Olá, estudante! Esta videoaula de Língua Portuguesa para o 9º ano do Ensino Fundamental foi veiculada na TV no dia 02/09/2021 (quinta-feira). Aqui no Portal Conexão Escola, ela está disponível juntamente com a proposta de atividade.
Ler é muito mais que decodificar palavras em um texto. A leitura ultrapassa a união de sílabas e palavras. Ler é atribuir sentidos. Reflita, neste estudo, sobre o que é leitura. Bons estudos!
Assista agora a videoaula do professor Marlon Santos com a temática leitura de textos multissemióticos.
Muitas pessoas acreditam que ler significa apenas decodificar textos, isto é, unir sílabas e reproduzir palavras dispostas em frases. A leitura ultrapassa esse nível de decodificação de códigos.
A seguir, veja algumas citações de renomados escritores a respeito da leitura:
“O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.” (Pe. Antônio Vieira)
“É preciso ler isto, não com os olhos, mas com a memória e a imaginação.” (Machado de Assis)
“O bom leitor lê sentidos. Quanto mais uma criança se apega ao sentido, melhor leitora ela será.” (Marina Colasanti)
As frases acima abordam o universo da leitura. A primeira, do Padre Antônio Vieira, fala a respeito do livro, que tem capacidade inesperadas de alcance do outro: o leitor. Já a frase de Machado de Assis incentiva o leitor a utilizar mais que os olhos para ler, isto é, ultrapassar a mera decodificação das palavras. Ele sugere que o leitor leia com a memória e a imaginação. Nesse sentido, a leitura é uma experiência. Marina Colasanti, por sua vez, amplia o olhar para a leitura, dizendo que o bom leitor lê sentidos, isto é, aos efeitos que os sentidos das palavras vão causando no próprio leitor.
Essas citações colaboram para a compreensão de que a leitura é uma atividade mais complexa do que, simplesmente, reproduzir palavras em um bloco textual, nem apenas compreender o que está dito, mas, sim, compreender o não dito, as entrelinhas e o implícito do texto.
Ao falar em texto, é natural pensar que ele é um conjunto de frases e parágrafos, em que a palavra escrita organiza uma história, um ponto de vista, alguma comunicação. Contudo, o texto ultrapassa o nível da palavra. Dessa forma, pode ser constituído de linguagem verbal e não verbal, carregando em si multimodos de ser construído e refletindo muitos sentidos. Assim, pode-se ter textos que utilizam apenas a linguagem verbal (a palavra, falada ou escrita), como também textos que mesclam e linguagem não verbal, como uma tirinha, uma história em quadrinhos, gráficos, infográficos e tantos outros. Além disso, a pintura, o desenho, o grafite e tantos outros elementos que são utilizados para a expressão humana em dado contexto, são considerados textos: os textos imagéticos.
Todo texto está carregado de valores, de intenções, de significados, ideologias, explícitos e implícitos. Tudo isso que o texto carrega deve ser lido, interpretado, considerado pelo leitor, de maneira crítica e competente. Assim, o ato da leitura é responsivo e ativo, uma vez que o leitor interage, dialoga com o texto e suas possibilidades.
O leitor crítico é aquele que analisa ativamente o texto, sua situação de produção, como quem fala, para quem fala, em qual contexto e momento histórico, com que intenção, por qual meio e como essas informações se relacionam.
Faça, agora, um exercício de leitura.
Leia o texto imagético, uma pintura de Almeida Júnior, intitulada “O Violeiro”.
Disponível em: https://www.flickr.com/photos/158004304@N05/46598126322
Inicie sua leitura partindo dos explícitos para os implícitos. Faça uma descrição de todos elementos que compõem a imagem: como o homem e a mulher estão caracterizados, o que estão fazendo, o que a expressão facial deles sugere, em que contexto podem estar inseridos, relacione o título com o texto. Em seguida, pesquise sobre contexto de produção e reflita sobre a produção deste texto imagético. Todo texto está carregado de intenções. Quais seriam as intenções desse texto? Todos esses movimentos sugeridos estão relacionados ao ato de ler.
