Esta atividade de Língua Portuguesa tem como base as sequências didáticas propostas pelo Programa Aprender Sempre, da SME-Goiânia, com base no DC/GO – Ampliado e está destinada a estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental.
A literatura reflete os valores, a cultura de um povo. Com o passar do tempo, certos textos literários vão se cristalizando na sociedade e tornam-se clássicos.
Um clássico da literatura é aquele texto atemporal, ou seja, seus temas nunca saem de moda, como diz a escritora Ana Maria Machado. Os clássicos são textos universais e que servem de inspiração para tantas outras histórias. Certamente, você já deve ter ouvido falar de Romeu e Julieta. Há muitas histórias, atrações artísticas e filmes, por exemplo, que têm por inspiração o clássico Romeu e Julieta, de William Shakespeare, um clássico.
Na literatura brasileira temos vários clássicos, como: “O Alienista”, de Machado de Assis, “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, “Quarto de Despejo – Diário de uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus, “Iracema”, de José de Alencar, “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo, “O Quinze”, de Rachel de Queiroz, “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos e “Ciranda de Pedra”, de Lygia Fagundes Telles, por exemplo.
Mas, como podemos fazer um clássico circular na sociedade e, ainda, ter sua linguagem, que às vezes é bem rebuscada, compreendida pelo leitor? O clube de leitura pode ser uma boa alternativa.
O clube de leitura diz respeito a um grupo de pessoas que decide ler o mesmo livro, no mesmo período, para, em um encontro, discutir a obra selecionada. Esse momento pode ser muito prazeroso, uma vez que os participantes compartilham suas impressões sobre o livro e dialogam sobre elas com os demais. A ideia do clube de leitura pode se difundir para outras manifestações artísticas, como filmes e séries, por exemplo.
Você participa ou já participou de algum clube de leitura? Essa possibilidade pode oferecer um mundo de descobertas a partir do texto literário.
Assista à videoaula do professor Marlon Santos com essa temática.
Responda às questões a seguir.
Leia o segundo capítulo do clássico de José de Alencar: Iracema.
Iracema
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.
Iracema saiu do banho: o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturbase.
Diante dela e todo a contemplá-la está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.
Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.
De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d’alma que da ferida.
O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara.
A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada.
O guerreiro falou:
— Quebras comigo a flecha da paz?
— Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu?
— Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus.
— Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema.
ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Ática, 1991
QUESTÃO 1
No decorrer do texto é possível identificar vários elementos que confirmam a origem indígena de Iracema. Destaque alguns desses elementos.
QUESTÃO 2
Para caracterizar Iracema, o narrador tece uma série de comparações. De maneira global, a personagem é comparada com o quê? Apresente um exemplo retirado do texto que comprove sua resposta.
QUESTÃO 3
Ao realizar a leitura do fragmento, é possível perceber que a cena descrita está situada em um tempo muito distante do nosso presente. Iracema vive na floresta e tem costumes relacionados à vida nesse ambiente.
a) Se o narrador fosse apresentar a personagem Iracema em uma metrópole, na atualidade, o que seria alterado no texto?
b) Reescreva os cinco primeiros parágrafos do texto adequando-o ao contexto atual, no espaço urbano.
Releia o seguinte trecho para responder às questões 4 e 5.
O guerreiro falou: — Quebras comigo a flecha da paz? — Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu? — Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus.
QUESTÃO 4
De acordo com as pistas textuais sobre o contexto sócio-histórico, qual é a origem do guerreiro branco?
(A) Portuguesa
(B) Norte-americana
(C) Brasileira
(D) Inglesa
QUESTÃO 5
Podemos constatar que a obra “Iracema” dialoga com qual acontecimento sócio-histórico do Brasil?
(A) Colonização do Brasil pelos portugueses.
(B) Proclamação da República.
(C) Independência do Brasil.
(D) Tráfico negreiro.
QUESTÃO 6
José de Alencar foi um grande escritor do século XIX. Pertencente ao movimento literário chamado Romantismo, o romancista escreveu grandes clássicos como “Iracema”, “O Guarani”, “Senhora”, “A Viuvinha” e “Lucíola”.
A) Faça uma pesquisa em livros ou na internet sobre a vida de José de Alencar e sua contribuição para a cultura brasileira.
B) Em um clube de leitura, os membros fazem a curadoria de livros para serem lidos e debatidos posteriormente. Pesquise sobre algumas obras de José de Alencar e faça a indicação daquele que mais chamou sua atenção para um eventual clube de leitura. Para isso, justifique sua escolha.
Autoria: | Marlon Santos |
Formação: | Letras – Português |
Componente curricular: | Língua Portuguesa |
Habilidades estruturantes: | (EF69LP46) Participar de práticas de compartilhamento de leitura/recepção de obras literárias/ manifestações artísticas, como rodas de leitura, clubes de leitura, eventos de contação de histórias, de leituras dramáticas, de apresentações teatrais, musicais e de filmes, cineclubes, festivais de vídeo, saraus, slams, canais de booktubers, redes sociais temáticas (de leitores, de cinéfilos, de música etc.), entre outros, tecendo, quando possível, comentários de ordem estética e afetiva. (EF69LP44-A) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo em textos literários. (EF69LP44-B) Reconhecer, em textos literários, formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas, considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção. |
Referências: | ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Ática, 1991. GOIÂNIA. Secretaria Municipal de Educação. Aprender Sempre. 6° ao 9º ano – Ensino Fundamental; Língua Portuguesa; 3° Bimestre; Goiânia, 2022. |