Olá, estudante! Esta videoaula de Língua Portuguesa para o 8º ano do Ensino Fundamental foi veiculada na TV no dia 01/09/2021 (quarta-feira). Aqui no Portal Conexão Escola, ela está disponível juntamente com a proposta de atividade.
As histórias de terror fazem parte do imaginário coletivo de diversos escritores e leitores. O gênero alcança também as telas de cinema e séries que deixam adolescentes e adultos ligados em todo o suspense da narrativa. Os assuntos mais aterrorizantes para os seres humanos, como a morte, doenças, crimes, maus espíritos, catástrofes, contribuem para a construção desse gênero tão apreciado. Estude, nesta aula, narrativas de terror. Bons estudos!
Assista agora a videoaula do professor Marlon Santos com a temática narrativas de terror.
Certamente, você já leu muitos textos narrativos. Eles se caracterizam por contar histórias, reais ou fictícias, que envolvem os leitores da forma mais surpreendente possível. Dentre tantos gêneros narrativos existentes, um deles ganha destaque por causar arrepios em que os lê: a narrativa de terror.
As histórias de terror também fazem parte do imaginário coletivo de diversos escritores e leitores. O gênero alcança também as telas de cinema e séries que deixam adolescentes e adultos ligados em todo o suspense da narrativa. Os assuntos mais atemorizantes para os seres humanos, como a morte, doenças, crimes, maus espíritos, catástrofes, contribuem para a construção desse gênero tão apreciado.
Características do gênero
O principal objetivo da narrativa de terror é provocar no leitor fortes sensações, como aquelas que sentimos ao assistir a um filme desse gênero. Na escrita, para produzir esse efeito, há o suspense, o aumento de expectativa em relação aos acontecimentos assustadores, além de revelações inesperadas no decorrer da história. Para que essas ações estejam presentes na narrativa de terror, existem algumas estratégias discursivas e de composição do enredo, como:
- Emprego de advérbios e locuções adverbiais: em silêncio, sorrateiramente, à noite, de madrugada, no cemitério, na escuridão, despertando no leitor imagens perturbadoras;
- Detalhamento das personagens, espaços e cenas, por meio de descrições objetivas e subjetivas, para aguçar a imaginação do leitor;
- Retardamento das revelações: acontece quando o narrador se detém na descrição das cenas, nas reações das personagens, por exemplo, gerando aflição e tensão no leitor; Em geral, o mistério tende a ser esclarecido apenas no desfecho da narrativa;
- Seleção vocabular que desperte o suspense e a tensão no leitor, como adjetivos e locuções adjetivas que caracterizam as personagens;
- Presença do elemento da dúvida ou daquilo que não possui uma explicação. Por exemplo: algo que atenta contra a sanidade ou mesmo contra a vida da personagem principal. A narração da história em primeira pessoa colabora para esse clima, uma vez que o narrador pode duvidar de si mesmo e de sua confissão, por exemplo, tornando a história ainda mais enigmática;
- Os cenários costumam ser ambientes macabros, sombrios, como cemitérios, casas mal-
- , mas nada impede que seja um local comum, como uma simples casa;
- Há o predomínio de uma linguagem mais formal e verbos no tempo passado.
Leia, a seguir, um trecho do conto “Venha ver o pôr do sol”, de Lygia Fagundes Telles, e observe a construção do suspense e das personagens.
Venha ver o pôr do sol
Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.
Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinham um jeito jovial de estudante.
– Minha querida Raquel.
Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos.
– Vejam que lama. Só mesmo você inventaria um encontro num lugar destes. Que ideia, Ricardo, que ideia! Tive que descer do taxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima.
Ele sorriu entre malicioso e ingênuo.
– Jamais, não é? Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância… Quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete-léguas, lembra?
– Foi para falar sobre isso que você me fez subir até aqui? – perguntou ela, guardando as luvas na bolsa. Tirou um cigarro. – Hem?!
– Ah, Raquel… – e ele tomou-a pelo braço rindo.
– Você está uma coisa de linda. E fuma agora uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado…Juro que eu tinha que ver uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então fiz mal?
– Podia ter escolhido um outro lugar, não? – Abrandara a voz – E que é isso aí? Um cemitério?
Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem.
– Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo – acrescentou, lançando um olhar às crianças rodando na sua ciranda. Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. Sorriu. – Ricardo e suas ideias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
– Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo do mundo.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada.
– Ver o pôr do sol!… Ah, meu Deus…Fabuloso, fabuloso!… Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma! E para quê? Para ver o pôr do sol num cemitério…
Ele riu também, afetando encabulamento como um menino pilhado em falta.
– Raquel minha querida, não faça assim comigo. Você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu apartamento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível. Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura…
[…]
TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol e outros contos. 20ª ed. São Paulo: Ática, 2007.
Perceba que, para construir a tensão através das personagens, a autora utilizou da descrição feita pelo narrador, a própria fala das personagens e suas ações, além de pensamentos e sensações delas transmitidas pelo narrador.
A seguir, você lerá um trecho do conto “O gato preto”, de Edgar Allan poe. Os contos desse autor se concentram no terror psicológico, provocando uma reflexão sobre o lado sombrio da mente humana. Os protagonistas dessas narrativas são, geralmente, os narradores atormentados, obsessivos, com vocação para o crime. Essa modalidade de terror ressalta a mente perturbada das personagens e como eles transformam o mundo em um circo de horrores, indicando que os piores monstros podem viver dentro de nós mesmos.
