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Ciências da Natureza – Soros Antiofídicos

Esta proposta de atividade de Ciências da Natureza é destinada aos estudantes do 7º ano dos anos finais do Ensino Fundamental


Imagem 1. RUH, David. Close-up of a Rattlesnake on a Forest Floor. Canva. Download em 18/11/2025.

SOROS ANTIOFÍDICOS

Os animais peçonhentos possuem estruturas especializadas para injetar toxinas, como presas, ferrões, quelíceras ou até cerdas urticantes, que são como pequenos espinhos que se quebram na pele e liberam substâncias irritantes. Essas toxinas atuam de forma muito específica no organismo de presas e predadores (como forma de caça ou defesa) e também podem causar acidentes em seres humanos. Eles se diferem dos animais venenosos, pois estes causam intoxicação quando ingeridos ou tocados, sem ação de uma estrutura inoculadora.

No Brasil, os principais animais peçonhentos de interesse médico envolvem  jararacas (Gênero Bothrops), cascavéis (Crotalus durissus), surucucus-pico-de-jaca (Lachesis muta) e corais-verdadeiras (Gênero Micrurus); escorpiões do Gênero Tityus; aranhas do Gênero Loxosceles, Phoneutria e Latrodectus; e a lagarta-taturana, que é o estágio larval da mariposa Lonomia obliqua. Cada uma dessas espécies tem modos de vida específicos, assim como características morfológicas e ação de seus venenos. 

Especificamente sobre as serpentes peçonhentas brasileiras, todas elas, com exceção das corais-verdadeiras, possuem a fosseta loreal. Ela é uma pequena cavidade localizada entre o olho e a narina, capaz de detectar calor. Essa estrutura funciona como um “sensor térmico”, permitindo que a serpente perceba a presença de presas e predadores. 

Em relação aos acidentes ofídicos, as jararacas são responsáveis pela maioria dos casos, principalmente porque vivem próximas a áreas agrícolas e possuem comportamento defensivo. O veneno botrópico causa intensa dor, inchaço e sangramentos, podendo provocar necrose, que é a morte de uma parte do tecido no local da picada.

Nas cascavéis, o veneno é neurotóxico, ou seja, afeta o sistema nervoso (causando visão turva, sonolência e queda das pálpebras), e também miotóxico, isto é, danifica as fibras musculares, deixando a urina escura.

A surucucu possui veneno de ação mista, com efeitos semelhantes aos das jararacas e das cascavéis e, finalmente, as corais-verdadeiras têm veneno altamente neurotóxico, capaz de causar paralisia muscular progressiva, incluindo dificuldade respiratória.

Grande parte dos acidentes está relacionada a desequilíbrios ambientais, como desmatamento e queimadas, além da urbanização acelerada. Esses fatores tendem a destruir hábitats e afastar suas presas naturais como corujas, lagartos, sapos e gambás.

Quando ocorre um acidente, o tratamento mais eficaz é feito por soros antiveneno. Esta é uma forma de imunização passiva, pois fornece anticorpos prontos que neutralizam rapidamente a toxina. Diferentemente das vacinas, que estimulam a produção de anticorpos pelo próprio organismo (imunização ativa), os soros oferecem ação imediata, porém temporária, já que não criam memória imunológica. São, portanto, para tratamento

Veja abaixo os soros antiofídicos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI):

SoroAnimais RelacionadosObservações Importantes
AntibotrópicoJararacas
(Gênero Bothrops)
Soro mais usado no Brasil; indicado para acidentes botrópicos (coagulopatia, necrose e dor intensa).
AnticrotálicoCascavel(Crotalus durissusAcidentes com sinais neurotóxicos e miotóxicos (visão turva e urina escura).   
Antibotrópico-
crotálico
Jararacas e cascavéisUsado quando o animal não é identificado e há sinais mistos (coagulação alterada e neurotoxicidade).  
Antibotrópico-
laquético
Surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta) e, parcialmente, jararacasÉ o único soro que neutraliza Lachesis. Tem ação cruzada parcial com Bothrops.
Antielapídico   Corais-verdadeiras (Gênero Micrurus)Indispensável para envenenamento neurotóxico. Não funciona para “falsas corais”.    

O Brasil é referência mundial na produção desses soros, graças ao trabalho conjunto do Instituto Butantan (SP), do Instituto Vital Brazil (RJ) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, também no Rio de Janeiro). Caminhando juntas, essas instituições realizam um processo que envolve a coleta das toxinas, a sua inativação, seguida da imunização controlada de cavalos: animais escolhidos por possuírem grande volume sanguíneo, boa resposta imunológica e alta tolerância a pequenas doses de toxinas. Os anticorpos presentes no sangue dos cavalos são então coletados, purificados, padronizados e testados rigorosamente antes de serem disponibilizados ao SUS, que distribui esses soros gratuitamente em todo o país. Todo o processo segue rígidas normas de bem-estar animal, com monitoramento veterinário, intervalos entre coletas e manejo adequado.

