Esta atividade de Língua Portuguesa tem como base o DC/GO – Ampliado e está destinada a estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental.

O texto memorialístico
O texto memorialístico é um gênero textual em que o autor relata experiências vividas, geralmente ligadas à infância, à juventude ou a momentos marcantes da vida. Ao escrever um memorial, a pessoa resgata lembranças pessoais, narrando-as com emoção e reflexão. Assim, esse gênero une realidade, memória e sentimentos, fazendo com que o leitor se aproxime da história contada.
Esse gênero é narrado, quase sempre, em primeira pessoa, pois é o próprio autor quem conta o que viveu. Ao mesmo tempo, ele não se limita a apenas contar fatos: o texto memorialístico também traz descrições, sentimentos, pensamentos e interpretações do passado.
Principais características do texto memorialístico
Narrador em primeira pessoa: o “eu” é quem viveu os fatos.
Memórias reais: baseia-se em acontecimentos que realmente aconteceram com o autor.
Reflexão: o texto mostra como o autor se sentiu e o que aprendeu com aquela experiência.
Forte carga emocional: a linguagem valoriza sentimentos e afetos.
Elementos narrativos: tempo, espaço, personagens, enredo.
Detalhamento descritivo: as cenas são contadas com atenção aos detalhes sensoriais (sons, cheiros, imagens, sensações).
Ao ler um texto memorialístico, é importante identificar: quem narra a história e qual é seu ponto de vista, qual é a lembrança central e por que ela é significativa. Também devemos levar em conta quais sentimentos estão presentes na narrativa, que reflexões o autor faz sobre o que viveu, além de observar como o tempo é tratado (passado, presente, memórias distantes ou recentes). Desse modo, o leitor interpreta o texto de forma mais profunda, indo além da simples compreensão do que está escrito.
Ao produzir um texto memorialístico, portanto, você deve escolher uma lembrança marcante e pessoal, contar a história em ordem lógica ou emocional, mesmo que não seja cronológica, usar detalhes sensoriais e linguagem subjetiva para envolver o leitor e refletir sobre o que aprendeu ou sentiu naquele momento. Esses passos estimulam o desenvolvimento da sua autonomia narrativa, do autoconhecimento, da organização textual e da expressividade por meio da escrita.
Assista à videoaula do professor Marlon Santos com essa temática.
Responda às questões a seguir.
Leia o trecho do romance “Menino de engenho”, de José Lins do Rego, para responder às questões.
Eu tinha sido criado num primeiro andar. Todo o meu conhecimento do campo fizera nuns passeios de bonde a Dois Irmãos.
E era com olhos de deslumbrado que olhava então aqueles sítios, aquelas mangueiras e os meninos que via brincando por ali. As divergências de meu pai com meu avô nunca permitiram à minha mãe fazer uma temporada no engenho. Minha imaginação vivia assim a criar esse mundo maravilhoso que eu não conhecia. Sempre que perguntava a minha mãe por que não me levava para o engenho, ela se desculpava com o emprego de meu pai. Daí a impressão extraordinária que me iam causando os mais insignificantes aspectos de tudo o que estava vendo.
Depois do café mandaram-me para o engenho, que estava nos fins da moagem. Eram uns restos de cana que aproveitavam.
— Quase que você não pega o engenho safrejando — me disse o tio Juca.
Ficava a fábrica bem perto da casa-grande. Um enorme edifício de telhado baixo, com quatro biqueiras e um bueiro branco, a boca cortada em diagonal. Não sei por que os meninos gostam tanto das máquinas. Minha atenção inteira foi para o mecanismo do engenho. Não reparei mais em nada. Voltei-me inteiro para a máquina, para as duas bolas giratórias do regulador. Depois comecei a ver os picadeiros atulhados de feixes de cana, o pessoal da casa de caldeiras. Tio Juca começou a me mostrar como se fazia o açúcar. O mestre Cândido com uma cuia de água de cal deitando nas tachas e as tachas fervendo, o cocho com o caldo frio e uma fumaça cheirosa entrando pela boca da gente.
— É aqui onde se cozinha o açúcar. Vamos agora para a casa de purgar.
Dois homens levavam caçambas com mel batido para as formas estendidas em andaimes com furos. Ali mandava o purgador, um preto, com as mãos metidas na lama suja que cobria a boca das formas. Meu tio explicava como aquele barro preto fazia o açúcar branco. E os tanques de mel de furo, com sapos ressequidos por cima de uma borra amarela, me deixaram uma impressão de nojo.
Andamos depois pela boca da fornalha, pela bagaceira coberta de um bagaço ainda úmido. Mas o que mais me interessava ali era o maquinismo, o movimento ronceiro da roda grande, e a agitação febril das duas bolas do regulador.
Quando vieram me chamar para o almoço, ainda me encontraram encantado diante da roda preguiçosa, que mal se arrastava, e as duas bolas alvoroçadas, que não queriam parar.
REGO, José Lins do. Menino de engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003. p. 12-13.
QUESTÃO 1
Explique como a memória e o sentimento estão presentes no fragmento acima.
QUESTÃO 2
Quais aspectos da vida no engenho são destacados pelo autor? Qual a importância disso para o entendimento de sua identidade?
QUESTÃO 3
Faça uma pesquisa sobre o escritor brasileiro José Lins do Rego. Em seguida, aponte elementos do texto que indicam seu caráter autobiográfico.
QUESTÃO 4
Leia o seguinte texto:
Nascido em Palmares, Pernambuco, em 1901, José Lins do Rego foi um dos mais importantes autores do ciclo do açúcar. Sua obra retrata a decadência dos engenhos nordestinos e a memória de sua infância.
O texto acima é um exemplo de
(A) um diário pessoal
(B) uma autobiografia
(C) um perfil jornalístico
(D) uma biografia
QUESTÃO 5
Os textos biográficos
(A) são textos ficcionais com personagens inventados.
(B) sempre são poéticos e escritos na primeira pessoa.
(C) objetivam narrar a trajetória de uma pessoa real.
(D) têm estrutura fixa e não permitem variações.
QUESTÃO 6
Em uma autobiografia, é comum encontrar
(A) predominância da terceira pessoa.
(B) narrativa exclusiva de personagens fictícios.
(C) uso da primeira pessoa e perspectiva pessoal.
(D) foco apenas em conquistas profissionais.
Autoria: | Marlon Santos |
Formação: | Letras – Português |
Componente curricular: | Língua Portuguesa |
Conteúdo(s)/Objeto(s) de conhecimento | Gêneros literários |
Habilidade estruturante: | (EF69LP47-B) Perceber como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto, indireto e indireto livre), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios de cada gênero narrativo. |
Descritor: | D4 – Inferir uma informação implícita em um texto. |
Referências: | Documento Curricular para Goiás (DC-GO). Goiânia/GO: CONSED/ UNDIME Goiás, 2018. Disponível em: <https://cee.go.gov.br> Acesso em: 03, fev. 2025 REGO, José Lins do. Menino de engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003. |