Esta atividade de Língua Portuguesa tem como base o DC/GO – Ampliado e está destinada a estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental.

Marcas linguísticas que evidenciam locutor e interlocutor
Quando lemos ou produzimos um texto, é importante percebermos que toda comunicação envolve, no mínimo, duas instâncias: quem fala ou escreve (o locutor) e quem ouve ou lê (o interlocutor). Esses dois elementos são fundamentais para compreendermos a intencionalidade de uma mensagem, ou seja, o motivo pelo qual ela foi criada e como ela se dirige a alguém. Reconhecer as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor é uma habilidade essencial tanto para interpretar quanto para produzir textos de maneira consciente e eficaz.
O locutor é a figura de quem produz o discurso. Em um texto escrito, o locutor pode se manifestar de diferentes maneiras: por meio de pronomes de primeira pessoa (eu, nós, meu, nossa), de verbos conjugados na primeira pessoa (eu digo, nós pensamos), de marcas de opinião ou posicionamento, como “na minha visão”, “acredito que”, “penso que”, ou até mesmo pela escolha de palavras que revelam emoções e sentimentos. Por exemplo, em um bilhete que diz: “Estou muito feliz com a sua visita”, o emprego de “estou” mostra claramente a presença do locutor, que se coloca no discurso de forma explícita.
Já o interlocutor é aquele para quem a mensagem é destinada, ou seja, o ouvinte, leitor ou receptor do texto. O interlocutor também pode ser identificado por marcas linguísticas, como pronomes de segunda pessoa (tu, você, vocês, te, ti), vocativos (nomes ou expressões usadas para chamar a atenção do destinatário, como “Querido aluno”, “Caro amigo”), verbos conjugados na segunda pessoa (tu sabes, tu fazes) ou mesmo construções que mostram que o texto se dirige a alguém em particular. Por exemplo: “Você precisa entregar o trabalho amanhã”. Nesse caso, o “você” evidencia a presença de um interlocutor para quem a mensagem é endereçada.
Em um texto narrativo, por exemplo, é comum que os personagens dialoguem entre si. Nesse caso, dizemos que há um processo de interlocução entre eles. Assim, os turnos de fala podem ir se alternando e o narrador demarca esses turnos por meio do uso dos verbos dicendi.
Além disso, é importante considerar que usamos a mesma língua, mas a usamos de forma diferente, quer pelas nossas próprias características, quer pelo nosso nível de escolarização, regionalismos, informalidade ou formalidade do que e como queremos dizer etc. Para tanto, o contexto da interação e as intenções do ato de comunicação precisam ser consideradas no texto. Assim, identificar as marcas que podem caracterizar os interlocutores em diferentes momentos e espaços, por exemplo, pode se dar por meio do vocabulário, do grau de formalidade dos interlocutores e até assunto.
Embora locutor e interlocutor pareçam categorias simples, sua identificação em textos é importante para compreender intenções comunicativas. Do ponto de vista da leitura, identificar quem é o locutor e o interlocutor e as marcas textuais que os caracterizam ajuda a compreender de onde vem a mensagem, qual é o contexto em que ela foi produzida e a quem ela se destina e o efeito de sentido que ela implica. Esse procedimento possibilita interpretar com maior profundidade e senso crítico, evitando leituras ingênuas. Já na escrita, perceber a relação entre locutor e interlocutor possibilita, por exemplo, a escolha do vocabulário, do grau de formalidade e da forma de organização textual.
Assista à videoaula do professor Marlon Santos com essa temática.
Responda às questões a seguir.
Leia o seguinte texto para responder às questões 1 a 3.
Um Apólogo
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
– Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
– Deixe-me, senhora.
– Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
– Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
– Mas você é orgulhosa.
– Decerto que sou.
– Mas por quê?
– É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
– Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?
– Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados…
– Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando…
– Também os batedores vão adiante do imperador.
– Você é imperador?
– Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
ASSIS, Machado de. Um apólogo. Domínio público. Disponível em: <https://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000231.pdf>
QUESTÃO 1
A partir da leitura do fragmento do apólogo de Machado de Assis, pode-se perceber que o teor da discussão entre a linha e a agulha gira ao redor da
(A) tentativa de definir quem é mais inteligente.
(B) disputa de vaidade e de importância no trabalho que realizam.
(C) discussão sobre quem obedece mais às ordens da costureira.
(D) divergência religiosa e social entre as duas personagens.
QUESTÃO 2
No trecho “– É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?” duas marcas que evidenciam a interlocução da linha são
(A) o verbo e o pronome pessoal.
(B) os substantivos e o pronome possessivo.
(C) a conjunção e o pronome pessoal.
(D) a exclamação e as aspas.
QUESTÃO 3
No trecho do texto, qual é o grau de formalidade utilizada pelas personagens a partir da forma como elas interagem entre si?
Leia o seguinte texto para responder às questões 4 e 5.
Queridos estudantes,
Lembramos que no próximo sábado teremos nossa excursão ao Museu de Arte Contemporânea. Pedimos que todos levem lanche e usem roupas confortáveis. Contamos com a presença de cada um de vocês para que a experiência seja enriquecedora.
Equipe de Coordenação
Elaborado pela equipe NEC – SME/Goiânia, para fins didáticos.
QUESTÃO 4
O trecho “Contamos com a presença de cada um de vocês” evidencia
(A) a ausência do locutor.
(B) a presença do interlocutor.
(C) um enunciado impessoal.
(D) apenas uma informação factual.
QUESTÃO 5
Explique quais marcas linguísticas no aviso deixam claro quem é o locutor e quem é o interlocutor. Justifique sua resposta com base em evidências textuais.
Autoria: | Marlon Santos |
Formação: | Letras – Português |
Componente curricular: | Língua Portuguesa |
Conteúdo(s)/Objeto(s) de conhecimento | Procedimentos de leitura |
Habilidade estruturante: | (EF69LP50-B) Indicar as rubricas para caracterização do cenário, do espaço, do tempo; explicitando a caracterização física e psicológica dos personagens e dos seus modos de ação; reconfigurando a inserção do discurso direto e dos tipos de narrador; explicitando as marcas de variação linguística (dialetos, registros e jargões) e retextualizando o tratamento da temática. |
Descritor: | D13 – Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto. |
Referências: | Documento Curricular para Goiás (DC-GO). Goiânia/GO: CONSED/ UNDIME Goiás, 2018. Disponível em: <https://cee.go.gov.br> Acesso em: 03, fev. 2025 CEREJA, Willian Roberto; CLETO, Ciley. Interpretação de textos: desenvolvendo a competência leitora 9º ano. São Paulo: Atual, 2013. |