Apesar da eficácia dos soros, a prevenção é sempre o melhor caminho. Para isso, recomenda-se: 

  • Manter o quintal limpo e livre de entulhos; 
  • Usar botas, luvas e perneiras em áreas de mata ou lavoura; 
  • Evitar o manuseio de troncos e madeiras empilhadas com as mãos desprotegidas.

Em caso de acidente, é fundamental saber o que fazer e o que não fazer. Entre as condutas corretas, estão lavar o local com água e sabão, manter o membro afetado imobilizado, retirar anéis ou pulseiras (pois o local pode inchar), manter a vítima em repouso e buscar imediatamente atendimento, levando uma foto do animal apenas se for seguro fazê-la. Não é seguro fazer torniquete, cortar ou sugar o local da picada; e aplicar gelo, álcool, folhas, pó de café, pomadas ou outras substâncias caseiras, todas sem eficácia e potencialmente perigosas.

RESPONDA ÀS QUESTÕES:

QUESTÃO 1

Durante uma trilha, uma estudante comenta que uma planta é “peçonhenta” porque causa irritação se alguém tocá-la. O professor corrige dizendo que o termo mais adequado seria “venenosa”. Isso acontece porque um animal peçonhento, diferente de um venenoso, é aquele que

(A) possui toxinas que causam reações apenas quando ingeridas ou manuseadas sem proteção adequada.

(B) injeta sua toxina ativamente no corpo por meio de estruturas especializadas de inoculação.

(C) libera substâncias irritantes somente em períodos específicos do seu ciclo de vida.

(D) apresenta toxinas que provocam efeitos imediatos independentemente do tipo de contato.

QUESTÃO 2

A fosseta loreal, presente na maioria das espécies de serpentes brasileiras de importância médica, é responsável por

(A) perceber diferenças de calor e localizar presas e predadores. 

(B) reconhecer vibrações sonoras emitidas por pequenos mamíferos. 

(C) armazenar veneno antes da inoculação durante o ataque. 

(D) melhorar a visão noturna ao ampliar a entrada de luz nos olhos.

QUESTÃO 3

Em uma comunidade rural, houve o aumento de serpentes em quintais e galpões depois que áreas de mata próximas foram derrubadas para abertura de pasto. Ao mesmo tempo, a expansão da cidade gerou muito entulho e acúmulo de resíduos. Explique por que tais fatores aumentam a ocorrência de acidentes com serpentes.

QUESTÃO 4

Em uma visita ao Instituto Butantan, os alunos perguntam se os cavalos sofrem durante a produção dos soros. A resposta mais adequada seria afirmar que eles

(A) recebem altas doses de diferentes venenos para acelerar a geração de anticorpos.

(B) passam por monitoramento, recebem pequenas doses e têm períodos regulares de descanso.

(C) precisam ser sacrificados ao final da produção para evitar contaminações futuras.

(D) têm o sangue coletado diariamente para que possam manter os anticorpos constantes.

QUESTÃO 5

Uma família amarra o braço de um jovem picado por jararaca, acreditando impedir que a peçonha se espalhe. Essa prática é perigosa porque

(A) facilita a circulação da toxina, aumentando o risco de afetar órgãos vitais rapidamente.

(B) concentra o veneno no local, gerando risco maior de necrose e complicações graves.

(C) reduz a necessidade de soro, pois impede que a toxina chegue à corrente sanguínea.

(D) substitui a lavagem da área afetada, sendo então uma medida desnecessária no hospital.

QUESTÃO 6

Uma família amarra o braço de um jovem picado por jararaca, acreditando impedir que a peçonha se espalhe. Essa prática é perigosa porque

(A) facilita a circulação da toxina, aumentando o risco de afetar órgãos vitais rapidamente.

(B) concentra o veneno no local, gerando risco maior de necrose e complicações graves.

(C) reduz a necessidade de soro, pois impede que a toxina chegue à corrente sanguínea

(D) substitui a lavagem da área afetada, sendo então uma medida desnecessária no hospital.

QUESTÃO 7

Um morador de zona rural chega ao hospital após ser picado por uma serpente, mas o animal não foi visto e a vítima apresenta sintomas confusos: dor e inchaço intensos na perna, mas também queda de pálpebras e visão embaçada. Nesse caso, qual será o soro indicado para tratamento desse acidente ofídico? Explique a sua resposta. 

QUESTÃO 8

Um adolescente foi picado por uma cascavel e recebeu soro anticrotálico ainda no hospital da cidade. A família ficou em dúvida sobre por que o soro age rapidamente, mas não “deixa a pessoa imune” para o futuro. Explique por que os soros são considerados um tipo de imunização passiva, e não ativa.

