Esta atividade de Língua Portuguesa tem como base o DC/GO – Ampliado e está destinada a estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental.

A narração em primeira pessoa
A narração em primeira pessoa é um tipo de narração em que o narrador participa diretamente da história, relatando os acontecimentos a partir de seu ponto de vista. Para isso, o autor do texto, ao escolher essa voz que narra a história, utiliza pronomes como “eu”, “meu”, “nós”, e procura transmitir ao leitor suas percepções, sentimentos, opiniões e lembranças a respeito dos fatos narrados. Esse narrador é, muitas vezes, o protagonista, mas pode também ser uma testemunha ou personagem secundária que acompanha os fatos.
Pelo fato de relatar os acontecimentos sob um ponto de vista pessoal, o processo de convencimento do leitor deve ser um cuidado desse tipo de narração. Por exemplo, no livro “A menina que roubava livros” (2005), de Markus Zusak, quem narra a história é a Morte. Ela é uma narradora testemunha, pois conta a saga da protagonista Liesel Meminger. Já imaginou a morte contando uma história? Em nossa organização social, acabamos atribuindo à figura da morte um papel horrendo. Quando ela é retratada de forma mais próxima ao ser humano como em filmes, por exemplo, está sempre com um gorro preto, uma foice, um aspecto amedrontador. Então, você já imaginou como seria para o leitor ler uma história em que a Morte é a contadora dos fatos? Nas primeiras páginas desse livro, a narradora apresenta-se e fornece aos leitores uma série de atributos e justificativas para a aceitarem como tal. E, a partir disso, ela procura captar a atenção dos leitores para a “verdade” que se propõe a contar.
Geralmente, nas narrativas em primeira pessoa, o narrador não conhece todos os fatos, apenas aquilo que vivenciou ou ouviu. Exceto quando há um narrador que, de repente, saiba de todas as coisas, como no caso de “A menina que roubava livros”, em que a Morte é um ser sobrenatural que está acima dos seres humanos.
O narrador em primeira pessoa tende a ser parcial, isto é, parte de um ponto de vista pessoal para contar os fatos, como acontece na obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. Nesse romance, o protagonista Bentinho acredita por tudo que sua esposa Capitu lhe traiu com seu melhor amigo, Escobar. Para ele, todas as ações de sua amada e de seu amigo sugerem que houve uma traição. Nesse caso, cabe ao leitor acreditar plenamente ou não no narrador.
Podemos encontrar narração em primeira pessoa em diversos gêneros literários como romances autobiográficos, memórias, diários, cartas pessoais, além de contos e crônicas, por exemplo.
Assista à videoaula do professor Marlon Santos com essa temática.
Responda às questões a seguir.
Leia o texto a seguir para responder às questões.
Capítulo 1
DO TÍTULO
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
— Continue, disse eu acordando.
— Já acabei, murmurou ele.
— São muito bonitos.
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: “Dom Casmurro, domingo vou jantar com você.”—”Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renania; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo.”—”Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça.”
Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração — se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Domínio público. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000194.pdf>
QUESTÃO 1
Identifique o tipo de narrador presente no texto e justifique com trechos.
QUESTÃO 2
Quais são as marcas linguísticas que indicam que a narrativa está em primeira pessoa?
QUESTÃO 3
Releia o seguinte fragmento do texto:
Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei.
A presença de pronomes como “meus” e “me” no texto indica:
(A) a impessoalidade do texto.
(B) narração na segunda pessoa.
(C) a objetividade do narrador.
(D) a subjetividade do narrador.
QUESTÃO 4
A frase retirada do texto que evidencia a narração na primeira pessoa é
(A) “A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus”.
(B) ”Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto”.
(C) —”Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã”.
(D) Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão”.
QUESTÃO 5
Que efeito a escolha da primeira pessoa para narrar a história causa sobre o leitor nesse texto?
QUESTÃO 6
Leia o seguinte trecho para responder ao que se pede.
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
A) Reescreva o trecho acima na terceira pessoa, ou seja, como se o narrador não participasse da história.
B) Quais transformações você fez no texto ao reescrevê-lo da primeira para a terceira pessoa?
QUESTÃO 7
Depois de ler o texto e refletir a partir das questões anteriores, responda: a narração na primeira pessoa é aquela em que há um
(A) observador externo que não participa dos fatos narrados.
(B) personagem que participa dos acontecimentos contados por ele.
(C) narrador que sabe tudo, até dos pensamentos das personagens.
(D) narrador que fala diretamente com o leitor, evitando julgamentos.
Autoria: | Marlon Santos |
Formação: | Letras – Português |
Componente curricular: | Língua Portuguesa |
Conteúdo(s)/Objeto(s) de conhecimento | Intertextualidade. |
Habilidade estruturante: | (EF69LP47-B) Perceber como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto, indireto e indireto livre), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios de cada gênero narrativo. |
Descritores: | D1 – Localizar informações explícitas em um texto. D4 – Inferir uma informação implícita em um texto. |
Referências: | Documento Curricular para Goiás (DC-GO). Goiânia/GO: CONSED/ UNDIME Goiás, 2018. Disponível em: <https://cee.go.gov.br> Acesso em: 03, fev. 2025 |