Esta atividade de Língua Portuguesa tem como base o DC/GO – Ampliado e está destinada a estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental.

Paródia
Você já aprendeu que a intertextualidade é a relação que os textos mantêm entre si. A intertextualidade acontece quando um determinado texto faz referência a outro, ou a uma situação e/ou acontecimento preexistente. Essa referência pode ser explícita ou implícita, isto é, pode aparecer escrita no texto ou subentendida nas entrelinhas dele.
A intertextualidade exige do leitor certo conhecimento prévio do texto ou assunto relacionado. Sem esse conhecimento, fica mais difícil captar todas as referências de um texto que estão contidas no outro. Nesse sentido, é importante que o leitor esteja em constante busca por um conhecimento amplo, que lhe garanta uma boa bagagem cultural.
Um exemplo muito conhecido de intertextualidade é a paródia.
A paródia é um tipo de texto que nasce do diálogo com outro texto famoso. Ela “pega carona” em algo que o leitor já conhece, por exemplo, um poema, uma música, um anúncio, um provérbio, e o recria com outra intenção: provocar humor, fazer crítica, atualizar o tema, brincar com o sentido.
Para funcionar, a paródia mantém algumas marcas reconhecíveis do original, como o ritmo, a estrutura, uma frase-chave, a situação narrada, mas muda o foco, o assunto ou o tom. É diferente de paráfrase, que reescreve dizendo a mesma coisa com outras palavras.
Na paródia há sempre um deslocamento: o que era sério pode virar engraçado; o que era solene vira cotidiano; o que era romântico vira crítico. No nosso cotidiano, paródias aparecem quando alguém reescreve a letra de uma música para falar da escola, quando uma propaganda se inspira em um slogan famoso para brincar com um novo produto, quando um meme usa uma frase conhecida e a coloca em outra situação.
Na literatura brasileira, um exemplo clássico de texto que sempre é parodiado é o poema “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, tantas vezes recriado para falar do Brasil de outros tempos ou de assuntos atuais. Em todos os casos, a graça e o sentido da paródia dependem da memória do leitor: se ele reconhece o original, entende a nova piada, a crítica ou a reflexão.
Criar paródia é um exercício criativo e muito útil para a leitura e a escrita. Primeiro, porque exige do produtor compreender profundamente o original: qual é a ideia central? qual é o tom do texto? quem fala e para quem? como é a linguagem (formal, coloquial, poética, publicitária)? Segundo, porque convida a reformular: ao mudar de tema, de ponto de vista ou de intenção, você aprende a planejar, escolher palavras, pensar no efeito que quer produzir.
Veja um exemplo:
Texto-fonte: trecho de “Canção do Exílio”, Gonçalves Dias
“Minha terra tem palmeiras,
onde canta o sabiá;
as aves que aqui gorjeiam
não gorjeiam como lá.”
Texto parodiado
“Minha sala tem janelas,
onde o vento quer entrar;
mas o ar-condicionado
não me deixa respirar.”
Perceba como a paródia mantém repetição rítmica, versos curtos e um “eu” que sente falta de algo; porém, o assunto passa da paisagem nacional para o desconforto com o ambiente local.
Assista à videoaula do professor Marlon Santos com essa temática.
Responda às questões a seguir.
Leia o seguinte texto para responder às questões.
Texto 1 – Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
DIAS, Gonçalves. Canção do Exílio. In: Primeiros Cantos.
Texto 2 – Canção da escola
Minha escola tem merenda,
Que a tia vem nos chamar;
Os colegas na fila esperam,
Todo mundo quer provar.
.
Nossa sala tem ideias,
Nosso quadro tem saber,
Nossa vida tem amigos,
E também o aprender.
.
Em pensar, sozinho, à noite,
Mais histórias vou lembrar;
Minha escola tem merenda,
Que a tia vem nos chamar.
.
Minha escola tem primores,
Que não encontro por lá;
São os livros, são as aulas,
E os professores a ensinar;
Minha escola tem merenda,
Que a tia vem nos chamar.
