Olá, educando (a)! Esta videoaula de Língua Portuguesa para o Agrupamento H (8º ano) do Ciclo da Adolescência foi veiculada na TV no dia 03/08/2021 (Quarta-feira). Aqui no Portal Conexão Escola, ela está disponível juntamente com a proposta de atividade.
Assista a videoaula do professor Marlon com a temática: Tipos de Discurso.
Olá! Nesta aula você irá estudar sobre os tipos de discurso. Mas, antes, leia a crônica de Moacyr Scliar.
Os óculos mágicos
Quando eu era criança tive um problema. Melhor dizendo, tive vários problemas, mas havia um que era bem chato. Eu precisava usar óculos. Meus pais tinham me levado num médico especialista em olhos e ele, depois de me examinar, fez o anúncio em tom solene: “Você tem que usar óculos”, disse, e entregou a receita ao meu pai.
Bem, que eu precisava usar óculos, isso eu já sabia. Porque a verdade é que eu não enxergava bem. Na aula, tinha de sentar na primeira fila e, mesmo assim, às vezes não conseguia ler o que a professora escrevia na lousa. Mais: vivia dando topadas por toda a parte, tanto que minhas pernas estavam todas esfoladas.
Claro que eu precisava de óculos. Só que eu não queria usar óculos. Achava que todo o mundo iria debochar de mim, que me dariam apelidos, tipo: Quatro Olhos. Meu pai, minha mãe e minha irmã mais velha, a Teresa, insistiram, lembraram o que o médico tinha falado. Inútil.
“Não uso óculos e está acabado!”, eu dizia.
Bom, hoje uso óculos. Vocês perguntarão: mas, então, você mudou? Mudei. E mudei graças à vó Cornélia.
Vó Cornélia era a mãe do meu pai. Eu não a via muito seguidamente; ela morava no interior e só de vez em quando aparecia para nos visitar. Mas, quando vinha, era um acontecimento, principalmente para mim. Porque a vó Cornélia, uma velhinha miúda, magrinha, tinha fama de feiticeira. Todo o mundo dizia que ela podia fazer mágicas incríveis. O meu sonho era ver alguma mágica da vó Cornélia.
Logo depois da consulta ao médico ela veio nos visitar. Nos primeiros dias correu tudo normal, como se ela fosse uma avó igual às outras. Mas uma noite me chamou. Disse que tinha um presente especial para mim e me deu uma caixa plástica. Abri, e o que havia lá dentro? Óculos.
“Estes óculos são mágicos”, ela disse. “Se você usá-los sempre, de repente vai ver coisas maravilhosas, coisas que você nunca viu antes.”
Foi assim que comecei a usar óculos. E nunca mais parei.
A vó Cornélia morreu há muito tempo. E vocês perguntarão: e aquela história da mágica, era mentira dela?
Não, não era mentira. Ou, pelo menos, não era totalmente mentira. Porque os óculos foram mágicos para mim. Agora eu podia enxergar direito e podia ver coisas que nunca tinha visto antes. Com os óculos eu tinha descoberto a magia da vida.
SCLIAR, Moacyr. Os óculos mágicos. Folha de São Paulo, 26 fev. 2005. Folhinha.
O texto que você acabou de ler é uma crônica poética, pois narra acontecimentos com uma linguagem mais poética ao se referir a assuntos emocionantes, sentimentais ou nostálgicos.
Nessa história, o narrador personagem conta uma história de quando era criança. Ele precisava de óculos, mas não queria usá-los. Esse é o conflito da narrativa, que foi resolvido com a ajuda de sua avó que até foi visitá-lo. O desfecho da história acontece com o convencimento do neto pela avó, dizendo que eram mágicos aqueles óculos. Assim, ele nunca mais deixou de usá-los.
Você percebeu que para organizar as falas das personagens no texto, sempre tinha algum verbo fazendo esse anúncio?
“Estes óculos são mágicos”, ela disse.
Esses verbos são chamados de verbos de elocução ou dicendi. Eles têm essa função de atribuir sentido às ações discursivas das personagens. Alguns exemplos desses verbos são: falar, dizer, perguntar, indagar, afirmar, responder, replicar, comentar, argumentar, exclamar, pedir, implorar, entre outros.
Acompanhados pelos verbos de elocução, aparecem no texto os discursos. Isso acontece no texto para organizar quando a fala é dita diretamente pela personagem ou quando é dita por meio do narrador, por exemplo. Veja:
Discurso direto: é a transcrição exata das falas das personagens, sem a participação do narrador. É o mais natural e comum dos tipos de discurso. Essa fala das personagens é anunciada por um verbo de dizer (dicendi), ou seja, um verbo de elocução. Esse verbo pode aparecer antes, no meio ou depois da fala direta.
