Esta proposta de atividade de Língua Portuguesa é destinada aos estudantes do 4º Período da Educação de Jovens e Adultos – EJA.
O CHAMADO DAS PEDRAS – CORA CORALINA
É muito comum na literatura a temática do regresso a terra natal, muitos artistas de maneira comovida retratam esse retorno ao local de nascimento, suas origens, seus pertences e famíliares. Para Cora Coralina essa retratação vem adornada com recursos sonoros, em que as palavras enfatizam ações pelas quais passam o eu lírico ao retornar ao seu espaço de origem, pedras, sinos, aves e rio conferem de forma saudosa onomatopeias que marcam o encontro do eu lírico com o seu passado, com suas origens, com o seu recanto.
Confira um trecho do consagrado poema “O chamado das pedras” de Cora Coralina que faz uso de recursos estilísticos que transfiguraram o retorno da própria poetisa a Cidade de Goiás no ano de 1956, após 45 anos vivendo no estado de São Paulo.
(…)
Sozinha…
Na estrada deserta,
sempre a procurar
o perdido tempo
que ficou pra trás.
Do perdido tempo.
Do passado tempo
escuto a voz das pedras:
Volta… Volta… Volta…
E os morros abriam para mim
imensos braços vegetais.
E os sinos das igrejas
que ouvia na distância
Diziam: Vem… Vem… Vem…
E as rolinhas fogo-pagou
das velhas cumeeiras:
Porque não voltou…
Porque não voltou…
E a água do rio que corria
chamava… chamava…
Vestida de cabelos brancos
Voltei sozinha à velha casa, deserta.
Estruturado em versos livres, sem métrica ou rima fixa. Essa liberdade formal intensifica o caráter pessoal e introspectivo da narrativa. A fragmentação dos versos, muitas vezes curtos, transmite a sensação de hesitação e angústia.
Há no poema construções imagéticas quem simbolismos que intensificam a carga emocional, como “A estrada deserta” que representa a vida sem companhia ou propósito claro. “A luz apagada” que simboliza a perda de esperança ou direção. “A candeia de azeite” que remete a um tempo antigo, à simplicidade e à conexão com o passado.
Apesar das inúmeras metáforas que retratam estados emocionais o poema pode ser interpretado como uma reflexão sobre a condição humana, marcada pela solidão e a busca incessante por sentido em viver. A figura da “velha casa deserta” no final sugere que, embora possamos retornar ao passado fisicamente, o tempo e as experiências vividas tornam impossível restaurar o que foi perdido.
RESPONDA AS QUESTÕES
QUESTÃO 1
Identifique e analise o simbolismo presente em pelo menos dois elementos do poema, como as “pedras”, os “braços vegetais” e os “sinos das igrejas”. Como esses elementos contribuem para o tom melancólico da obra?
QUESTÃO 2
Analise como a repetição de palavras e expressões, como “Volta… Volta… Volta…” e “chamava… chamava…”, reforça as emoções transmitidas no poema. Qual é o impacto desse recurso na leitura?
QUESTÃO 3
O poema pode ser interpretado como uma metáfora para as dificuldades e as perdas enfrentadas ao longo da vida. Você se identifica com alguma das ideias ou sentimentos expressos no poema? Explique.
QUESTÃO 4
A metáfora “perdido tempo” simboliza no poema
(A) as oportunidades futuras.
(B) o presente que o eu lírico vive.
(C) as lembranças e as experiências.
(D) a passagem do tempo natural.
QUESTÃO 5
O chamado dos elementos da natureza (“os morros”, “as pedras”, “a água do rio”) indica
(A) a urgência de abandonar o presente.
(B) a força do presente sobre o passado.
(C) a conexão entre o eu lírico e sua memória.
(D) a falta de sentido na jornada do eu lírico.
Autoria: | Regina Cácia |
Formação: | Letras – Língua Portuguesa |
Componente Curricular: | Língua Portuguesa |
Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento: | (EJALP0422) Identificar o efeito de sentido produzido pelos elementos linguísticos, semióticos e estilísticos presentes nos diferentes gêneros textuais/discursivos (EJALP0423) Identificar os efeitos de sentido nos textos decorrentes de fenômenos léxico-semânticos, como as figuras de linguagem |
Referências: | DENÓFRIO, Darcy França. Retirando o véu de Ísis: contribuição às pesquisas sobre Cora Coralina. In: DENÓFRIO, Darcy França; CAMARGO, Goiandira Ortiz de (Orgs.). Cora Coralina: celebração da volta. Goiânia: Cânone Editorial, 2006. ELIAS, Norbert. A solidão dos moribundos seguido de envelhecer e morrer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. CORALINA, Cora. Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1965. CORALINA, Cora. O tesouro da Casa Velha da Ponte. 11. ed. São Paulo: Globo, 2001. |