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Língua Portuguesa – Elementos da narrativa

Esta atividade de Língua Portuguesa tem como base as sequências didáticas propostas pelo Programa Aprender Sempre, da SME-Goiânia, com base no DC/GO – Ampliado e está destinada a estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental.

Provavelmente, você sabe o que é um texto narrativo. O texto narrativo é o tipo textual que conta histórias vividas por personagens em um certo tempo e espaço. Geralmente, as histórias são narradas em prosa (aquele texto estruturado em frases e parágrafos), mas é possível contar histórias por meio da estrutura de versos, como nos poemas narrativos e nas epopeias. Alguns gêneros narrativos são: conto, crônica, novela, romance, fábula, piada, entre outros.

 Ao ler um texto narrativo, você costuma observar algum aspecto de sua estrutura? Você já se perguntou se uma história poderia ser contada de outra forma? Além de imaginar os fatos narrados, é muito importante, ao ler uma história, observar os aspectos gramaticais e estruturais do texto. Neste texto, você terá a oportunidade de refletir sobre os aspectos estruturais da narrativa.

Personagens

Toda história precisa de alguém para vivê-la. É por isso que, no texto narrativo, é fundamental que personagens realizem ações e façam os fatos acontecerem. Elas podem ser seres humanos, animais, seres fantasiosos ou seres inanimados, como objetos. Nas narrativas, há os personagens protagonistas e antagonistas, também chamados de personagens primários, e os coadjuvantes ou secundários. Há personagens que contam suas histórias. Em outros casos, uma outra voz narra a história das personagens. 

Narrador

Quem narra os fatos que as personagens vivem é o narrador. Ele pode ser:

– narrador personagem: quando a própria personagem conta sua história;

– narrador observador: quando alguém que não participa da história narra os fatos;

O narrador observador pode ou não ter mais informações sobre as personagens e os fatos. Isso depende bastante do objetivo do autor do texto ao criar uma história. Veja:

– narrador observador onisciente: quando o narrador não participa da história e sabe de todas as coisas, inclusive dos sentimentos e pensamentos das personagens;

– narrador observador intruso: quando o narrador, além de contar os fatos que não participa, emite opiniões sobre as ações das personagens, por exemplo.

Espaço

No texto narrativo, o espaço é o lugar ou cenário em que a história acontece. É comum em narrativas os espaços mudarem à medida que as ações acontecem. Essa organização do espaço é determinada pelo objetivo do autor, que pode associar o espaço a determinados efeitos de sentido. Por exemplo: em uma fábula, que costuma ter por protagonistas animais, é mais comum o espaço se passar em florestas e bosques. 

Tempo

Toda história se passa em um tempo, seja ele no agora, em um tempo distante, remoto, ou até mesmo no futuro. Há narrativas em que o tempo é bem fácil de ser identificado pelo leitor, como em uma manhã de primavera ou na Páscoa de 2013, por exemplo. Quando há uma ordem dos fatos narrados, dizemos que o tempo da narrativa é cronológico. Por exemplo: começa pela manhã, se desenvolve à tarde e conclui-se à noite. Mas, também há narrativas em que o tempo é difícil de ser marcado ou, inclusive, indeterminado. Este é o tempo psicológico. Isso costuma acontecer quando o narrador começa a refletir enquanto conta a história e começa a falar de outras coisas, sem manter uma ordem exata das coisas e do tempo.

Enredo

Toda história precisa de fatos para serem contados. É o enredo que traça (enreda) a trama que está sendo contada por um narrador a respeito de personagens, que estão em espaço e tempo delimitados. Toda trama precisa ter uma sequência de acontecimentos conflituosos da história que tendem a ser resolvidos.

Assista à videoaula do professor Marlon Santos com essa temática.

Canal Portal Conexão Escola – Aprender Sempre – L. Portuguesa – 6º Ano – 4º Bim – Videoaula 1 – Elementos da Narrativa – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8vsNDzI14yc> Acesso em: 01, nov. 2022

Responda às questões a seguir.

Leia o texto a seguir para responder às perguntas.

A Escrava Isaura

 Capítulo 1 

Era nos primeiros anos do reinado do Sr. D. Pedro II. 

No fértil e opulento município de Campos de Goitacases, à margem do Paraíba, a pouca distância da vila de Campos, havia uma linda e magnífica fazenda. 

