que se encontram com a sua história e a de seu povo. Leia, a seguir, um texto em que a autora fala sobre o conto:

Nada Novo…

Ressalva. O conto é uma modalidade literária ingrata e não raro surpreendente.

Quando acreditamos, ufanos, que sua motivação, seu pequeno enredo seja original de uma cidade, e nossa a primazia de o contar, vemos com surpresa que outras cidades também reivindicam o mesmo assunto e que outros contistas já garimparam na lavra.

Concluímos, portanto, que o enredo seja de toda parte e de todos que escrevem, ressalvando apenas o estilo de cada um e os recursos próprios de quem escreve e conta. Por isso nos resguardamos dos juízos apressados.

CORALINA, Cora. Estórias da Casa Velha da Ponte. 14 ed. São Paulo: Global, 2014.    

Você observou o que Cora Coralina fala a respeito do conto? Uma modalidade literária que sempre surpreende, que origina-se no cotidiano de uma cidade e o contador tem a graça, a primazia de contar essas histórias que nascem no meio do povo. É assim em cada cidade, em cada povo, mesmo quando os temas são parecidos. Sobre isso, ela diz que o enredo está em toda parte, mas o estilo de quem conta e escreve confere singularidade.

Mesmo com esse leque de possibilidades de escrita e contação de narrativas, é possível listar características comuns nos contos. Veja a seguir:

Características do conto

  • Há diversos tipos de contos: realistas, populares, fantásticos, de terror, de humor, infantis, psicológicos, de fadas;
  • Em síntese, o conto é um texto curto em que um narrador conta uma história desenvolvida em torno de uma situação que dá origem aos acontecimentos de uma narrativa;
  • Em geral, há poucos personagens e poucos locais, até porque a história é breve, o que dificulta a presença de muitos lugares e personagens diferentes;
  • Sua estrutura costuma ser composta por quatro partes: apresentação do enredo, desenvolvimento dos acontecimentos, momento de tensão – clímax, e solução – desfecho. É importante ressaltar que nem todos os contos possuem um desfecho fechado (como o conto de fadas e o “felizes para sempre”), com a resolução da situação. Há contos que terminam com algum elemento surpresa e sem explicação ou resolução;
  • O tempo do conto costuma ser marcado, isto é, pode-se saber em que momento a história acontece. Esse tempo pode ser cronológico (quando as coisas acontecem numa sequência normal, de horas, dias, anos) ou psicológico (quando as coisas não acontecem em outra sequência, mas de acordo com a imaginação do narrador ou de um personagem);
  • Assim como o tempo, o enredo pode não ser linear. Essa possibilidade e tantas outras, associa-se ao estilo de quem escreve; 
  • O narrador do conto pode ser personagem, observador, onisciente… não há limitações para essas vozes que organizam a narrativa.

Tipos de conto

  • Contos realistas: narram situações realistas e não imaginárias.
  • Contos populares: narram histórias transmitidas de uma geração para outra.
  • Contos fantásticos: apresentam mistura de realidade com ficção e confundem os leitores com acontecimentos absurdos.
  • Contos de terror: narram histórias cheias de mistérios, suspense e medo.
  • Contos de humor: contam histórias que têm como objetivo divertir os leitores.
  • Contos infantis: apresentam histórias para crianças que, geralmente, têm a intenção de transmitir uma lição moral.
  • Contos psicológicos: envolvem lembranças e sentimentos, além da intenção de levar o leitor a refletir.
  • Contos de fadas: são os que começam com “era uma vez” e terminam com um “viveram felizes para sempre”, além de envolver príncipes e princesas e se desenvolvem em torno de um acontecimento trágico, mas que têm um final feliz.

Os Minicontos, Microcontos ou Nanocontos são subcategorias do conto, chamados de “contos minimalistas”. Eles são bem menores que o conto, podendo ocupar meia página, uma página, ou ser formado por poucas linhas. Mesmo que não compartilhem da estrutura básica dos contos, esse tipo de texto tem adquirido diversas formas na atualidade, sobretudo após o movimento modernista. Dessa forma, ele deixa de lado a estrutura fixa narrativa, privilegiando assim, a liberdade criativa dos escritores.

Leia, a seguir, um conto de Leo Cunha.

O sabiá e a girafa

      O sabiá

        Sabia que o sabiá sabia assobiar? Dizia o meu avô. 

        Sabia que o sabiá sabia avoar? Avoa, vô, avoa. E de ave ele entendia. Mas o sabiá da minha história não sabia avoar. Assobiar ele sabia. Mas, que mais batesse as asas, o sabiá não subia. 

        Avoa, sô, avoa! O pobre não decolava. Pulava lá do galho, aterrissava na bacia. 

        Não desistia o sabiá. Saltava, caía, pulava, caía, tentava, caía. Sabiá na bacia. À toa, sô, à toa. Todo mundo até ria, mas no fundo já sabia: o sabiá não sabia avoar. 

        Vivia a assobiar seu apetite: comer o ar, caber no ar. 

