Nessa atividade você irá ler um excelente texto de Fernando Sabino que é um grande escritor brasileiro. Após se deliciar com a história contada por ele, você responderá algumas perguntas para compreendê-la melhor. Posteriormente, você será desafiado a identificar na história palavras que apresentam características de ser, objeto e lugar e as que dão ideia de lugar e tempo. Somando-se a isso, você terá oportunidade de identificar quem está falando no texto e o tipo de narrador.
Bons estudos!
Atividade 1
Leia o texto:
Galinha ao molho pardo
Fernando Sabino
Ao chegar da escola, dei com a novidade: uma galinha no quintal.
O quintal de nossa casa era grande, mas não tinha galinheiro, como quase toda casa de Belo Horizonte naquele tempo. Tinha era uma porção de árvores: um pé de manga sapatinho, outro de manga coração-de-boi, um pé de gabiroba, um pé de goiaba branca, outro de goiaba vermelha, um pé de abacate e até um pé de fruta – de – conde. […] De um lado o barracão com o quarto da Alzira cozinheira e um quartinho de despejo. Do outro lado, uma caixa de madeira grande como um canteiro, cheia de areia que papai botou lá para nós brincarmos. […]
Foi no fundo do quintal que eu vi a galinha, toda folgada, ciscando na caixa de areia. Havia sido comprada por minha mãe para o almoço de domingo: Dr. Junqueira ia almoçar em casa e ela resolveu fazer galinha ao molho pardo.
Eu já tinha visto a Alzira matar galinha, uma coisa terrível. […]
Como se fosse a coisa mais natural deste mundo, Alzira me contou o que ia acontecer com a nova galinha.
Revoltado, resolvi salvá-la.
Eu sabia que o Dr. Junqueira era importante, meu pai dependia dele para uns negócios. Pois no que dependesse de mim, no domingo ele ia poder comer tudo, menos galinha ao molho pardo.
Era uma galinha branca e gorda, que não me deu muito trabalho para pegar. Foi só correr atrás dela um pouco, ficou logo cansada. Agachou-se no canto do muro, me olhou de lado como as galinhas olham e se deixou apanhar.
Não sei se percebeu que eu não ia lhe fazer mal. Pelo contrário, eu pretendia salvar a sua vida. O certo é que em poucos minutos ficou minha amiga, não fugiu mais de mim.
[…]
– Vou esconder você num lugar que ninguém é capaz de descobrir.
Junto do tanque de lavar roupa costumava ficar uma bacia grande de enxaguar. A Maria lavadeira só ia voltar na Segunda-feira. Antes disso ninguém ia mexer naquela bacia. Assim que escureceu, escondi a galinha debaixo dela.
[…]Na manhã de domingo me levantei bem cedo e fui dar uma espiada nela.
[…]Lá no fundo escuro do porão, onde tinha ido me esconder, via a Alzira olhar ao redor:
– Por falar nisso, onde é que se meteu a galinha? […]
– Você não estava brincando com ela ontem, menino?
– Isso foi ontem. Hoje eu não vi ela ainda.
– Será que fugiu? Ou alguém roubou? […]
Agarrei a ideia no ar, era a salvação:
– Isso mesmo! Quando eu estava ali no quintal vi um homem passar correndo … Levava uma coisa escondida embaixo do paletó. Só podia ser a galinha.
A Alzira não parecia acreditar muito na história. Pelo contrário, ficou mais desconfiada.
[…] E saiu pelo quintal, à procura da galinha, olhando aqui e ali: nos galhos das árvores, atrás do barracão, no meio dos bambus. Depois foi contar para a mamãe que a galinha havia sumido.
Fui atrás, para o que desse e viesse. Escutei tudo. Mamãe torcia as mãos:
– E agora, como vai ser? Como é que ela foi sumir assim, sem mais nem menos?
