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Língua Portuguesa – O tear de ideias nos contos de Marina Colasanti

Olá! Esta aula de Língua Portuguesa é destinada a educandos da 7ª Série da Eaja.

Temática – Língua Portuguesa – O tear de ideias nos contos de Marina Colasanti. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/illustrations>. Acesso em: 14 de Setembro de 2021.

A aula de hoje abordará o gênero narrativo, especialmente os contos e as fábulas, que de uma forma adulta, abordam problemas sociais, no entanto sem deixar de lado elementos mágicos como o castelo, o reino, os objetos encantados, as princesas e os príncipes: que além da beleza evidenciam suas frustrações e imperfeições.


Assista a videoaula abaixo, com a temática – Língua Portuguesa – O tear de ideias nos contos de Marina Colasanti.

7ª SÉRIE | Eaja |LÍNGUA PORTUGUESA| PROF.ª: REGINA

O tear de ideias nos contos de Marina Colasanti

Hoje, iremos estudar um conto de fadas moderno, tomado de sutilezas dos contos de fadas tradicionais, coloca em evidência a condição social feminina diante da autoritarismo machista e patriarcal. Na grande maioria das fabulas a figura feminina se coloca como ser sutil e muitas vezes guiado pelas exigências do universo masculino.

À mulher dá-se a condição de aguardar em torres, esperar pelo eterno príncipe encantado, tecer seus bordados, cuidar de um jardim ou alimentar animais. Diante da espera a mulher coloca-se como guiada sem muitas opções para outros caminhos. No entanto hoje vamos conhecer um conto de fadas que quebra estes elementos relacionados à mulher, A moça tecelã de Marina Colasanti revela uma mulher solitária e feliz com os seus afazeres, cuja alegria e a paz se quebram com a chegada do príncipe encantado. Vejamos um trecho desta incrível história:

A Moça Tecelã     –    Marina Colasanti

“Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira (…)”.

Observe que os elementos narrativos como tempo, espaço ficam indefinidos assim como nos contos de fadas, mas as personagens e a voz narrativa são marcados pela perspectiva da história firmada no enredo de um marido que nunca se satisfaz, nenhum de seus caprichos são derradeiros.  No entanto o início da narrativa mostra uma mulher completa em seu trabalho, nada lhe faltava alimentos (leite, peixes etc), roupas…  Tudo lhe sai do tear, pronto e bonito. Até que se percebeu envolta em uma cósmica e desamparada solidão, necessitando de alguém junto a si, para sempre: constrói então, dos fios mais fortes e belos, um companheiro, o esperado esposo.  Passa logo a sonhar com filhos, lar, vizinhos, com um cotidiano pacato e social, enfim. O homem, porém, tinha ideias opostas: após conhecer o poder do tear e a habilidade da moça, cresceu em ambição: trancafiou-a, cercando-a de ordens absurdas: uma casa melhor e maior; depois um palácio, com pompas, torres, tesouros, jardins, criadagem…  Mas amor que era bom, não lhe dava.  Sequer a notava.

Retomamos assim a narrativa com um ponto de vista atual, pautando as relações abusivas e a incansável busca da perfeição para agradar a quem se ama, esquecendo de amar a si próprio. A quebra dos elementos mágicos, a mulher que trabalha duro no lugar da moça delicada e o príncipe encantado no lugar de um homem rude e explorador, demonstra a realidade da submissão feminina, pois até presente data muitas mulheres aceitam imposições para manter um casamento e as aparências sociais.  

Atividades

Questão 1 – O conto inovador de Marina Colasanti retoma os elementos mágicos dos contos de fadas, para saber mais assista ao vídeo: Conto de fadas.

Acesse o link: <https://www.youtube.com/watch?v=Gx_SiKnfckw&t=71s>.

Questão 2 – Para conhecer mais sobre o conto A moça tecelã leia-o na íntegra, assim você poderá conhecer o seu final surpreendente para isso acesse o link: <http://professormarconildoviegas.blogspot.com/2017/12/interpretacao-de-texto-moca-tecela.html?m=1>.

Após a leitura você irá perceber o desfecho da história revela a autoridade da mulher e a quebra da submissão.


Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento:(EAJALP0736) Produzir textos poéticos utilizando rima, métrica e ritmo.
(EAJALP0642) Observar as marcas da norma-padrão e coloquialidade, de acordo com as condições de produção do gênero textual.  
(EAJALP0712) Compreender e posicionar-se sobre conteúdos e informações de fontes diferentes, nos contextos de produção.
Referências:Marina Colasanti recita “Moça tecelã”. Blog “Professor Marconildo Viegas”. Disponível em:http://professormarconildoviegas.blogspot.com/2017/12/interpretacao-de-texto-moca-tecela.html?m=1acessado em 09/09/2021