Esta proposta de atividade de Língua Portuguesa é destinada aos estudantes do 6º Período da Educação de Jovens e Adultos – EJA.
DONA DOIDA – ADÉLIA PRADO
Adélia Luzia Prado de Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no ano de 1935, considerada como uma das maiores vozes líricas da literatura brasileira ainda viva. Sua poesia é marcada pelo tom cotidiano, o lado prosaico de ser ou mesmo “vidinha” como a própria autora costuma dizer. Adélia Prado é conhecida por sua sensibilidade encontrada em relações familiares, um mundo doméstico retratado como uma divindade, seu lirismo explora temas relacionados à vida, à morte, a memória, a espiritualidade, o amor, o matrimônio, os filhos, a efemeridade e a demência.
Sua obra poética é caracterizada pela linguagem singular e sensível, revelando uma profunda conexão com as experiências humanas a partir da perspectiva única sobre questões femininas e sociais. Conheça agora um de seus célebres poemas que reúne duas grandes condições humanas: a família e a demência, cujo título é Dona Doida.
Dona Doida – Adélia Prado
Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.
PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Editora Siciliano, 1991.
O poema é marcado por um tom memorialista altamente descritivo que reúne marcos temporais entre o passado e o presente, inicia-se com a expressão “Uma vez…” que abre o discurso do eu lírico recobrando suas memórias e gradativamente ficam alinhadas ao presente com o emprego do advérbio “agora” que surge no segundo e no sexto verso do poema.
As relações parentais são apresentadas ao longo do texto, como a figura da mãe que decidida e inspirada resolve preparar o jantar, a imagem dos filhos que a repudiaram com vergonha e por fim a figura do marido que ficou triste até a morte. Constituído por catorze versos o poema segue sem rimas formando assim o conceito de “versos brancos”. Seu título retoma a construção do eu lírico que ao atender um pedido da mãe ao buscar chuchus volta trinta anos depois, e de maneira senil recobre suas memórias familiares provavelmente dos filhos que lhe abandonaram e do marido falecido, constata sua recepção de forma infantil por alguém que lhe sorri cuja função é o acolhimento nos seus momentos de devaneio.
A chuva aponta uma simbologia temporal nas retomadas da memória ou mesmo nos aspectos de melhorias que tão bem são mencionados nos últimos versos. “Dona Doida” é de fato uma pintura das ações humanas quando o assunto é a demência, e em especial como este tema é tratado ao tocar a instituição família. Em suma, o poema é um relato sensível de quem retoma por pensamentos etapas da vida em períodos de chuva, deixando a mente em uma completa tempestade entre a lembrança e a loucura.
RESPONDA AS QUESTÕES
QUESTÃO 1
O tom memorialista é o marco inicial do poema, em sua opinião o relato pode trazer semelhanças com o mundo real? Ou seja, é possível que o eu lírico tenha se espelhado no relato de alguém que perdeu a memória?
QUESTÃO 2
O verbo chover é utilizado três vezes ao longo do texto poético. Retire do poema “Dona Doida” palavras ou expressões que caracterizam os aspectos do verbo chover.
QUESTÃO 3
Analise os versos abaixo e responda:
“Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.”
As palavras grifadas podem ser gramaticalmente consideradas como:
(A) substantivos
(B) adjetivos
(C) advérbios
(D) verbos
QUESTÃO 4
“A mulher que me abriu a porta riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.”
Considerando os versos acima, em sua opinião quem pode ser essa mulher que riu do eu lírico?
QUESTÃO 5
Assinale a opção abaixo em que ocorre uma metalinguagem:
(A) “meu marido ficou triste até a morte”
(B) “Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso”
(C) “Só melhoro quando chove”
(D) “Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema”
Autoria: | Regina Cácia |
Formação: | Letras – Língua Portuguesa |
Componente Curricular: | Língua Portuguesa |
Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento: | (EJALP0622) Analisar a estrutura composicional de diferentes gêneros para compreender sua finalidade, considerando a situação comunicativa (interlocutores, finalidade, circulação, organização, estrutura e tema do texto); utilizando assuntos de relevância social, para se referir a gostos, preferências e ações em progresso, bem como formular os próprios pontos de vista |
Referências bibliográficas: | CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. 6a ed. São Paulo, Nacional, 1980. PRADO, Adélia. Bagagem. 35ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2014. PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Editora Siciliano, 1991. TELLES, Norma. Escritoras, escritas, escrituras. In: PRIORE, Mary del. Histórias das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2010, p. 401-442. |