“Não uso óculos e está acabado!”, eu dizia.
“Estes óculos são mágicos”, ela disse.
Veja outra possibilidade em que o discurso direto é introduzido por verbos de elocução que o anunciam. A seguir a esses verbos aparecem dois-pontos e há mudança de linha para o começo da fala da personagem, que é iniciada por um travessão. Esta estrutura é a mais tradicional.
Ela disse:
– Estes óculos são mágicos.
Discurso indireto: a apresentação das falas das personagens feita pelas palavras do narrador. Assim, é sempre feito na 3.ª pessoa, nunca na 1.ª pessoa. O discurso indireto é, também, introduzido por verbos de elocução que anunciam o discurso. A seguir a esses verbos aparecem conjunções (como as conjunções que e se), que marcam a separação da fala do narrador e da fala da personagem transmitida pelo narrador.
Assim, a estrutura básica do discurso indireto é: fala do narrador + verbo de elocução + conjunção + fala da personagem pelas palavras do narrador.
Mas uma noite me chamou. Disse que tinha um presente especial para mim e me deu uma caixa plástica. Abri, e o que havia lá dentro? Óculos.
Você observou que no exemplo acima, a presença do que evidencia o que foi dito pelo pai, só que por intermédio do narrador. Logo, a fala da personagem é dita de maneira indireta. Ainda, os verbos estão conjugados no pretérito perfeito e no pretérito imperfeito do indicativo (disse, tinha, deu). Agora, observe como essa mesma fala no discurso indireto pode ser recriada no discurso direto.
Mas uma noite me chamou e disse:
– Tenho um presente especial para você. Tome essa caixa.
Abri a caixa plástica e o que havia lá dentro? Óculos.
Conseguiu observar a diferença entre os dois tipos de discurso?
Observe também que no discurso indireto, as frases interrogativas e exclamativas se transformam em declarativas e os vocativos desaparecem? Compare os dois exemplos a seguir:
- Discurso direto: “Estes óculos são mágicos: você verá coisas que nunca viu antes”, ela (a avó) disse.
- Discurso indireto: A avó disse-lhe que aqueles óculos eram mágicos e que ele veria coisas que nunca vira antes.
Discurso indireto livre: é a apresentação das falas das personagens inseridas dentro do discurso do narrador. É o mais difícil e o mais dinâmico dos tipos de discurso. O discurso indireto livre não é introduzido por verbos de elocução, nem por sinais de pontuação ou conjunções. Não apresenta, assim, uma estrutura, sendo um discurso dinâmico. No discurso indireto livre é difícil delimitar o início e o fim do discurso da personagem, uma vez que se confunde, por vezes, com o discurso do narrador, que tem todo o conhecimento das falas e sentimentos das personagens. Em resumo, vemos uma combinação dos dois discursos: direto e indireto.
Mas uma noite me chamou. Disse que tinha um presente especial para mim e me deu uma caixa plástica. Abri, e o que havia lá dentro? Óculos.
O termo em destaque no exemplo acima trata-se de um discurso indireto livre, pois não apresenta as palavras que e se para indicar as falas das personagens, não apresenta os verbos dicendi, mas há o ponto de interrogação evidenciando a pergunta do personagem, por exemplo.
Agora, é hora de praticar!
Atividade 1
1. Releia os trechos da crônica estudada e transforme-os do discurso indireto para o direto, fazendo as adaptações necessárias.
a) “Meu pai, minha mãe e minha irmã mais velha, a Teresa, insistiram, lembraram o que o médico tinha falado.”
b) “Todo mundo dizia que ela podia fazer mágicas incríveis”.
Atividade 2
2. Que tal aproveitar a ideia da crônica em que há uma história entre avó e neto, aquela boa história da infância? Conte um relato pessoal seu com seus avós e empregue essas variedades do discurso em seu texto. Depois de concluir sua narrativa, leia para sua família. Certamente, será uma experiência muito legal.
Parabéns! Você finalizou a atividade de Língua Portuguesa. Até a próxima!
Componente Curricular | Habilidades |
Língua Portuguesa | Estruturantes (EF35LP30) Diferenciar discurso indireto e discurso direto, determinando o efeito de sentido de verbos de enunciação e explicando o uso de variedades linguísticas no discurso direto, quando for o caso. (EF89LP05) Analisar o efeito de sentido produzido pelo uso, em textos, de recurso a formas de apropriação textual (paráfrases, citações, discurso direto, indireto ou indireto livre). |