Esta atividade de Língua Portuguesa tem como base o DC/GO – Ampliado e está destinada a estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental.

Os recursos ortográficos e morfossintáticos na produção do texto
A construção de sentidos em um texto não depende apenas das palavras escolhidas, mas também de como elas são organizadas e dos sinais gráficos que acompanham a escrita. Nesse sentido, a seleção vocabular, a pontuação, a ordem das palavras, o emprego de pronomes, tempos verbais e afixos, por exemplo, são elementos que ajudam o autor a transmitir emoções, intenções e nuances interpretativas no texto.
Os recursos ortográficos, como reticências, travessões, ponto de exclamação e maiúsculas, ajustam o ritmo, indicam hesitações, revelam surpresa, marcam falas ou evidenciam emoções. Além disso, um mesmo enunciado pode adquirir significados diferentes dependendo de como é pontuado. Por exemplo, a frase “Pai!…” expressa surpresa ou emoção intensa, enquanto “Pai?…” sugere dúvida e insegurança. Assim, a pontuação não é apenas uma convenção: ela é parte do processo de significação.
Já os recursos morfossintáticos surgem na forma como as palavras se flexionam e se organizam na frase. A escolha do tempo verbal, por exemplo, pode aproximar ou distanciar o leitor da ação; já o uso de pronomes define relações de proximidade, respeito ou distanciamento; e a ordem dos termos pode destacar um elemento importante. Da mesma forma, prefixos e sufixos assumem papel expressivo: diminutivos podem indicar carinho ou ironia, aumentativos podem reforçar grandeza ou exagero.
Todos esses elementos aparecem de forma integrada nos textos. Em narrativas, por exemplo, o emprego de travessões torna a cena mais dinâmica; em crônicas, reticências criam pausas reflexivas; em notícias, tempos verbais no pretérito demonstram objetividade. Em quaisquer gêneros, reconhecer intencionalmente esses recursos é fundamental para uma leitura crítica e para uma escrita mais precisa.
Veja o exemplo a seguir:
Quando Maria abriu a porta, não esperava ninguém.
— Pai?… — disse baixinho.
O homem sorriu.
— Faz tanto tempo…
Ela não sabia se corria para abraçá-lo ou se fechava a porta novamente.
O silêncio, por alguns segundos, falou mais que qualquer palavra.
Então, finalmente, ela sussurrou:
— Entra.
O texto apresenta diversos recursos ortográficos e morfossintáticos que contribuem para a construção de um clima emocional e de suspense. O uso do travessão marca as falas, tornando a cena mais dinâmica e aproximando o leitor do diálogo entre as personagens. As reticências em “Pai?…” e “Faz tanto tempo…” revelam hesitação, surpresa e a carga afetiva do reencontro, indicando pausas que refletem a emoção contida dos personagens. A combinação de interrogação com reticências sugere dúvida e incredulidade de Maria ao reconhecer o pai. No plano morfossintático, a estrutura “Ela não sabia se corria para abraçá-lo ou se fechava a porta novamente” evidencia a indecisão da personagem, construída pela coordenação alternativa com “ou”. Já o emprego do pretérito (“abriu”, “sorriu”, “sabia”) situa os fatos como ações concluídas, narradas com certo distanciamento, enquanto o uso do verbo “sussurrou” cria um tom de intimidade e fragilidade. Nesse sentido, cada escolha linguística contribui para intensificar a tensão, sugerir emoções e orientar a interpretação do leitor.
Assim, dominar os efeitos de sentido produzidos por recursos ortográficos e morfossintáticos significa ler melhor, interpretar com mais profundidade e comunicar-se de forma mais clara. É compreender que o sentido não está apenas no que se diz, mas em como se diz.
Assista à videoaula do professor Marlon Santos com essa temática.
Responda às questões a seguir.
Leia o seguinte texto para responder às questões 1 a 5.
O céu começava a clarear quando Lucas chegou ao ponto de ônibus. A rua ainda estava vazia, e o vento da manhã parecia empurrar seus pensamentos para longe.
— Será que vai dar certo?… murmurou, apertando a alça da mochila.
Era o dia da sua primeira entrevista de estágio, e as horas anteriores tinham sido uma mistura de expectativa e dúvida. Um carro se aproximou devagar, iluminando a calçada.
— Lucas? — chamou uma voz de dentro.
O garoto deu um passo para trás.
— Professor Renato?… — perguntou, sem esconder a surpresa.
O homem sorriu de leve.
— Vim desejar boa sorte. Você trabalhou duro… não tinha como deixar passar.
Lucas não sabia se agradecia de imediato ou se perguntava como o professor havia descoberto o horário da entrevista. Por alguns segundos, apenas o barulho do motor preencheu o silêncio tenso do momento. Então, respirando fundo, ele respondeu:
— Obrigado. Acho que agora eu consigo.
O ônibus chegou. A porta do ônibus se abriu com um chiado, como se também tivesse algo a dizer. Lucas subiu, olhou para trás e ouviu o professor concluir:
— Vai lá. É o seu dia.
QUESTÃO 1
Explique o efeito de sentido criado pelo uso das reticências no trecho: “Você trabalhou duro… não tinha como deixar passar.”.
QUESTÃO 2
No trecho “— Será que vai dar certo?…”, por que o autor combina o ponto de interrogação com reticências? O que essa combinação revela sobre Lucas?
QUESTÃO 3
Em “Lucas não sabia se agradecia de imediato ou se perguntava como o professor havia descoberto o horário da entrevista”, o formato sintático com “ou” expressa
(A) duas ações simultâneas e obrigatórias.
(B) a dúvida do garoto entre duas possibilidades.
(C) a certeza sobre uma das ações a ser realizada.
(D) a mudança repentina de tempo verbal.
QUESTÃO 4
O uso de travessões ao longo do texto tem como principal função
(A) marcar hesitações internas do narrador.
(B) introduzir falas das personagens.
(C) substituir vírgulas no período.
(D) indicar mudança de cenário.
QUESTÃO 5
No trecho “O garoto deu um passo para trás. — Professor Renato?… — perguntou, sem esconder a surpresa.”, o uso de interrogação + reticências indica
(A) ironia e surpresa.
(B) entusiasmo e ironia.
(C) insegurança e surpresa.
(D) indiferença e medo.
| Autoria: | Marlon Santos |
| Formação: | Letras – Português |
| Componente curricular: | Língua Portuguesa |
| Conteúdo(s)/Objeto(s) de conhecimento | Relações entre recursos expressivos e efeitos de sentido |
| Habilidade estruturante: | (EF69LP47-B) Perceber como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto, indireto e indireto livre), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios de cada gênero narrativo. |
| Descritor: | D19 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáticos. |
| Referências: | Documento Curricular para Goiás (DC-GO). Goiânia/GO: CONSED/ UNDIME Goiás, 2018. Disponível em: <https://cee.go.gov.br> Acesso em: 03, fev. 2025 CEREJA, Willian Roberto; CLETO, Ciley. Interpretação de textos: desenvolvendo a competência leitora 9º ano. São Paulo: Atual, 2013. |
