Olá! Esta aula de Língua Portuguesa é destinada a educandos da 7ª Série da Eaja.
A aula de hoje abordará o gênero teatral, suas características norteadoras, suas origens e de que maneira o dramaturgia interfere nas relações sociais? O texto teatral apresenta como elementos únicos a encenação e o diálogo entre os personagens, dispensando obviamente a figura do narrador. Vamos fazer um mergulho no passado do medieval e descobrir a popularidade deste gênero.
Assista a videoaula abaixo, com a temática – O teatro mágico de Ariano Suassuna.
O teatro mágico de Ariano Suassuna
Hoje, iremos estudar os gêneros teatrais: farsa e auto, são modalidades populares que ganharam como alegoria e força com o decorrer dos anos, apresentam conteúdos moralizantes e muitas vezes religiosos. Consagrados com o teatro português de Gil Vicente com as renomadas obras “O auto da barca do inferno” e “A farsa de Inês Pereira.”
O auto – definição:
São obras de caráter mais voltados para os temas religiosos, com o objetivo moral, bons costumes e práticas cristãs. Relatam sobre milagres, episódios pastoris e mistérios.
A farsa – definição:
São peças de um só ato com um enredo e número de personagens reduzidos. Busca retratar o cotidiano de forma cômica, retomando o caráter e o comportamento de tipos sociais.
No Brasil o teatro popular ganha força com as aspirações modernas, apesar do todo legado clássico, o seu auge em 1953 surge com o teatro de Arena, quase um circo, sua proposta era criar um teatro que falasse sobre atualidade social e política brasileira. E é diante do novo que várias companhias de teatro foram formadas com um movimento constante de renovação, e para melhor exemplificar nossa aula vamos ressaltar a força criativa de Ariano Suassuna.
O autor teatral, dramaturgo Ariano Suassuna teve sua obra: Auto da Compadecida imortalizada pela literatura, pelo teatro e recentemente pela cinematografia. Nesta brilhante e pitoresca obra teatral Ariano Suassuna deixa claro que o teatro está mais próximo de um circo do que de uma obra de arte. Validando força aos vícios humanos, as desigualdades sociais e acima de tudo recortando um tempo de cangaço e sertão das misérias.
Auto da compadecida é uma peça teatral em forma de auto (gênero da literatura que trabalha com elementos cômicos e tem intenção moralizadora). É um drama nordestino apresentado em três atos. Contém elementos da literatura de cordel e está inserido no gênero da comédia, se aproximando, nos traços, do barroco católico brasileiro. Trabalha com a linguagem oral e apresenta também regionalismo através da caracterização do nordeste. Vamos acompanhar um trecho da obra que menciona de forma humorada e caricatural o enterro de um cachorro em latim:
Auto da Compadecida – Ariano Suassuna
III QUADRO
(Correm todos para a direita, menos João Grilo e Chicó. Este vai para a esquerda, olha a cena que se desenrola lá fora, e fala com grande gravidade na voz.)
CHICÓ: – É verdade; o cachorro morreu. Cumpriu sua sentença encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre.
JOÃO GRILO: – (suspirando) Tudo o que é vivo morre. Está aí uma coisa que eu não sabia! Bonito. Chicó, onde foi que você ouviu isso? De sua cabeça é que não saiu, que eu sei.
CHICÓ: – Saiu mesmo não, João. Isso eu ouvi um padre dizer uma vez.
MULHER: – (entrando) Ai, ai, ai, ai, ai! Ai, ai, ai, ai, ai!
JOÃO GRILO: – (mesmo tom) Ai, ai, ai, ai, ai! Ai, ai, ai, ai, ai! (Dá uma cotovelada em Chicó)
CHICÓ: (obediente) Ai, ai, ai, ai, ai,! Ai, ai, ai, ai, ai! (Essa lamentação deve ser mal representada de propósito, ritmada como choro de palhaço de circo)
SACRISTÃO: – (entrando, com o padre e o padeiro) Que é isso, que é isso? Que barulho é esse na porta da casa de Deus?
PADRE: – Todos devem se resignar.
MULHER: – Se o senhor tivesse benzido o bichinho, a essas horas ele ainda estava vivo.
PADRE: – Qual, qual, quem sou eu?
MULHER: – Mas tem uma coisa, agora o senhor enterra o cachorro.
PADRE: – Enterro o cachorro?
MULHER – Enterra e tem que ser em latim. De outro jeito não serve, não é?
PADEIRO: – É, em latim não serve.
MULHER: – Em latim é que serve!
PADEIRO: É, em latim é que serve!
PADRE: – Vocês estão loucos! Não enterro de jeito nenhum.
MULHER: – Está cortado o rendimento da irmandade.
PADRE: – Não enterro.
PADEIRO: – Está cortado o rendimento da irmandade!
PADRE: – Não enterro.
MULHER: – Meu marido considera-se demitido da presidência!
PADRE: – Não enterro.
PADEIRO: – Considero-me demitido da presidência!
PADRE: – Não enterro.
MULHER: – A vaquinha vai sair daqui imediatamente!
PADRE: – Oh mulher sem coração!
MULHER: – Sem coração, porque não quero ver meu cachorrinho comido pelos urubus? O senhor enterra!
PADRE: – Ai meus dias de seminário, minha juventude heróica e firme!
MULHER: – Pão para casa do vigário só vem agora dormido e com o dinheiro na frente. Enterra ou não enterra?
PADRE: – Oh mulher cruel!
MULHER: – Decida-se, Padre João.
PADRE: – Não me decido coisa nenhuma, não tenho mais idade para isso. Vou é me trancar na igreja e de lá ninguém me tira. (Entra na igreja correndo)
JOÃO GRILO: – (chamando o patrão à parte) Se me dessem carta branca, eu enterrava o cachorro.
A emblemática cena de enterrar um cachorro como um ser humano, revela elementos do teatro popular, contidos nos autos medievais, e da literatura de cordel para exaltar os humildes e satirizar os poderosos e os religiosos que se preocupam apenas com questões aparentes e convencionais.
ATIVIDADES
Questão 1 – O teatro inovador de Ariano Suassuna retoma o sertão com a fantástica literatura de cordel, para saber mais assista ao vídeo: Suassuna, a peleja do sonho com a injustiça – homenagem
Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=WmdEAmBdERU
Questão 2 – Para conhecer mais sobre o Auto da Compadecida leia os demais detalhes sobre o episódio do Quadro III, que relata o enterro do cachorro, para isso acesse o link: <https://www.academia.org.br/academicos/ariano-suassuna/textos-escolhidos>. Após a leitura você irá perceber que o autor faz uma mistura entre a linguagem clássica presente nas missas em latim e a linguagem popular presente no dia a dia das pessoas, sem preocupação retórica ou mesmo cadenciada, apenas a cena (situação) e o humor presente no fato.
Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento: | LÍNGUA PORTUGUESA (EAJALP0718) Apreciar e compreender a função do eu lírico na poesia. (EAJALP0627) Realizar procedimentos de leitura (antecipação, inferência, checagem). (EAJALP0720) Identificar o que está implícito, as inferências, os referentes comuns de uma cadeia de substituições lexicais. |
Referências: | Ariano Suassuna recita “Auto da Compadecida”. Site academia.org.br. Disponível em:<https://www.academia.org.br/academicos/ariano-suassuna/textos-escolhidos> Acesso em: 11/08/2021 |