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História – Registros da história: linguagens e culturas.

Olá, educando (a)! Esta videoaula de História foi veiculada na TV no dia 21 de Abril de 2021 (Quarta-Feira). Aqui no Portal Conexão Escola, ela está disponível juntamente com a proposta de atividade.

Esta aula procura, por meio de exemplos, diferenciar memória individual, memória coletiva e memória histórica.

Temática – Registros da história: linguagens e culturas. Disponível em: <https://cutt.ly/xzQPKtW>.

Assista a videoaula abaixo, com a temática –  História – Registros da história: linguagens e culturas.

5ª SÉRIE | Eaja |HISTÓRIA | PROF.: ANÍSIO FILHO

Como era bom aquele tempo!

Imagina se, de repente, você perdesse a memória! Não lembrasse mais de absolutamente nada! Nessas condições, se te perguntassem sobre o lugar onde você está, o que está fazendo, para onde vai quando sair daí, quem são seus parentes (pai, mãe, irmão, cônjuge…), você não saberia responder. Não saberia nem mesmo quem é você. A memória é um elemento que constitui nossa identidade, tanto individual quanto coletiva. É uma forma de lidarmos com o passado, por isso é um tema importante para a história.

Memória individual

O professor e historiador Leandro Karnal cria uma historinha que ilustra bem o fenômeno da memória.

“Imaginemos uma menina de 15 anos que esteja no seu baile de debutantes (será que ainda existem no século XXI?). Vestida de branco, emocionada, ela vive um momento muito especial. Música, amigas, um possível namorado, comida e muitos fatos para guardar e comentar. A festa é densamente fotografada e filmada. Passados dez anos, nossa protagonista ficcional chegou aos 25. Ela olha os filmes e as fotos e pode vir a considerar tudo de extremo mau gosto. Abrindo o álbum em meio a suspiros, poderia dizer: ‘Por que não fiz uma viagem com esse dinheiro?’. Passado mais meio século do baile, eis nossa personagem aos 65 anos. Já de cabelos brancos, ela abre o álbum amarelado e comenta com seus netos: ‘Olhem como eu era bonita! Que noite maravilhosa foi aquela!’” (KARNAL, 2007, p. 7-8).

Com esse exemplo, Karnal chama atenção de um fato. Houve um acontecimento: o baile de debutantes. Mas a memória para ele vai se transformando conforme a realidade do presente traz novas reflexões e imperativos. Essa é uma característica importante da forma como a memória lida com o passado, nela estão em jogo significados construídos sobre os acontecimentos. Esses significados mudam.

Memória coletiva

O exemplo anterior nos fala da memória de cada um individualmente. Mas também temos a memória coletiva que é compartilhada por um grupo – a sociedade brasileira, por exemplo. Essa memória coletiva nos informa que somos brasileiros e nos diz o que é o Brasil. Assim como o álbum de fotografia é um suporte que ajuda uma pessoa a lembrar o seu passado, a memória coletiva nos é lembrada pelos monumentos históricos, estátuas, bustos, edifícios públicos, museus, arquivos públicos, nomes de ruas, praças, narrativas dos heróis nacionais, etc.

Na memória coletiva, a construção de significados sobre os acontecimentos é bem mais complexa, está ligada às lutas políticas, sociais e culturais entre os diversos grupos sociais. Vamos falar isso através de um exemplo. No final de maio de 2020, nos Estados Unidos, um policial assassinou George Floyd, um homem negro, numa abordagem. Esse fato provocou uma onda de manifestações contra o racismo mundo a fora, os manifestantes elegeram como alvo estátuas de pessoas que, no passado, colaboraram com a escravidão. No dia 29 de junho de 2020 o jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, publicou em sua página na internet um texto do jornalista Carlos Corrêa sobre a derrubada da estátua de um traficante de escravos em Bristol, Inglaterra. Carlos Corrêa escreve:

“Mal sabia, mas no longínquo 13 de novembro de 1895, John Cassidy daria um passo importante para entrar na história, ainda que como coadjuvante. Naquele dia, o artista irlandês finalizava mais uma de suas esculturas, dessa vez homenageando o comerciante, filantropo e político inglês Edward Colston, falecido mais de um século antes, em 1721. Feita em bronze… em sua placa principal, dizia: ‘Erguida pelos cidadãos de Bristol como um memorial de um dos mais sábios e virtuosos filhos da cidade’. Só faltou contar que Colston também tinha um lado bem menos popular: era traficante de escravos. A reparação, que nunca veio por meios legais, acabou acontecendo exatos 45.497 dias depois quando, em 7 de junho [de 2020], manifestantes que protestavam contra o racismo e a violência policial contra negros derrubaram o monumento e o arrastaram pelas ruas da cidade antes de jogá-lo no fundo do rio…” (CORREA, 2020).