QUESTÃO 9

Complete as frases usando consequências lógicas:

A) Se uma pessoa amarra o braço após uma picada, então…

B) Se a cidade não recebe soros a tempo, então…

C) Se o organismo recebe anticorpos prontos, então…

D) Se o Instituto Butantan não existisse, então…

QUESTÃO 10

Diário de um glóbulo branco: escreva 5 a 8 linhas como se você fosse um anticorpo viajando pelo corpo humano após a aplicação de um soro. Assim, conte: (a) o que você encontra, (b) quem você ajuda e (c) quais são os “vilões” do dia.

FAÇA VOCÊ MESMA/O!

Crie um “cartão de emergência de bolso” com informações essenciais que qualquer pessoa deveria ter em caso de acidente com animal peçonhento. Inclua: (a) o que fazer, (b) o que não fazer, (c) qual serviço procurar e (d) onde o soro entra no tratamento. Use poucas palavras e muitas imagens, ou emojis, ou símbolos.


Autoria:Prof.ª M.ª Mariana Araguaia
Formação:Ciências Biológicas
Componente Curricular:Ciências da Natureza
Objetos de conhecimento:Programas e indicadores de saúde pública: Vacinas
Habilidades:(EF07CI10-B) Comparar o mecanismo de ação de soro e vacina, diferenciando a imunização ativa da passiva.
Referências:AGÊNCIA Brasil. Fiocruz faz 122 anos fabricando vacinas e remédios para todo o país. Disponível em https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2022-05/Fiocruz-faz-122-anos-fabricando-vacinas-e-remedios-para-todo-pais. Acesso em 26 nov 2025.

BRASIL. Animais peçonhentos. Ministério da Saúde. Disponível em https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/animais-peconhentos. Acesso em 26 nov 2025.

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______. Acidentes ofídicos. Ministério da Saúde. Disponível em https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/animais-peconhentos/acidentes-ofidicos. Acesso em 26 nov 2025.

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CARNEVALLE, M. R. Araribá mais Ciências: 7º ano: ensino fundamental: anos finais. 1. ed. São Paulo: Moderna, 2018. 272 p. Acesso em 26 nov 2025.

CLP – Centro de Liderança Pública. Fiocruz e Butantan: como elas se consolidaram na produção de vacinas. Disponível em https://clp.org.br/fiocruz-e-butantan-como-elas-se-consolidaram-na-producao-de-vacinas. Acesso em 26 nov 2025.

FIOCRUZ. Imunobiológicos – trajetória científica de Oswaldo Cruz. Disponível em https://oswaldocruz.fiocruz.br/index.php/biografia/trajetoria-cientifica/no-instituto-oswaldo-cruz/imunobiologicos. Acesso em 26 nov 2025.

GALVÃO, Rodrigo. Fiocruz e Butantan: como se consolidaram as instituições-chave na produção de vacinas no Brasil. CLP – Centro de Liderança Pública. Disponível em https://clp.org.br/fiocruz-e-butantan-como-elas-se-consolidaram-na-producao-de-vacina. Acesso em 26 nov 2025.

GOIÁS. Documento Curricular para Goiás – Ampliado. Volume III Ensino Fundamental Anos Finais. Disponível em https://tinyurl.com/bdcn9bpn. Acesso em 26 nov 2025.

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HIRANAKA, R. A. B.; HORTENCIO, T. M. A. Inspire Ciências: 7º ano: ensino fundamental: anos finais. 1. ed. São Paulo: FTD, 2018. 256 p. Acesso em 26 nov 2025.

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______. Cobra cascavel, a agitadora de chocalho das terras brasileiras. Bubu Tantan. Disponível em https://butantan.gov.br/bubutantan/cobra-cascavel-a-agitadora-de-chocalho-das-terras-brasileiras. Acesso em 26/11/2025.

______. Do veneno ao frasco: entenda como são fabricados os soros hiperimunes do Butantan. Disponível em https://butantan.gov.br/noticias/do-veneno-ao-frasco-entenda-como-sao-fabricados-os-soros-hiperimunes-do-butantan. Acesso em 26 nov 2025.

______. Onde eu consigo o soro para picada de animais peçonhentos? Antivenenos produzidos pelo Butantan são distribuídos pelo SUS. Disponível em https://butantan.gov.br/noticias/onde-eu-consigo-o-soro-para-picada-de-animais-peconhentos-antivenenos-produzidos-pelo-butantan-sao-distribuidos-pelo-sus. Acesso em 26 nov 2025.

______. Publicações educativas. Disponível em https://publicacoeseducativas.butantan.gov.br/. Acesso em 26 nov 2025.

______. Soros. Disponível em https://butantan.gov.br/soros. Acesso em 26 nov 2025.

______. Soros e vacinas. Disponível em https://butantan.gov.br/soros-e-vacinas/soros. Acesso em 26 nov 2025.

RIO de Janeiro. Soros produzidos pelo Instituto Vital Brazil. Governo do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em https://www.rj.gov.br/vitalbrazil/sorosproduzidos. Acesso em 26 nov 2025.