Esta proposta de atividade de Língua Portuguesa é destinada aos estudantes do 4º Período da Educação de Jovens e Adultos – EJA.
TECENDO O AMANHÃ – JOÃO CABRAL DE MELO NETO
João Cabral de Melo Neto foi um dos mais importantes poetas brasileiros do século XX. Nascido no Recife, Pernambuco, ele é conhecido por sua poesia marcada por uma linguagem precisa, econômica e pela ausência de sentimentalismo, o que contrasta com o lirismo típico de outros poetas de sua geração. Sua obra é vasta e diversificada, mas sempre marcada por uma forte consciência social e uma visão crítica da realidade brasileira.
“Tecendo a Manhã” é um poema de João Cabral de Melo Neto que faz parte do livro “A Educação pela Pedra”, publicado em 1966. Veja agora o referido poema.
Tecendo a manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
“Tecendo a manhã” é composto por versos curtos e fragmentados, refletindo o estilo característico do autor, que busca uma poesia contida, sem excessos emocionais. O poema descreve, de forma alegórica, o processo de construção do amanhecer a partir do canto dos galos. O poema apresenta o canto do galo como o primeiro passo na construção de um novo dia.
No entanto, o canto de um único galo não é suficiente para “tecer” a manhã; é necessário que outros galos respondam, criando uma teia coletiva de cantos que simbolizam a construção do novo dia. Essa metáfora do amanhecer construída coletivamente e sugere a ideia de que a ação individual, quando somada à ação dos outros, é capaz de criar algo maior.
RESPONDA AS QUESTÕES
QUESTÃO 1
Relacione a metáfora de “tecer a manhã” com movimentos sociais e políticos do Brasil. Como a ideia de coletividade presente no poema ressoa com esses movimentos?
QUESTÃO 2
Qual é o papel do galo no poema? Como o canto de um único galo se relaciona com o tema da coletividade?
QUESTÃO 3
Por que o autor escolhe o verbo “tecer” para descrever o processo do amanhecer? Que outras palavras poderiam ser usadas, e como isso alteraria o significado do poema?
QUESTÃO 4
“Tecendo a Manhã” se alinha com o estilo característico de João Cabral de Melo Neto
(A) pelo uso de uma linguagem emocional e subjetiva.
(B) pela ênfase em temas individuais e pessoais.
(C) pelo uso de uma linguagem precisa e foco na coletividade.
(D) pela abordagem lírica, romântica e ideal.
QUESTÃO 5
No poema, o autor sugere que a manhã é “tecida” a partir de
(A) um trabalho individual.
(B) uma colaboração entre galos.
(C) um silêncio da noite.
(D) o canto solitário de um galo.
Autoria: | Regina Cácia |
Formação: | Letras – Língua Portuguesa |
Componente Curricular: | Língua Portuguesa |
Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento: | (EJALP0412) Identificar o efeito de sentido produzido pelo uso de recursos linguísticos e/ou expressivos gráfico-visuais em textos multissemióticos (EJALP0413) Compreender, em diferentes gêneros, os efeitos de sentido utilizados pelo autor para persuadir e convencer o leitor |
Referências: | BARBOSA, João Alexandre. A metáfora crítica. São Paulo: Perspectiva, 1974. CASTELLO, José Aderaldo. A literatura brasileira: origens e unidade (1500 – 1960). São Paulo: EDUSP, 1999. MELO NETO, João Cabral de. Antologia poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986. MERQUIOR, José Guilherme. A estética da mimese (ensaios sobre lírica). Rio de Janeiro: José Olympio, 1972. MORICONI, Ítalo. Como e porque ler a poesia brasileira do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. |