Veja só o que ele diz. Edward Colston morreu em 1721, em 1895 foi erguida uma estátua em sua homenagem pelos cidadãos de Bristol, em 2020 esta mesma estátua foi derrubada e jogada no rio também pelos cidadãos de Bristol. Veja que houve uma mudança de significado sobre a figura de Colston. Em 1895 ele era considerado “um dos mais sábios e virtuosos filhos da cidade” e em 2020 foi lembrado como um traficante de escravos. Essa mudança vincula-se às lutas políticas da sociedade. O período em que foi erguida a estátua era um momento de supremacia da raça branca, inclusive circulava pela Europa teorias científicas racistas que afirmavam a superioridade dessa raça, ter sido traficante de escravo naquela época não era nada demais. Passado mais de um século, as teorias racistas foram superadas e a escravização do povo negro foi tornando-se algo inaceitável, a organização e a luta dos negros contra o racismo avançou conquistando espaço político. Nesse cenário, ter sido um traficante de escravos é inadmissível.

E por que atacar as estátuas? O que elas têm a ver com o racismo? Justamente pelo valor simbólico, por serem um instrumento que nos ajudam a lembrar o passado. Manter uma estátua de um traficante de escravos é perpetuar a memória da escravidão e isso significa manter a legitimidade do racismo. As manifestações de 2020 nos lembraram da importância que tem os monumentos, estátuas, nomes de rua, museus, etc.: são meios que mantêm a memória do grupo e ela nunca é neutra, sempre está relacionada com as lutas pela supremacia na sociedade. Por isso as sociedades estão o tempo todo redefinindo o que será lembrado e o que será esquecido. Essas mudanças de significados dos acontecimentos e dos personagens do passado compõem o que chamamos de memória histórica.

Estátuas em Goiânia

Dito isso, vamos pensar um pouco sobre nossas estátuas? Num dos pontos mais importantes de Goiânia, o cruzamento da avenida Anhanguera com a avenida Goiás, temos um monumento, uma estátua. Quem está representado nela? Quando foi construída?

Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Munumento_Anhanguera_(Goi%C3%A2nia,_Brasil).jpg>.

É uma estátua que representa o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, considerado o descobridor do ouro em Goiás. Essa estátua foi construída em 1942. A figura do bandeirante é um exemplo de construção da memória coletiva.

Os bandeirantes são considerados heróis conquistadores do território, desbravadores. Mas você sabia que até o final do século XIX eles não eram personagens importantes da história brasileira? E nem mesmo o nome “bandeirante” era difundido? É no século XX que se constrói a imagem dos bandeirantes que conhecemos hoje.

O que aconteceu para que houvesse essa mudança na figura dos bandeirantes? Isso tem a ver com a ascensão econômica de São Paulo, que se tornou um estado importante a partir do século XIX. O estado começou um investimento na construção de uma narrativa que valorizava os feitos dos sertanistas, transformados em bandeirantes. No início do século XX, entrou em cena um personagem importante: o diretor do Museu Paulista Affonso Taunay. Com base nas pesquisas que fazia, Taunay encomendou várias obras de arte, como pinturas e estátuas, que criaram essa imagem que conhecemos hoje e podemos ver através do bandeirante no centro de Goiânia.

Mas por que criar a imagem dos bandeirantes como heróis? Você sabe que os bandeirantes saíram de São Paulo, não é. Isso tem a ver com o projeto político do estado. Para ser politicamente forte, era preciso ter uma narrativa que valorizasse os feitos daquele estado, que mostrasse a grandeza e o valor dos paulistas.

Na onda de protestos de 2020, os manifestantes protestaram contra as estátuas dos bandeirantes porque eles escravizaram indígenas. Percebe o quanto a memória coletiva está associada com as lutas políticas?

Atividade

Questão 1 – Faça uma lista dos monumentos públicos de sua cidade: estátuas, bustos, obeliscos, etc. Identifique quem são os homenageados por eles. Escolha o monumento que você achou mais interessante e faça uma pesquisa. Procure informações sobre o monumento e sobre o homenageado.


Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento(EAJAHI0508) Compreender o conceito de Memória (individual, coletiva e histórica).
Referências CORREA, Carlos. Derrubada de estátuas de figuras da escravidão provoca debate sobre reescrever o passado. Publicado em 29 de junho de 2020. Disponível em <https://cutt.ly/olbm3FV> Acesso em 17 de fevereiro de 2021.
KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 5.ed. São Paulo: Contexto, 2007.
VEIGA, Edison. Como os bandeirantes, cujas homenagens hoje são questionadas, foram alçados a ‘heróis paulistas’. Publicado em 20 de junho de 2020. Disponível em: <https://cutt.ly/qzYRDS4> Acesso em 11 de março de 2021.