O gato preto
Não espero que acreditem na história que vou contar. Eu seria louco se esperasse por isso… E não estou louco e muito menos sonhando. Mas vou morrer amanhã e preciso fazer uma confissão para aliviar a minha alma. Meu objetivo é mostrar ao mundo uma série de acontecimentos domésticos cujas consequências me deixaram apavorado e destruído. Para mim, esses acontecimentos produziram horror. Outros podem considerá-los menos terríveis.
Desde pequeno me sobressaí pela doçura e humanidade de meu caráter. Eu tinha tanta bondade no coração que meus amigos caçoavam de mim. Eu gostava muito de bichos e meus pais então permitiram que eu tivesse vários animais de estimação. Ficava a maior parte do tempo ao lado deles, fazendo carinho e lhes dando comida. Com o passar dos anos, essa minha particularidade se acentuou, trazendo-me ainda mais prazer. Aos que já amaram um cachorro inteligente e fiel nem é preciso falar sobre satisfação, gratificação e recompensa. O animal tem um amor natural pelo homem, amor que vai direto ao coração de quem já teve muitas ocasiões de pôr à prova a amizade mesquinha e a frágil lealdade do Homem.
Eu casei ainda jovem e fiquei contente de encontrar em minha esposa um caráter parecido com o meu. Observando a minha afeição pelos animais domésticos, ela sempre procurava os de natureza mais agradável. Assim, tínhamos pássaros, peixinhos dourados, um cachorro muito bonito, coelhos, um macaquinho e um gato.
O gato era um lindo e enorme animal, todo preto, de incrível inteligência. Mesmo não sendo supersticiosa, minha esposa costumava comentar a antiga crença de que “gatos pretos são bruxas disfarçadas”. Não que isso fosse realmente o que ela acreditasse, mas é que me lembrei disso agora.
Ele se chamava Plutão e era meu animal de estimação preferido. Eu era a única pessoa que o alimentava. Plutão me seguia por todos os lugares da casa e, quando eu saía, ficava difícil impedi-lo de me acompanhar. Nossa amizade durou muitos anos. Durante esse período, meu caráter e meu temperamento mudaram muito…
E para pior. Fui ficando mais mal-humorado e irritado a cada dia, sem me importar com os sentimentos dos outros. Passei a ofender minha esposa e isso me causava um enorme sofrimento. Depois, parti para a violência não só contra ela, mas também contra os animais de estimação, os quais abandonei. Eu ainda sentia carinho por Plutão, o suficiente para não maltratá-lo. Mas o mesmo não acontecia em relação aos coelhos, ao macaquinho e até ao cachorro, quando por acaso ou por afeto passavam pela minha frente. O mal — também conhecido por “álcool” — foi crescendo e até Plutão, mais velho e mal-humorado, começou a sentir o efeito do meu temperamento.
Uma noite, ao chegar em casa completamente bêbado, achei que o bichano evitava minha presença. Ao agarrar o gato, ele ficou assustado e mordeu levemente a minha mão. Na mesma hora fiquei possuído. Eu não era a mesma pessoa. Minha alma parecia ter saído de meu corpo, que tremia cada fibra movida a gim. Tirei então um canivete do bolso e, segurando o gato preso pela garganta, arranquei um de seus olhos! Sinto o rosto queimar de vergonha por ter praticado essa atrocidade. […]
POE, Edgar Allan. Contos de terror e mistério. Adaptação de Telma Guimarães. São Paulo: Editora do Brasil, 2010. p. 31-32.
Observe que o texto acima apresenta os elementos básicos de uma narrativa ficcional: enredo, narrador, personagens, sequências temporais e indicação de tempo. O conto é uma narrativa de terror porque provoca fortes sensações no leitor, por meio do suspense, ao apresentar um personagem cruel e desequilibrado. O narrador da história, que é também personagem, relata fatos que aconteceram com ele, apresentando sua visão dos fatos (que pode ser tendenciosa e parcial).
É hora de praticar!
Atividade
- Retome a leitura dos trechos de “Venha ver o pôr do sol” e “O gato preto” e observe a caracterização dos espaços físico e psicológico e das personagens. Observe, também, as diferentes vozes no texto as descrições e o suspense sendo criado para se inspirar.
- Agora que você revisou os textos e as características da narrativa de terror, construa a sua própria narrativa. Pense nas características físicas e psicológicas da personagem principal e nos espaços macabros de sua narrativa. Lembre-se de criar um suspense que tende a ser resolvido apenas no desfecho da narrativa. Depois que concluir e revisar seu texto, leia-o para sua família e observe se seus ouvintes também vidrados em sua narrativa. Bom trabalho!
Habilidade estruturante: | (EF69LP47-A) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, a escolha lexical típica de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo. (EF69LP47-B) Perceber como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto, indireto e indireto livre), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo. |
Referências: | POE, Edgar Allan. Contos de terror e mistério. Adaptação de Telma Guimarães. São Paulo: Editora do Brasil, 2010. SILVA, M. Q. T. da; ALMEIDA, G. A. de; SILVA, D. D. O. B. da. Ensino Fundamental 2: PH 8º ano: redação: caderno 1: manual do professor. 1ª ed. São Paulo: SOMOS Sistemas de Ensino, 2017. TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol e outros contos. 20ª ed. São Paulo: Ática, 2007. https://conceito.de/conto-de-terror |
Professor, essa aula segue a Matriz Curricular das Habilidades Estruturantes 2021-2021. Foi elaborada no ano de 2020, com a suspensão das aulas presenciais devido à pandemia da Covid-19 e segue as orientações de flexibilização curricular para o biênio 2020/2021 (Ofício Circular 147/2020 Dirped).