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Língua Portuguesa – A singularidade do conto goiano e o matrimônio

Olá! Esta aula de Língua Portuguesa é destinada a educandos da 7ª Série da Eaja.

Temática – Língua Portuguesa – A singularidade do conto goiano e o matrimônio. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/carlosoliveirareis/4298290480>. Acesso em: 16 de Novembro de 2021.

A aula de hoje abordará a singularidade do conto goiano, sua abordagem social e as relações familiares. A estrutura narrativa do conto goiano, como já sabemos, é bastante simples, pois envolve os valores da nossa gente bem como seus laços afetivos e costumes. Tradicionalmente o conto goiano faz uma excelente caracterização dos personagens e do espaço, hoje vamos conhecer como eram as festas de casamento no passado, suas comidas, suas ornamentações, e claro seus convidados.


Assista a videoaula abaixo, com a temática – Língua Portuguesa – A singularidade do conto goiano e o matrimônio

LÍNGUA PORTUGUESA | 7ª SÉRIE | Eaja | PROF.ª: REGINA

A singularidade do conto goiano e o matrimônio

Hoje, iremos estudar o enredo singular do conto goiano, suas particularidades e em especial sua originalidade quanto ao tema. Como exemplo, vamos destacar o conto: O casamento e a cegonha de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889 – 1985), ou Cora Coralina, pois foi este o nome que escolheu para assinar grande parte de suas obras. Além da simplicidade do cenário goiano, como a esquecida cidade do interior, os ambientes rurais, o abandono das classes desfavorecidas; a autora ressalta em sua obra a condição feminina de submissão e o patriarcado, por essa razão é muito comum nas obras de Cora Coralina ter vários olhares femininos em torno de uma condição social que menosprezava a figura da mulher. Essa mulher retratada nos textos da autora dá uma dimensão das dificuldades enfrentadas pelas mulheres que, inseridas em um contexto patriarcal, tiveram suas possibilidades de ascensão sufocadas. Limitadas ao ambiente doméstico e proibidas de estudar e adquirir sua formação profissional, muitas mulheres tiveram que abdicar de seus conhecimentos enquanto observavam as conquistas masculinas.

O conto: O casamento e a cegonha retrata a vertente do casamento como uma saída para as mulheres que engravidavam no século passado, casar antes que o bebe nascesse, pois no passado as mulheres que se tornavam mães solteiras não eram bem vistas pela sociedade, além de manchar a honra familiar. Por esta razão, no passado, ameaças de morte e casamentos arranjados eram muito comuns. A situação do casamento e da festa são bastante claros dentro do conto e a referência a cegonha se faz exatamente no desfecho da história, parte em que a noiva se afasta dos convidados.

A festa, ou mesmo, “festança” como é dito pela autora retrata um tempo de fartura e prosperidade, muita dança, muita comida e muitos convidados. Diante do quadro narrativo de uma festa de casamento estabelecem os personagens e o enredo: o noivo e a noiva, o pai da noiva, o juiz, o vigário, o escrivão (como parte documental), os convidados que “saracoteavam” ao longo da festa.

Veja agora um trecho desta animada festa de casamento:

O casamento e a cegonha – Cora Coralina

Os pais da noiva tinham resolvido que o casamento da filha se faria ali mesmo, na chácara, à boa moda antiga, com mesada de doces, churrasco, muita empada, leitoa, frango assado, boas comidas e abundantes bebidas.

Armou-se o altar na sala da frente. Cobriu-se a mesa do civil com um lindo atoalhado de plástico. Vieram os convidados. Veio o vigário, veio o juiz e veio o escrivão. Testemunhas e a roda dos parentes. Fizeram o casamento. A moça sempre fora alta, grandalhona, fornida de carnes e de bons quartos. Naquele vestido branco, rodado, de babados subindo e descendo, de véu e grinalda, inda mais reforçada parecia.

Como a festança era mesmo de arromba, fogos pipocando, música chegando e muita gente entrando e saindo, ninguém mais reparou nos noivos que depois de posarem para o retrato de praxe, na cabeceira da mesa e de cortarem juntos o bolo artístico, se misturaram com os convidados e cada qual se achou à vontade e sem constrangimento.

O juiz e o vigário deixaram-se ficar numa roda de amigos, conversando com advogados, escrivães, gente do foro.

O baile tinha começado. A moçada saracoteava alegre. Os que não eram de dança, rodeavam a mesa posta, com pratos, copos e garrafas. Espetos de churrasco e bandas de leitão se cruzavam por todos os lados.

Boas comidas, muita bebida e os donos da casa pondo o pessoal à vontade, incansáveis, não cabendo em si de contentes com o casamento daquela primeira filha.

(…)

A narrativa traz os traços da organização familiar da época e acima de tudo: a cultura e os valores respeitados que ficam claros na receptividade dos convidados e nas convenções civis para celebrar o casamento. Afinal o pai casa a filha e mostra socialmente o evento como uma prestação de contas. A voz narrativa diante da estória presta um favor ao legado daquela época, conta os detalhes da festa e ao mesmo tempo acrescenta de forma natural os preceitos de uma sociedade machista e patriarcal.

A simplicidade é o elemento mágico encontrado em quase todas as obras de Cora Coralina, pois com a leveza dos elementos singulares a autora aponta verdades que o passado histórico costuma esconder, sabe-se que no passado havia grandes festas e celebrações para os casamentos e batizados, na verdade era uma forma convencional de dar esclarecimentos a sociedade de quando se nasce e quando se casa. No conto: O casamento e a cegonha, o título já evidencia o desenrolar da estória, uma vez que a cegonha simboliza o nascimento, tornando-se convidada oficial para o encerramento da grande festa.

No entanto, fazendo uma análise mais crítica do conto, além da figuração da cegonha: enquanto metáfora popular do nascimento, observa-se também a castidade feminina como prova de honra e caráter, desvenda-se um tempo em que as mulheres não podiam ceder aos carinhos ou tão menos ter envolvimento íntimo com seus namorados antes do casamento, no entanto, naquela época de coronelismo o recato era primordial, era a  garantia de uma esposa virtuosa, porém algumas mulheres arriscavam a própria vida para concretizar seus desejos.

Atividades

Questão 01 – Atualmente, sabemos que o casamento é um passo muito importante na vida adulta, conciliar uma vida a dois não é uma tarefa fácil, porém, mesmo em tempos modernos, as pessoas se casam e se separam com extrema rapidez. Em sua opinião, o que pode ocasionar um rápido casamento? E que pode determinar o seu fim?

Questão 02 – A tradição patriarcal é um dos temas recorrentes nos contos de Cora Coralina, vivências machistas, intolerância, a figura da mulher em segundo plano, também são temas norteadores de suas estórias. Atualmente nossa sociedade tem modificado estes valores, agora chegou a sua vez, comente e discuta com seus amigos e familiares sobre estes temas tão relevantes. Questione o que de fato mudou na vida das mulheres e o que ainda se mantém de forma velada?


Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento:(EAJALP0639) Planejar e elaborar textos do gênero dramático (adaptação de outros gêneros textuais/discursivos). 
(EAJALP0640) Criar textos em versos com rimas, recursos visuais, semânticos e sonoros.
(EAJALP0642) Observar as marcas da norma-padrão e coloquialidade, de acordo com as condições de produção do gênero textual.
Referências:CORALINA, Cora. Estórias da Casa Velha da Ponte. 11. ed. São Paulo: Globo, 2001. p.53-54SILVA, Vera Maria Tietzmann, Org. Antologia do Conto Goiano I: O conto contemporâneo. 2. ed. Goiânia: Editora UFG, 1994.