Esta proposta de atividade de Língua Portuguesa é destinada aos estudantes do 5º Período da Educação de Jovens e Adultos – EJA.
O PAGADOR DE PROMESSAS – DIAS GOMES
Considerada como uma das obras mais icônicas do teatro brasileiro e da dramaturgia nacional, “O pagador de promessas” foi escrita em 1959, a peça explora temas profundos, como fé, hipocrisia social, poder, e as complexidades da religiosidade popular.
A trama gira em torno de Zé do Burro, um homem simples do campo que faz uma promessa a Santa Bárbara, na qual, em um momento de desespero, promete carregar uma pesada cruz desde sua fazenda até a Igreja de Santa Bárbara, em Salvador.
O que começa como um ato de fé pessoal e genuíno logo se transforma em uma luta contra o sistema religioso e as convenções da Igreja Católica. Marcada pelo dialogismo a trama segue de forma autêntica e singular, observe um trecho abaixo sobre a referida promessa de Zé do Burro.
“(…)
ROSA
Quem é que vai roubar uma cruz, homem de Deus? Pra que serve uma cruz?
ZÉ
Tem tanta maldade no mundo. Era correr um risco muito grande, depois de ter
quase cumprido a promessa. E você já pensou; se me roubassem a cruz, eu ia ter que fazer outra e vir de novo com ela nas costas da roça até aqui. Sete léguas.
ROSA
Pra quê? Você explicava à santa que tinha sido roubado, ela não ia fazer questão.
ZÉ
É o que você pensa. Quando você vai pagar uma conta no armarinho e perde
o dinheiro no caminho, o turco perdoa a dívida? Uma ova!
ROSA
Mas você já pagou a sua promessa, já trouxe uma cruz de madeira da roça até
à igreja de Santa Bárbara. Está aí a igreja de Santa Bárbara, está aí a cruz. Pronto. Agora, vamos embora.
ZÉ
Mas aqui não é a igreja de Santa Bárbara. A igreja é da porta pra dentro.
(…)”
Ao chegar à cidade, Zé é confrontado por um padre que se recusa a permitir que ele entre na igreja com a cruz, ao descobrir que o protagonista fez sua promessa em um terreiro de candomblé. Esse confronto entre o sincretismo religioso, comum na cultura brasileira, e a rigidez das instituições religiosas forma o núcleo dramático da peça. Zé do Burro, com uma fé ingênua e pura, não compreende a divisão entre religiões e não vê conflito entre seu ato e a doutrina católica, mas a igreja institucionalizada rejeita sua devoção.
Dias Gomes utiliza essa situação para criticar a hipocrisia das instituições que se colocam como intermediárias do sagrado, mas acabam desvirtuando o sentido genuíno da fé e da espiritualidade. A peça também levanta questões sobre a intolerância religiosa, já que a recusa de Zé em abandonar sua promessa expõe a rigidez da sociedade em aceitar formas de religiosidade que fogem aos padrões aceitos.
O final trágico, no qual Zé é morto pela polícia ao ser confundido com um agitador político, carrega uma forte crítica social. Ele morre sem compreender o motivo de seu sacrifício e de sua rejeição, o que reforça a visão do autor sobre a alienação e a crueldade do sistema, que não valoriza a pureza de intenções de pessoas como Zé do Burro.
Em resumo, “O Pagador de Promessas” é uma crítica social e política que utiliza o contexto da religiosidade popular para discutir as desigualdades e injustiças de uma sociedade que, por trás de suas instituições, esconde interesses, intolerância e opressão. A obra permanece relevante, sendo uma poderosa reflexão sobre o Brasil e suas complexas relações entre fé, poder e sociedade.
RESPONDA AS QUESTÕES
QUESTÃO 1
Explique como a peça “O Pagador de Promessas” reflete o sincretismo religioso presente na cultura brasileira. De que forma Dias Gomes aborda a coexistência (ou o conflito) entre o catolicismo e as religiões afro-brasileiras na obra?
QUESTÃO 2
O final trágico de Zé do Burro remete a uma estrutura clássica de tragédia. Em que medida Zé pode ser considerado um herói trágico? Quais são suas falhas e como elas contribuem para o desfecho da peça?
QUESTÃO 3
Como Dias Gomes utiliza a figura de Zé do Burro para criticar o preconceito e a intolerância social no Brasil? Dê exemplos de situações na peça em que o protagonista é vítima de incompreensão.
QUESTÃO 4
O motivo inicial que leva Zé do Burro a fazer sua promessa é
(A) querer que sua esposa tenha um filho.
(B) desejar a cura de uma doença sua.
(C) querer salvar sua mula doente.
(D) querer se livrar de uma maldição.
QUESTÃO 5
O desfecho de Zé do Burro ao final da peça é
(A) cumprir sua promessa sem dificuldades ou críticas.
(B) desistir de sua promessa e voltar para vida do campo.
(C) morto pela polícia, pois é confundido como agitador político.
(D) detido pela Igreja por tentar violar as regras religiosas.
Autoria: | Regina Cácia |
Formação: | Letras – Língua Portuguesa |
Componente Curricular: | Língua Portuguesa |
Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento: | (EJALP0507) Vocalizar, declamar, re(contar) ou dramatizar textos de diferentes gêneros textuais/discursivos, empregando os recursos linguísticos, paralinguísticos e cinésicos necessários aos efeitos de sentido pretendidos |
Referências: | BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo – Brasília, HUCITEC-EDUNB, 1993. ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. A essência das religiões. São Paulo, Martins Fontes, 1992. GOMES, Dias. O pagador de promessas. 46 ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2008. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira. O campesinato brasileiro: ensaios sobre civilização e grupos rústicos no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro, Vozes, 1973. |