Esta atividade de Língua Portuguesa, que tem como base os descritores do Programa Minha Escola é Nota 10 (MEN10) – Goiânia e o DC/GO – Ampliado, está destinada a estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental.
Todo texto é organizado em partes, como introdução, desenvolvimento e conclusão, e essas partes precisam estar interligadas umas às outras para fazer do texto um todo coeso e coerente. Reconhecer a função dos elementos que dão continuidade ao texto é importante para obter esse efeito de coesão e coerência do texto.
Para compreender e identificar os elementos de continuidade do texto, você deve identificar quais palavras estão sendo substituídas e/ou repetidas nele e compreender seu sentido. Uma dica é observar as identificações que podem aparecer no texto pelo uso de pronomes ou sinônimos.
Veja um exemplo:
Patrícia era uma menina muito bonita e esperta. A linda garota decidiu participar do concurso de beleza de seu bairro. As outras garotas da vizinhança ficaram sabendo que ela entraria na concorrência. E agora? Quem conseguiria ser mais bela que Patrícia?
No texto acima, conseguimos observar alguns elementos de retomada que conferem progressão ao texto, trazendo parte dos elementos apresentados anteriormente para apresentar uma nova informação. Por exemplo, na primeira sentença há algumas informações sobre Patrícia: menina, bonita, esperta. Na sentença seguinte, o autor do texto se referiu a ela como “linda garota”, evitando repetir o nome próprio e apresentando sinônimos para “menina” e “bonita”. Além do mais, essa retomada serve para apresentar uma nova informação no texto (ela decidiu participar do concurso de beleza do bairro) que, por sua vez, provoca uma reação em outras personagens, expressa na sentença seguinte. Observe também que o pronome pessoal “ela”, na terceira sentença do texto, está se referindo à Patrícia, evitando, mais uma vez, a repetição do nome próprio. No decorrer do texto, essas retomadas vão se inter-relacionando, fazendo dele uma unidade.
Assista à videoaula do professor Marlon Santos com essa temática.
Responda às questões a seguir.
Leia um trecho de “O Mercador de Veneza”, de Shakespeare, para responder às questões.
ATO I
Cena II
Belmonte. Um quarto em casa de Pórcia. Entram Pórcia e Nerissa.
PÓRCIA – Por minha fé, Nerissa, este mundo grande cansa-me o pequeno corpo.
NERISSA – Isso se daria, estimada senhora, se vossos incômodos fossem tão numerosos quanto vossas venturas. Aliás, por tudo quanto vejo, tanto se adoece por comer em excesso como por definhar à míngua. Não é, por conseguinte, ventura despicienda encontrarmo-nos em uma situação mediana. A superfluidade chega mais cedo aos cabelos brancos, mas a modicidade vive mais tempo.
PÓRCIA – Belas sentenças e ótima dicção.
NERISSA – Melhores ainda seriam as sentenças, se fossem postas em prática.
PÓRCIA – Se fazer fosse tão fácil como saber o que se deve fazer bem, as capelas teriam sido igrejas e as choupanas dos pobres, palácios principescos. Bom predicador é o que segue suas próprias instruções. É-me mais fácil ensinar a vinte pessoas como devem comportar-se, do que ser uma das vinte, para seguir a minha própria doutrina. O cérebro pode inventar leis para o sangue, mas os temperamentos ardentes saltam por cima de um decreto frio. A senhorita loucura é uma lebre que pula por sobre a rede do bom conselho, o coxo. Mas esse raciocínio é inadequado para ajudar-me na escolha de um marido. Mas, ai de mim! “Escolha” é modo de dizer. Não está em mim nem escolher quem eu desejara, nem recusar quem me desagradar. Desse modo, dobra-se a vontade de uma filha viva ante a de um pai morto. Não é duro, Nerissa, não podermos escolher nem recusar ninguém?
NERISSA – Vosso pai foi sempre virtuoso, e as pessoas assim pias ao morrerem têm inspirações felizes. Por isso, a loteria concebida por ele, dos três cofres, de ouro, prata e chumbo, com a afirmativa de que quem escolhesse segundo o seu modo de pensar vos escolheria também, sem dúvida alguma só poderá ser ganha por quem vos ame verdadeiramente. Mas a que ponto vos sentis inclinada para qualquer dos pretendentes principescos que já se fizeram anunciar?
PÓRCIA – Enumera-mos, por obséquio, que os descreverei, à medida que os nomeares. Da descrição que eu fizer, deduzirás o grau de minha inclinação.
NERISSA – Primeiro, temos o príncipe napolitano.
PÓRCIA – Oh! Não passa de um potro xucro, porque toda sua conversa só gira em torno de cavalos, considerando ele especial atributo de suas boas qualidades saber ele mesmo ferrá-los. Receio muito que a senhora mãe dele haja prevaricado com algum ferreiro.
