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História – Registros da história: linguagens e culturas.

Olá! Esta aula de História é destinada a educandos da 5ª Série da Eaja.

Temática – História – Registros da história: linguagens e culturas. Disponível em: <https://pixabay.com/>. Acesso em 26 de Junho de 2021.

Essa aula constrói uma definição de fontes históricas a partir da ideia de vestígios dos fatos e apresenta uma metodologia usada pelos historiadores que pode significar procedimentos importantes para lidar com as informações cotidianas.


Assista a videoaula abaixo, com a temática –  História – Registros da história: linguagens e culturas.

5ª SÉRIE | Eaja |HISTÓRIA| PROF.: Anísio Filho

Fontes históricas

Como saber o que aconteceu no passado? Como contar a história de fatos que aconteceram a décadas, séculos e até milênios? Os acontecimentos não se repetem. Porém, eles deixam rastros, pistas, vestígios. É investigando esses vestígios que o historiador conta o que aconteceu. Os vestígios que o historiador utiliza são chamados de fontes históricas.

Você conhece Zadig? Investigando vestígios

Olha que história interessante, retirada do livro Visões da liberdade, do historiador Sidney Chaulhoub:

Zadig é um sábio da Babilônia que adquiriu grande sagacidade na observação da natureza, protagonista do livro Zadig ou o destino, do filósofo francês Voltaire, publicado pela primeira vez em 1747.

“Certo dia, [Zadig] passeava na orla de um bosque quando viu aproximarem-se, esbaforidos, um eunuco da rainha e vários oficiais. Os homens pareciam à procura de alguma preciosidade perdida. Com efeito, o eunuco perguntou a Zadig se ele não tinha visto o cachorro da rainha, que estava desaparecido; este respondeu-lhe com uma correção: tratava-se de uma cadela, e não de um cachorro. E prosseguiu: ‘é uma cachorrinha de caça que deu cria há pouco tempo; manqueja da pata dianteira esquerda e tem orelhas muito compridas’. ‘Viu-a então?’, voltou a perguntar, impaciente, o eunuco. ‘Não’, respondeu Zadig, ‘nunca a vi e nem mesmo sabia que a rainha tivesse uma cadela’”. (CHAULHOUB, 1990, pág. 13)

Depois de ser preso, acusado de roubo, e inocentado, Zadig foi multado por dizer que não viu o que tinha visto. Depois que pagou a multa, os juízes aceitaram ouvir as explicações do sábio:

“‘[…] juro-vos […] que nunca vi a respeitável cadela da rainha… Aqui está o que me sucedeu: andava eu passeando pelo pequeno bosque onde depois encontrei o venerável eunuco… Percebi na areia pegadas de um animal, e facilmente concluí serem as de um cão. Leves e longos sulcos, visíveis nas ondulações da areia entre os vestígios das patas, revelaram-se tratar-se de uma cadela com as tetas pendentes, e que, portanto, devia ter dado cria poucos dias antes. Outros traços em sentido diferente, sempre marcando a superfície da areia ao lado das patas dianteiras, acusavam ter ela orelhas muito grandes; e como além disso notei que as impressões de uma das patas eram menos fundas que as das outras três, deduzi que a cadela da nossa augusta rainha manquejava um pouco […]’” (CHAULHOUB, 1990, pág. 14).

Você conhece alguém tão observador que se parece com Zadig?

Essa história lembra-nos de um fato importante: todo acontecimento deixa rastros. Vivemos cercados por esses rastros e se observarmos bem podemos deduzir muita coisa que acontece em nosso cotidiano. Nem todo mundo desenvolve essa capacidade como nosso sábio, mas todos nós, em alguma medida, investigamos pistas deixadas pelos acontecimentos, não é mesmo? O importante é você perceber que através da investigação atenta e criteriosa dos vestígios deixados pelos acontecimentos é possível saber com segurança o que aconteceu no passado.

Um exercício rápido

1 – Certamente você já viveu alguma situação em que desvendou um acontecimento observando os sinais. Conte qual foi o acontecimento e como você fez para descobrir.

2 – Se isso nunca aconteceu com você, comece a observar os sinais que os acontecimentos do dia a dia deixam à sua volta. Escreva alguns exemplos no caderno.

De vestígios a fontes históricas

Apesar de todo acontecimento deixar rastros, nem sempre eles deixam rastros que duram décadas, séculos ou milênios, as pistas de muitos acontecimentos se perdem com o tempo. Toda ação humana para ser transformada em história deixou vestígios duradouros para a posteridade, que foram encontrados e estudados pelo historiador, ou seja, tornaram-se fontes históricas. Não há trabalho do historiador sem fontes. Documentos escritos – correspondências, ofícios, leis, documentos produzidos em cartório, etc. –, fotografias, desenhos, filmes, até livros de ficção, utensílios domésticos, ferramentas, obras de arte, depoimento oral, enfim, qualquer material pode ser útil para o historiador a depender do que ele está investigando. Fonte histórica, portanto, é todo vestígio do passado usado pelo historiador em sua pesquisa. Mas nem sempre foi assim, no século XIX, os historiadores consideravam fonte histórica os documentos escritos, principalmente os produzidos pelos governos. Com o tempo, eles foram ampliando o leque de objetos considerados fontes históricas. 