Era um edifício de harmoniosas proporções, vasto e luxuoso, situado em aprazível vargedo ao sopé de elevadas colinas cobertas de mata em parte devastada pelo machado do lavrador. Longe em derredor a natureza ostentava-se ainda em toda a sua primitiva e selvática rudeza; mas por perto, em torno da deliciosa vivenda, a mão do homem tinha convertido a bronca selva, que cobria o solo, em jardins e pomares deleitosos, em gramais e pingues pastagens, sombreadas aqui e acolá por gameleiras gigantescas, perobas, cedros e copaíbas, que atestavam o vigor da antiga floresta. Quase não se via aí muro, cerca, nem valado; jardim, horta, pomar, pastagens, e plantios circunvizinhos eram divididos por viçosas e verdejantes sebes de bambus, piteiras, espinheiros e gravatás, que davam ao todo o aspecto do mais aprazível e delicioso vergel. 

A casa apresentava a frente às colinas. Entrava-se nela por um lindo alpendre todo enredado de flores trepadeiras, ao qual subia-se por uma escada de cantaria de seis a sete degraus. Os fundos eram ocupados por outros edifícios acessórios, senzalas, pátios, currais e celeiros, por trás dos quais se estendia o jardim, a horta, e um imenso pomar, que ia perder-se na barranca do grande rio.

[…]

A favor desse quase silêncio harmonioso da natureza ouvia-se distintamente o arpejo de um piano casando-se a uma voz de mulher, voz melodiosa, suave, apaixonada, e do timbre o mais puro e fresco que se pode imaginar. 

[…]

Apenas terminado o canto, a moça ficou um momento a cismar com os dedos sobre o teclado como escutando os derradeiros ecos da sua canção. 

Entretanto abre-se sutilmente a cortina de cassa de uma das portas interiores, e uma nova personagem penetra no salão. Era também uma formosa dama ainda no viço da mocidade, bonita, bem feita e elegante. A riqueza e o primoroso esmero do trajar, o porte altivo e senhoril, certo balanceio afetado e langoroso dos movimentos davam-lhe esse ar pretensioso, que acompanha toda moça bonita e rica, ainda mesmo quando está sozinha. Mas com todo esse luxo e donaire de grande senhora nem por isso sua grande beleza deixava de ficar algum tanto eclipsada em presença das formas puras e corretas, da nobre singeleza, e dos tão naturais e modestos ademanes da cantora. Todavia Malvina era linda, encantadora mesmo, e posto que vaidosa de sua formosura e alta posição, transluzia-lhe nos grandes e meigos olhos azuis toda a nativa bondade de seu coração. 

Malvina aproximou-se de manso e sem ser pressentida para junto da cantora, colocando-se por detrás dela esperou que terminasse a última cópia. 

– Isaura!… disse ela pousando de leve a delicada mãozinha sobre o ombro da cantora. 

– Ah! é a senhora?! – respondeu Isaura voltando-se sobressaltada. – Não sabia que estava aí me escutando. 

– Pois que tem isso?.., continua a cantar… tens a voz tão bonita!… mas eu antes quisera que cantasses outra coisa; por que é que você gosta tanto dessa cantiga tão triste, que você aprendeu não sei onde?… 

– Gosto dela, porque acho-a bonita e porque… ah! não devo falar… 

– Fala, Isaura. Já não te disse que nada me deves esconder, e nada recear de mim?… 

– Porque me faz lembrar de minha mãe, que eu não conheci, coitada!… Mas se a senhora não gosta dessa cantiga, não a cantarei mais. 

– Não gosto que a cantes, não, Isaura. Hão de pensar que és maltratada, que és uma escrava infeliz, vítima de senhores bárbaros e cruéis. Entretanto passas aqui uma vida que faria inveja a muita gente livre. Gozas da estima de teus senhores. Deram-te uma educação, como não tiveram muitas ricas e ilustres damas que eu conheço. És formosa, e tens uma cor linda, que ninguém dirá que gira em tuas veias uma só gota de sangue africano. Bem sabes quanto minha boa sogra antes de expirar te recomendava a mim e a meu marido. Hei de respeitar sempre as recomendações daquela santa mulher, e tu bem vês, sou mais tua amiga do que tua senhora. Oh! não; não cabe em tua boca essa cantiga lastimosa, que tanto gostas de cantar. – Não quero, – continuou em tom de branda repreensão, – não quero que a cantes mais, ouviste, Isaura?… se não, fecho-te o meu piano.

– Mas, senhora, apesar de tudo isso, que sou eu mais do que uma simples escrava? Essa educação, que me deram, e essa beleza, que tanto me gabam, de que me servem?… são trastes de luxo colocados na senzala do africano. A senzala nem por isso deixa de ser o que é: uma senzala.

– Queixas-te da tua sorte, Isaura?… 

– Eu não, senhora; não tenho motivo… o que quero dizer com isto é que, apesar de todos esses dotes e vantagens, que me atribuem, sei conhecer o meu lugar. 