– Sei lá – respondeu a Alzira: – Não acredito que tenham roubado, como diz o Fernando. Vai ver que saiu voando e pulou o muro. Bem que pensei em cortar as asas dela e me esqueci. Agora é tarde.
– Está quase na hora do almoço. O Dr. Junqueira está para chegar em uma hora, e como é que a gente vai fazer sem a galinha? O Domingos vai ficar aborrecido – disse minha mãe.
Dali a pouco era o meu pai quem chegava da rua, trazendo o jornal de domingo debaixo do braço. Quando mamãe lhe deu a triste notícia, para surpresa minha e dela, ele não se aborreceu:
– Faz outra coisa. Macarrão, por exemplo. O Dr. Junqueira é bem capaz de gostar de macarrão.
[…] Pois o Dr. Junqueira não só gostou, como repetiu duas vezes, para grande satisfação de mamãe. […] Guardanapo enfiado no colarinho, o Dr. Junqueira limpou os bigodes, satisfeito:
– Ainda bem que era essa macarronada tão boa. Eu estava com medo que fosse galinha. Se tem uma coisa que eu detesto é galinha. Principalmente ao molho pardo.
Nem por isso senti que minha amiga não estava mais condenada à morte. Mesmo porque, meu pai gostava também de galinha, com ou sem o Dr. Junqueira. Por outro lado, ela podia ficar escondida o resto da vida (eu não tinha a menor ideia de quanto tempo vivia uma galinha). E na manhã seguinte a Maria viria lavar roupa, ia descobrir a galinha encolhida debaixo da bacia.
Depois que o almoço terminou e o Dr. Junqueira se despediu, fui lá perto do tanque fazer uma visitinha a ela, resolvido a ganhar tempo:
– Você hoje ainda vai dormir aí, mas amanhã eu te solto, está bem?
Ela fez que sim com a cabeça. […]
De manhãzinha, antes que a Maria lavadeira chegasse, fui até lá, levantei a bacia e peguei a galinha, procurei mamãe com ela debaixo do braço:
– Olha só quem está aqui.
Mamãe se espantou:
– Uai, ela não tinha sumido? Onde é que você encontrou essa galinha, Fernando?
De repente seus olhos se apertaram num jeito muito dela, quando entendia as coisas: havia entendido tudo. Antes que me passasse um pito, eu avisei:
– Se tiverem de matar a minha amiga, me matem primeiro.
Mamãe resolveu não se importar com o que eu tinha feito, pelo contrário: deixou que a galinha passasse a ser um de meus brinquedos. Só proibiu que eu a levasse para dentro de casa. A galinha me seguia os passos por toda parte, como um cachorrinho.
E ela continuou minha amiga, até morrer de velha, não sei quanto tempo mais tarde. […]
SABINO, Fernando. O menino no espelho. Rio De janeiro: Record, 1992 (adaptado).
De acordo com o texto, responda as atividades propostas.
a) Com qual novidade o narrador se deparou quando chegou da escola?
b) Como era o quintal da casa do narrador? O que tinha no quintal?
c) Onde o narrador viu a galinha pela primeira vez? Como ela estava e o que fazia?
d) Por quem e para que a galinha foi comprada?
e) O que o narrador resolveu fazer ao saber que Alzira mataria a galinha?
f) O pai do narrador ficou aborrecido pelo fato de a galinha ter desaparecido? O que ele sugeriu para a esposa fazer no almoço?
g) A mãe do narrador descobriu que ele escondeu a galinha? Qual atitude dela em relação ao que ele fez?
h) Qual é o nome do narrador? Qual é o nome do pai do narrador? Como é possível descobrir o nome deles?
i) Qual lugar a história acontece?
Atividade 2
Retire do texto trechos que comprovem as seguintes situações:
a) O narrador fez uma boa ação
b) o narrador deixou inicialmente a sua mãe em situação complicada
c) o narrador ajudou sua mãe mesmo sem ter essa intenção ao esconder a galinha.