        Passar por cima das casas, das ruas, das gentes, do medo. 

        Passar de passarinho, passear devagarinho, sem pra onde nem caminho. À toa, à toa, a esmo. Só queria mesmo avoar. 

        Sonhos também havia. Asas arranhando a barriga das nuvens, voos atravessando a manhã vazia. Mas, entre as trapaças da brisa, o sabiá não saía. 

        Assobiava que eu nem te conto. Antes, o canto de tenor, a cor na noite escura. Depois, o canto de temor, a dor da falta de altura. Cantava que eu nem te canto, o sabiá desencantado. 

        Dias de sonhos rasantes, noites de sono arrasado. Mas ele, ressabiado, teimava em assobiar. Dorremifava macio, no galho ou na bacia, o desejo de avoar. 

        Um dia, o sabiá dizia, um dia eu consigo avoar. 

A girafa

        Girafa o meu avô não conheceu. Nunca teve o prazer, não foi apresentado. Mas o velho deitado dizia: filho de peixe, peixinho é. 

        Isso vale pra outros bichos. Girafa também é sempre igual. 

        Nada fala, tudo espia. Sem um pio, sem um fio de voz. Só em riso e pensamento, ironiza o mundo no andar de baixo. 

        Mas a girafa da minha história era muito diferente. A muda queria mudar. Não o mundo, mas a vida. Queria enganar o silêncio que lhe esganava a garganta. Queria encolher a dor de não escolher as palavras. Queria desemudecer. 

        E não bastava soltar umas palavras no vento. Também sonhava em cantar. Sonhava encantar o dia, molhar as tardes de poesia, melar o canto da noite com doces melodias. 

        Prestava atenção no trovão, no temporal, na ventania.

        Tentava imitar o azulão, o rouxinol, a cotovia. Mas a voz não derramava. Então reclamava baixinho: para que tanta altitude, pra cantar só passarinho? 

        A girafa andava injuriada. Andava toda a cidade, do alto dos seus andares, adorando a paisagem. Mas ficava na saudade o canto de homenagem.

        Um dia, jurava a girafa, um dia eu consigo cantar.

O sabiá e a girafa

        O encontro se deu por acaso, por acaso o deus dos encontros. 

        O sabiá resolveu chorar no alto de um pé de caju. A girafa se lamentava no baixo daquele pé. Uma árvore muito esquisita, mas desgosto não se discute.

        Estavam os dois ali. Os dois no mesmo pé. Ela vendo o que não cantava. Ele cantando o que não conhecia. Ele queria saltar nas alturas. Ela sonhava assaltar partituras. 

        E a dupla melancolia – ou foi a natureza? – tratou de cruzar os caminhos. A sabedoria do vento mandou o sabiá pro espaço. Pra ver se ele avoava. Pra ver se acertava o compasso, o sabiá avoado. 

        Mas ele caiu de cabeça na cabeça da girafa. Silêncio. Sabiá assustado. Contudo, depois do susto, o coitado gostou do que viu. Cada passo da girafa passeava ele no céu. Cada girada do pescoço, um horizonte descoberto. E ele começou a cantar. 

        A girafa ficou fascinada. Aquela voz afinada soltou sua cara amarrada. Desfez a careta enfezada. Ofereceu então moradia ao dono de tal melodia, de canto tão doce e terno. E o canto do sabiá virou o seu canto eterno.

        O sabiá ficou morando na cabeça da girafa. A girafa, namorando o canto do companheiro. 

        Minha história acaba aqui. Mas a dos dois continua, sem plateia nem juiz, depois do final feliz.

CUNHA, Leo. et aI. Meus primeiros contos, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 9-12. (Coleção Literatura em minha casa: 3.)

Atividade

Nessa aula, você aprendeu que os contos surgem, muitas vezes, da tradição oral. Os Irmãos Grimm, por exemplo, colheram contos em uma dada região da Alemanha. Agora é a sua vez de colher contos. Faça isso no meio de sua família. Procure alguma pessoa mais velha, mais experiente, e peça a ela que te conte alguma história para que você registre em seu caderno. Lembre-se de definir que tipo de narrador contará os fatos narrados, se será de modo cronológico ou psicológico e da delimitação do lugar em que a situação contada acontece. Bom trabalho! 


Habilidade estruturante(EF69LP44-B) Reconhecer, em textos literários, formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas, considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção. (EF69LP47-B) Perceber como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto, indireto e indireto livre), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo.
Referências:CORALINA, Cora. Estórias da Casa Velha da Ponte. 14 ed. São Paulo: Global, 2014  https://www.ebiografia.com/irmaos_grimm/ https://www.todamateria.com.br/conto/ 

Professor, essa aula segue a Matriz Curricular das Habilidades Estruturantes 2021-2021. Foi elaborada no ano de 2020, com a suspensão das aulas presenciais devido à pandemia da Covid-19 e segue as orientações de flexibilização curricular para o biênio 2020/2021 (Ofício Circular 147/2020 Dirped).