O título da obra é “O Violeiro”. A viola é um grande símbolo da música sertaneja, que é cultivada em todas as regiões do Brasil. Na obra, temos o violeiro e uma mulher que o acompanha. Os dois são relativamente jovens, usam roupas simples. Ele é magro e ela um pouco mais gordinha. Os dois parecem envolvidos com a música. Enquanto ele está recostado na janela, toca a viola com os olhos fechados. Isso sugere que esteja concentrado, sendo tocado pela música. A mulher, com a boca aberta, dá ideia de que está cantando enquanto o violeiro toca, provavelmente uma música sertaneja. Ela parece estar à vontade, também encostada na janela, segurando um pano que rodeia seu pescoço. O pano de fundo dessa cena é uma casa antiga de barro. A janela é feita de madeira bem grossa. Pode ser a janela da sala ou de um quarto, por exemplo.
Na análise de uma obra, é muito importante situá-la na época de sua produção.
José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899) nasceu em Itu, São Paulo. Ele foi reconhecido por suas pinturas que inovou ao destacar as pessoas simples da sociedade do século XIX. Enquanto os artistas de sua época retratavam a burguesia, ele pintava as pessoas do interior, a cultura caipira. Essa característica, associada à época histórica de produção, pode significar que o artista reivindica mudanças sociais e políticas ao valorizar ou criticar aspectos da sociedade que vivia. Enquanto todos representam a nobreza, ele prefere dar espaço para as pessoas simples, do povo. Isso indica outras tendências artísticas daquele período, autenticidade e preocupação com as classes sociais não representadas na arte.
Leia, agora, o texto de Quino.
QUINO. Esto no es todo. Buenos Aires: Ediciones de La Flor, 2004. p. 84
Essa pequena história alia elementos verbais e não verbais para construir sentidos. Ao longo das sete cenas, apenas a última apresenta letras, formando, aparentemente, um cantarolar do personagem, pois associa notas musicais e desenhos.
Na primeira cena, é possível ver os personagens irritados com um barulho de música que vem, provavelmente, do apartamento superior. Entendemos isso devido às linhas de movimento com notas musicais na parte superior da cena.
Na segunda cena, o homem, vestido com um roupão e irritado, como pode-se depreender de sua expressão facial, está saindo do quarto. Perceba que cada cena vai revelando novas ações do personagem, criando um enredo que teve sua situação inicial, um problema e, agora, a tentativa de resolução da situação desagradável.
Veja a expressão facial da mulher na quinta cena. Ela sugere que a esposa está satisfeita pelo fato de a música ter cessado. Na sexta cena, o marido chega com uma expressão facial de felicidade. Pelo enredo, o leitor depreende que o motivo é o mesmo de sua esposa: o silêncio. Contudo, na última cena há uma quebra de expectativa. O marido pega todas suas roupas e sai, feliz e cantarolando.
Qual hipótese pode ser levantada?
Talvez ele esteja se mudando para o apartamento de cima, pois lá pode ser mais divertido ou porque conheceu algo ou alguém interessante lá. Essa sugestões podem acontecer porque o leitor não tem acesso ao que aconteceu no apartamento de cima, quando o marido foi até lá. Cabe ao leitor atribuir sentidos a partir das pistas textuais deixadas.
Agora é sua vez de praticar!
Atividade
Leia os dois poemas a seguir. Na sequência, relacione os dois, identificando suas semelhanças e diferenças. Depois disso, explique qual crítica o segundo poema faz em referência ao primeiro.
Texto 1
Meus oito anos
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Casimiro de Abreu
(ABREU, Casimiro de. As Primaveras. São Paulo: Ática, 2007.)
Texto 2
Meus oito anos
Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
De minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da Rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
Oswald de Andrade
(ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas. 5 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.)
Habilidade estruturante: | (EF69LP03-A) Compreender a relação de sentido entre imagem e texto verbal (multimodalidade) nos variados gêneros, por meio de recursos linguísticos e semióticos. (GO-EF89LP40) Explorar efeitos multissemióticos (linguagens verbal, não verbal, visual e sonora) em variados gêneros. |
Referências: | https://www.significados.com.br/leitura/ https://conceito.de/leitura |
Professor, essa aula segue a Matriz Curricular das Habilidades Estruturantes 2021-2021. Foi elaborada no ano de 2020, com a suspensão das aulas presenciais devido à pandemia da Covid-19 e segue as orientações de flexibilização curricular para o biênio 2020/2021 (Ofício Circular 147/2020 Dirped).