Atividade 3
Releia os trechos:
a) “- Será que fugiu? Ou alguém roubou? […]
Agarrei a ideia no ar, era a salvação:
– Isso mesmo! Quando eu estava ali no quintal vi um homem passar correndo … Levava uma coisa escondida embaixo do paletó. Só podia ser a galinha”.
Com a leitura desse trecho o que é possível concluir com relação ao que o narrador disse? Justifique sua resposta
b) “- Se tiverem de matar a minha amiga, me matem primeiro”.
Com a leitura desse trecho o que é possível concluir sobre o sentimento do narrador em relação à galinha?
Atividade 4
O título do texto está coerente com o que foi desenvolvido na história?
Atividade 5
Identifique e transcreva do texto as características dadas as palavras seguintes:
a) quintal –
b) caixa de madeira –
c) Dr. Junqueira –
d) Galinha –
e) bacia –
Atividade 6
Identifique e escreva se as palavras sublinhadas apresentam ideia de tempo ou lugar.
a) Ao chegar da escola, dei com a novidade: uma galinha no quintal.
b) Agachou-se no canto do muro, me olhou de lado como as galinhas olham (…)
c) Na manhã de domingo me levantei bem cedo e fui dar uma espiada nela.
d) – Isso foi ontem. Hoje eu não vi ela ainda.
e) E na manhã seguinte a Maria viria lavar roupa, ia descobrir a galinha encolhida debaixo da bacia.
Atividade 7
O narrador desse texto participa da história ou apenas a observa? Justifique sua resposta com partes do texto.
Atividade 8
Reescreva a história lida a partir da seguinte perspectiva:
Como se você conhecesse a história e fosse contá-la a alguém que não a conheça.
No momento de desenvolver essa atividade, você pode retomar as marcas linguísticas que demarcam a primeira e terceira pessoa do singular e plural, eu-nós/ele-eles respectivamente. As marcas linguísticas poderão ser identificadas a partir da flexão dos verbos e da utilização dos pronomes. 10. Agora apresente para toda a turma a sua versão da história reescrita.
Saiba Mais | Referências:
Para ler mais textos narrativos que se caracterizam por contar lembranças que aconteceram ao longo da vida (memórias literárias) acesse:
https://www.escrevendoofuturo.org.br/arquivos/7929/coletanea-memoria.pdf
Nesse link você vai encontrar excelentes memórias literárias que lhe proporcionarão uma incrível viagem no tempo. Boa leitura!
Componente(s) Curricular(res) | Língua Portuguesa |
Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento | (EAJALP0713) Ler e compreender os mecanismos de intertextualidade (referências, alusões, retomadas) em textos literários narrativos. (EAJALP0714) Ler e ampliar os conhecimentos inerentes ao gênero literário narrativo. (EAJALP0514) Identificar nas obras literárias os valores sócio-históricos. (EAJALP0622) Reconhecer as questões identitárias/culturais nos textos literários. (EAJALP0715) Identificar os elementos da narrativa: espaço, tempo, personagens, conflito, clímax, foco narrativo, desfecho. (EAJALP0716) Compreender os tipos de narradores: narrador-personagem e narrador em terceira pessoa. (EAJALP0559) Analisar os efeitos de sentido advindos das escolhas linguísticas presentes em textos literários. (EAJALP0680) Analisar modificadores e perceber sua função na caracterização do espaço, tempo, personagens e ações. (EAJALP0561) Analisar os efeitos de narrativas em primeira e em terceira pessoas. (EAJALP0531) Planejar, produzir e revisar texto do gênero autobiografia. |
Professor | Lívia Aparecida da Silva |
Instituição Educacional | Escola Municipal João Braz/ E. M. Profª Cleonice M. Wolney (Coletivo único) |
CRE | Maria Helena Bretas |
EAJA –Experiências e Curiosidades – 2° Segmento – 5ª a 6ª séries