NERISSA – Depois, temos o conde palatino.
PÓRCIA – Esse anda sempre de sobrecenho fechado, como se estivesse a dizer: “Se não me quiserdes escolher, decidi logo”. Ouve histórias alegres sem sorrir; receio que, ao envelhecer, se torne filósofo chorão, já que na mocidade revela tão selvagem sisudez. Prefiro desposar uma caveira com um osso na boca a escolher um qualquer desses pretendentes. Deus me defenda de ambos.
NERISSA – E que dizeis do senhor francês, Monsieur Le Bon?
PÓRCIA – Foi Deus que o fez; por isso, que passe por criatura humana. Em verdade, sei perfeitamente que é pecado zombar. Mas esse! Possui um cavalo melhor do que o do napolitano, sendo o seu mau hábito de franzir o sobrolho mais suportável do que o do conde palatino. É todo o mundo e ninguém. Se um tordo canta, põe-se a fazer cabriolas; se casar com ele, casarei com vinte maridos. Se ele me desprezar, perdoar-lhe-ei, porque ainda que me amasse até à loucura, jamais poderia retribuir-lhe o amor.
NERISSA – Que dizeis, então, de Falconbridge, o jovem barão da Inglaterra?
PÓRCIA – Bem sabeis que dele nada posso dizer, porque nem ele me compreende, nem eu a ele. Não fala nem latim, nem francês, nem italiano, assim como podeis prestar juramento no Tribunal de Justiça em como não possuo um só real da língua inglesa. É um belo retrato de homem; mas quem poderá conversar com uma figura de pantomima? E que maneira extravagante de vestir-se! Suspeito que comprou o gibão na Itália, os calções largos na França, o gorro na Alemanha e suas maneiras em toda parte.
NERISSA – Que pensais do senhor escocês, seu vizinho?
SHAKESPEARE, W. O mercador de Veneza. Domínio público. Disponível em:<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000094.pdf > Acesso em: 20, out. 2023
QUESTÃO 1
O texto de Shakespeare é uma peça teatral escrita no final do século XVI e, por isso, apresenta uma linguagem em que o leitor pode apresentar certas dificuldades de compreensão. Quando nos deparamos com uma situação como essa, é válido recorrermos ao bom dicionário de sinônimos para irmos contextualizando e compreendendo o texto. Sabendo disso, pesquise em um dicionário de significados e em um dicionário de sinônimos, físico ou digital, o significado e alguns sinônimos para aquelas palavras que você desconhece no trecho da peça teatral de Shakespeare.
QUESTÃO 2
No trecho da cena II, as personagens Pórcia e Nerissa dialogam sobre:
(A) a dificuldade em encontrar um namorado carinhoso.
(B) um pretendente de Pórcia que lhe desencanta muito.
(C) a necessidade e a indisposição de Pórcia para escolher um marido.
(D) o que alguém deve fazer de bom em sua juventude para viver mais tempo.
QUESTÃO 3
No trecho “NERISSA – Isso se daria, estimada senhora, se vossos incômodos fossem tão numerosos quanto vossas venturas”, o termo destacado está se referindo:
(A) ao cansaço e desânimo de Pórcia.
(B) ao futuro de Pórcia.
(C) à fé de Pórcia.
(D) à percepção de Nerissa.
QUESTÃO 4
Reescreva o seguinte texto realizando substituições de substantivos e adjetivos por sinônimos equivalentes ou substantivos por pronomes que promovam uma melhor relação entre suas partes.
Pórcia é uma jovem rica, bonita e sábia herdeira que tem sua herança associada à loteria deixada pelo seu pai em um testamento. A jovem bonita Pórcia, que vive de muito dinheiro e regalias, conversa com Nerissa, sua empregada, sobre seu desânimo para cumprir a exigência deixada pelo seu pai em um testamento. Nerissa conversa muito com a sábia Pórcia sobre os pretendentes, e Pórcia não se agrada de nenhum pretendente que Nerissa lhe traz à memória. Como essa questão se resolverá?
Autoria: | Marlon Santos |
Formação: | Letras – Português |
Componente curricular: | Língua Portuguesa |
Habilidade estruturante: | (EF07LP13) Estabelecer relações entre partes do texto, identificando substituições lexicais (de substantivos por sinônimos) ou pronominais (uso de pronomes anafóricos – pessoais, possessivos e demonstrativos), que contribuem para a continuidade do texto. |
Referências: | Documento Curricular para Goiás (DC-GO). Goiânia/GO: CONSED/ UNDIME Goiás, 2018. Disponível em: <https://cee.go.gov.br> Acesso em: 01, set. 2023 |