E como o historiador lida com a fonte histórica?

Todos nós investigamos vestígios deixados pelos acontecimentos, mas os historiadores fazem isso de um modo diferente. Como, então, o historiador lida com as fontes históricas?

Em primeiro lugar, ele tem consciência da centralidade da fonte. Não há história sem fonte. Só os acontecimentos que deixam algum rastro é que podem se tornar história. A fonte é um balizador de limites para o trabalho do historiador, ela diz até onde ele pode ir. 

Em segundo lugar, apesar dessa centralidade, a fonte não tem valor em si mesma. Ou seja, uma fonte só adquire valor – só se torna importante – a partir do uso que o historiador faz dela. Ela não fala por si nem diz o que o historiador deve dizer, as informações que a fonte histórica fornece depende das perguntas que o historiador faz para ela.

A partir desses dois princípios, o historiador desconfia da fonte e submete-a a provas de veracidade. É preciso saber se aquilo que está na fonte é verdade ou mentira. Ele precisa conhecer todo o seu processo de produção, saber como, onde, quando, por quê, por quem, para que foi produzida. Mas é importante observar que é preciso provar se é verdade ou mentira não para validar ou invalidar o uso. Dito de forma mais clara, às vezes, o historiador descobre que uma fonte é mentirosa, mas ela continua sendo importante para a história.

Te dou um exemplo. Você já ouviu falar dos casos de gatos no futebol. Os gatos são jogadores que falsificaram seus documentos para parecerem mais novos. Vamos imaginar que um gato desses faça muito sucesso e ganhe todos os títulos possíveis num grande clube europeu. Vá para seleção brasileira e ganhe inclusive a copa do mundo. Cem anos depois, um historiador pesquisando sobre esse jogador descobre que os documentos que ele usou em toda a sua carreira eram falsos. Se esse historiador deixar de lado esses documentos, ele não vai chegar à verdade.

Desconfiar da fonte também implica na consciência de que toda fonte é incompleta, insuficiente, cheia de lacunas que o historiador precisa preencher. Por isso mesmo ele confronta-a com outras fontes. Cada tipo de fonte traz dimensões específicas para a história que está sendo contada. É difícil ter uma pesquisa de história com qualidade que use um tipo de fonte apenas. 

Por fim, o historiador usa a teoria. E aqui você pode se espantar com esse palavrão. Teoria… O que é isso? Teoria não é coisa de cientista? Sim, mas o historiador é um cientista. Vamos combinar o seguinte: teoria, neste caso, significa todo o conhecimento produzido sobre o tema investigado. No exemplo acima, do historiador que estudava o jogador de futebol, a teoria seria todas as pesquisas feitas sobre a história do futebol. E a teoria inclui também os estudos que os historiadores já fizeram sobre como deve ser a pesquisa em história.

Pois bem, a relação do historiador com a fonte se dá mediada pela teoria. É lá que ele busca as perguntas a se fazer para a fonte. É na teoria que o historiador encontra os instrumentos que fazem a fonte falar alguma coisa de valor para a história. O conhecimento que a fonte traz a respeito do acontecimento é limitado. Os documentos de uma pessoa, como os do jogador do nosso exemplo, limita-se a informar alguns dados da vida dela somente. À história interessa conectar essa visão limitada de toda fonte com um contexto mais amplo ao qual o acontecimento está ligado. Interessa para a história, mostrar que aquela vida singular está ligada a uma coletividade maior. É na teoria que o historiador encontra as possibilidades de fazer essa conexão, extraindo da fonte o sentido histórico do acontecimento.

Mas eu não quero ser historiador, para que saber disso? Você pode me perguntar, impaciente. Ora, ora, eu lhe diria, todos os dias somos bombardeados por informações, a todo momento recebemos apelos do marketing, da publicidade, da política, etc. Todos esses reclames reivindicam para si a verdade. O cotidiano nesse mundo da informação é um duelo pela verdade. Todo o procedimento do historiador com a fonte histórica é para esclarecer a verdade sobre os fatos! Então, podemos aplicar esse procedimento para lidar com toda informação que nos chega.

Atividade

Questão 1. Essa metodologia que o historiador usa pode lhe ajudar no seu dia a dia. Quero propor um exercício que você possa levar para a vida inteira. Para toda informação que chegar até você, aplique esse procedimento.

1. Identifique a fonte da informação e desconfie dela.

2. Procure saber como, onde, quando, por quê, por quem, para que ela foi produzida.

3. Procure outras fontes, pelo menos mais duas, para comparar com essa que você tem às mãos.

4. Por fim, relacione a informação com o conhecimento que já existe sobre o assunto. Lembre-se: quanto mais você conhecer sobre o assunto, mais você terá condições de interpretar bem a informação.


Eaja – Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento:(EAJAHI0509) Compreender o conceito de fontes históricas.
Referências: CHAULHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
KOSELLECK, Reinhart. Ponto de vista, perspectiva e temporalidade – Contribuição à apreensão historiográfica da história. In: ______. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Tradução Wilma Patrícia Maas, Carlos Almeida Pereira. Rio de Janeiro: Contraponto, Ed. PUC-Rio, 2006.
SILVA, Kalina Vanderlei. SILVA, Maciel Henrique. Fonte histórica [verbete] In: Dicionário de conceitos históricos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2009.