.
Não permita Deus que eu falte,
Sem poder aqui estudar;
Sem que desfrute os saberes,
Que a escola pode me dar;
Sem qu’inda veja os amigos,
No recreio a brincar.
Elaborado pela equipe NEC – SME/Goiânia, para fins didáticos.
QUESTÃO 1
A principal relação entre “Canção do Exílio” e a paródia “Canção da Escola” é que
(A) ambas descrevem a fauna e a flora do Brasil, mas cada um de um lugar.
(B) ambas abordam a saudade da infância querida que os anos não trazem mais.
(C) a paródia retoma a estrutura e estilo do poema original, mas muda o tema.
(D) não existe nenhuma relação observável entre os dois textos.
QUESTÃO 2
Em comparação com a “Canção do Exílio”, o recurso poético mantido na paródia é:
(A) a repetição de versos e ideias.
(B) a ausência de rima e ritmo nos versos.
(C) o uso de metáforas visuais de escola.
(D) a enumeração de elementos da natureza.
QUESTÃO 3
O tom predominante na paródia é
(A) humorístico e crítico.
(B) solene e saudosista.
(C) afetivo e valorizador da escola.
(D) trágico e pessimista.
QUESTÃO 4
Na paródia, em “Minha escola tem merenda, / Que a tia vem nos chamar”, a palavra “tia” remete a:
(A) uma personagem mítica da literatura brasileira.
(B) uma forma de se referir à merendeira da escola.
(C) uma professora que ensina português.
(D) um familiar querido do eu lírico.
QUESTÃO 5
Compare os cenários apresentados: enquanto Gonçalves Dias fala de “palmeiras e sabiá”, a paródia fala de “merenda” e “amigos”. O que essa mudança revela sobre a intenção do autor da paródia?
QUESTÃO 6
Explique o efeito produzido pela repetição do verso “Minha escola tem merenda” ao longo do poema.
QUESTÃO 7
A última estrofe da paródia termina com o recreio e os amigos. O que isso mostra sobre a visão de escola construída no poema?
QUESTÃO 8
Chegou a sua vez de criar uma paródia. Siga o passo a passo:
A) Para começar, escolha um texto-fonte que você realmente conheça. Observe a estrutura: se for um poema, como são as estrofes, onde há repetições, quais imagens marcam o texto. Se for música, repare no refrão e nas rimas. Se for anúncio, note o slogan, a promessa, o público-alvo.
B) Depois, decida o novo propósito: você quer transformar o tom sério em humor? Quer atualizar o tema para a realidade da sua turma ou da sua cidade? Quer criticar um comportamento?
C) Por fim, mantenha pistas visíveis do original (um verso ecoado, uma frase famosa, a mesma organização das partes), mas crie contrastes: troque o cenário, mude o assunto, brinque com rimas inesperadas, substitua palavras-chave por outras do novo campo semântico.
D) Ao revisar, verifique se alguém que conheça o original reconhece a “ponte” e, ao mesmo tempo, percebe o novo sentido.
Autoria: | Marlon Santos |
Formação: | Letras – Português |
Componente curricular: | Língua Portuguesa |
Conteúdo(s)/Objeto(s) de conhecimento | Relação entre textos / Produção de poemas parodiados |
Habilidade estruturante: | (EF89LP36-A) Parodiar poemas conhecidos da literatura (brasileira e goiana) e criar textos em versos (como poemas concretos, ciberpoemas, haicais, liras, microrroteiros, lambe-lambes e outros tipos de poemas). |
Referências: | Documento Curricular para Goiás (DC-GO). Goiânia/GO: CONSED/ UNDIME Goiás, 2018. Disponível em: <https://cee.go.gov.br> Acesso em: 03, fev. 2025 CEREJA, Willian Roberto; CLETO, Ciley. Interpretação de textos: desenvolvendo a competência leitora 7º ano. São Paulo: Atual, 2013. |