– Anda lá; já sei o que te amofina; a tua cantiga bem o diz. Bonita como és, não podes deixar de ter algum namorado. 

– Eu, senhora!… por quem é, não pense nisso. 

– Tu mesma; pois que tem isso?… não te vexes; pois é alguma coisa do outro mundo? Vamos já, confessa; tens um amante, e é por isso que lamentas não teres nascido livre para poder amar aquele que te agradou, e a quem caíste em graça, não é assim?… 

– Perdoe-me, sinhá Malvina; – replicou a escrava com um cândido sorriso. 

– Está muito enganada; estou tão longe de pensar nisso! – Qual longe!… não me enganas, minha rapariguinha!… tu amas, e és mui linda e bem prendada para te inclinares a um escravo; só se fosse um escravo, como tu és, o que duvido que haja no mundo. Uma menina como tu, bem pode conquistar o amor de algum guapo mocetão, e eis aí a causa da choradeira de tua canção. Mas não te aflijas, minha Isaura; eu te protesto que amanhã mesmo terás a tua liberdade; deixa Leôncio chegar; é uma vergonha que uma rapariga como tu se veja ainda na condição de escrava. 

– Deixe-se disso, senhora; eu não penso em amores e muito menos em liberdade; às vezes fico triste à toa, sem motivo nenhum… 

– Não importa. Sou eu quem quero que sejas livre, e hás de sê-lo. 

Neste ponto a conversação foi cortada por um tropel de cavaleiros, que chegavam e apeavam-se á porta da fazenda. 

Malvina e Isaura correram à janela a ver quem eram.

GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. Disponível em: Domínio Público – Detalhe da Obra (dominiopublico.gov.br)

QUESTÃO 1

Localize no primeiro capítulo de “A escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães, os seguintes elementos da narrativa:

A) Personagens

B) Espaço

C) Tempo

QUESTÃO 2

Ao ler o texto, você deve ter percebido que há palavras desconhecidas. Isso acontece porque o texto foi publicado em 1875, e é natural que, com o tempo, a língua sofra transformações e palavras caiam em desuso. Selecione cinco palavras do texto que são desconhecidas para você e pesquise em um dicionário o significado delas.

QUESTÃO 3

A narrativa “A escrava Isaura” é contada por um narrador observador. Dentre os trechos a seguir, assinale aquele que comprova essa afirmação:

(A) Malvina aproximou-se de manso e sem ser pressentida para junto da cantora, colocando-se por detrás dela esperou que terminasse a última cópia. 

(B) – Ah! é a senhora?!

(C) – Não sabia que estava aí me escutando. 

(D) – Pois que tem isso?.., continua a cantar… tens a voz tão bonita!… mas eu antes quisera que cantasses outra coisa; por que é que você gosta tanto dessa cantiga tão triste, que você aprendeu não sei onde?…

QUESTÃO 4

Qual é o conflito existente na relação apresentada no enredo entre as personagens?

QUESTÃO 5

No contexto da narrativa, Isaura é uma escrava. A abolição da escravatura no Brasil foi decretada em 1888. Se essa narrativa fosse escrita em nossa atualidade, quais aspectos mudariam no texto? Como poderia ser essa nova história?

QUESTÃO 6

Reconte o trecho que você leu da história de “A escrava Isaura” pela ótica de um narrador diferente daquele que a narra.

QUESTÃO 7

Em um texto narrativo, o narrador observador onisciente é aquele que:

(A) participa da história que narra.

(B) não participa da história e sabe de todas as coisas, inclusive dos sentimentos das personagens.

(C) não participa da história, opina sobre os fatos narrados e não conhece o interior das personagens.

(D) participa da história que narra e não conhece o interior das personagens.


Autoria:Marlon Santos
Formação:Letras – Português
Componente curricular:Língua Portuguesa
Habilidades estruturantes:(EF69LP47-B) Perceber como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto, indireto e indireto livre), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios de cada gênero narrativo. 
(EF67LP30-A) Criar narrativas ficcionais, tais como contos populares, contos de mistério, narrativas de enigma, crônicas, histórias em quadrinhos, entre outros, que utilizem os recursos sonoros, cenários e personagens realistas ou de fantasia. 
(EF67LP30-B) Observar os elementos da estrutura narrativa próprios ao gênero pretendido, tais como enredo, personagens, tempo, espaço e narrador.
Referências:GOIÂNIA. Secretaria Municipal de Educação. Aprender Sempre. 6° ao 9º ano – Ensino Fundamental; Língua Portuguesa; 4° Bimestre; Goiânia, 2022.
GUIMARÃES, B. A escrava Isaura. Disponível em: Domínio Público – Detalhe da Obra (dominiopublico.gov.br)