Esta atividade de Língua Portuguesa tem como base o DC/GO – Ampliado e está destinada a estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental.

O romance social
O romance social é um tipo de narrativa que apresenta personagens, enredos e cenários ligados diretamente a problemas vividos pela sociedade. Diferente de histórias que abordam apenas aventuras ou emoções individuais, o romance social tem como objetivo mostrar e criticar realidades como a pobreza, a fome, o preconceito, a desigualdade, a violência e a exclusão social.
Na literatura brasileira, esse tipo de romance ganhou força no século XX, em meados de 1930, especialmente com o movimento modernista, quando escritores começaram a retratar de forma mais realista a vida das pessoas comuns — principalmente os mais pobres e marginalizados. A linguagem ficou mais direta, o ambiente mais próximo da realidade e os personagens mais humanos.
A obra “O Quinze”, de Rachel de Queiroz, é um grande exemplo de romance social. Publicado em 1930, o livro mostra os efeitos da seca de 1915 no sertão nordestino e a luta do povo sertanejo para sobreviver. O sofrimento dos retirantes, a desigualdade social e a crítica à falta de apoio do governo estão presentes de forma marcante no enredo.
Outros autores também se destacam nesse tipo de romance, como Graciliano Ramos, autor da obra “Vidas Secas” e “São Bernardo”, e Jorge Amado, autor de “Capitães da Areia” e “Tieta do Agreste”.
O romance social, portanto, não serve apenas para contar uma história, mas para refletir sobre a sociedade, provocar o leitor e mostrar que a literatura também é uma forma de resistência e transformação.
Ao ler um romance social, pergunte-se: Que problemas sociais estão sendo retratados aqui? O que o autor parece criticar ou denunciar com essa história?
Assista à videoaula do professor Marlon Santos com essa temática.
Responda às questões a seguir.
Leia o fragmento do romance “O Quinze”, de Rachel de Queiroz, para responder às questões.
Agora, ao Chico Bento, como único recurso, só restava arribar.
Sem legume, sem serviço, sem meios de nenhuma espécie, não havia de ficar morrendo de fome, enquanto a seca durasse. Depois, o mundo é grande e no Amazonas sempre há borracha…
Alta noite, na camarinha fechada que uma lamparina moribunda alumiava mal, combinou com a mulher o plano de partida.
Ela ouvia chorando, enxugando na varanda encarnada da rede, os olhos cegos de lágrimas.
Chico Bento, na confiança do seu sonho, procurou animá-la, contando-lhe os mil casos de retirantes enriquecidos no Norte.
A voz lenta e cansada vibrava, erguia-se, parecia outra, abarcando projetos e ambições. E a imaginação esperançosa aplanava as estradas difíceis, esquecia saudades, fome e angústias, penetrava na sombra verde do Amazonas, vencia a natureza bruta, dominava as feras e as visagens, fazia dele rico e vencedor.
Cordulina ouvia, e abria o coração àquela esperança; mas correndo os olhos pelas paredes de taipa, pelo canto onde na redinha remendada o filho pequenino dormia, novamente sentiu um aperto de saudade, e lastimou-se:
— Mas, Chico, eu tenho tanta pena da minha barraquinha! Onde é que a gente vai viver, por esse mundão de meu Deus?
A voz dolente do vaqueiro novamente se ergueu em consolações e promessas:
— Em todo pé de pau há um galho mode a gente armar a tipoia… E com umas noites assim limpas até dá vontade de se dormir no tempo… Se chovesse, quer de noite, quer de dia, tinha carecido se ganhar o mundo atrás de um gancho?
Cordulina baixava a cabeça. Chico Bento continuou a falar.
O animal trocado com Vicente chegava de manhãzinha. Iria nele até o Quixadá, ver se arranjava as passagens de graça que o governo estava dando.
Recebendo o dinheiro do Zacarias da Feira, se desfazendo da burra e matando as criaçõezinhas que restavam, para comerem em caminho, que é que faltava? Nem trem, nem comida, nem dinheiro…
Cordulina levantou-se para balançar o menino que acordou chorando.
Era madrugada. Passarinhos desafinados, no pé de turco espinhento do terreiro, cantavam espaçadamente. A barra do dia foi avermelhando o céu. Os golinhas continuaram a cantar com mais força.
A mulher enfiou a saia e o casaco e foi cuidar no café.
Chico Bento ficou só. Tinha-se deixado estar na rede, sentado, as mãos pendentes, descansando os pulsos nos joelhos, o pensamento vagando numa confusa visão de boa ventura e fortuna.
Pouco a pouco, porém, com a luz do dia que entrava pelas frinchas da camarinha, a névoa otimista foi-se adelgaçando, e se foi sumindo a onda aquecedora de entusiasmo; e do projeto ambicioso só lhe ficou, triste e aguda, a melancolia do desterro próximo.
Sonolenta, ainda, a meninada se levantava, esfregando os olhos, espreguiçando-se em bocejos rasgados, em longas distensões que lhes salientavam o relevo das costelas.
O mais velho saiu logo para o curral e passando pela porta da camarinha, gritou:
— Papai! Já vou levar o gado do homem!
Chico Bento meteu os pés, estremunhando como quem acorda:
— Ah, sim! Tá na hora… A manhã era fria, quase nevoenta.
O meninote abriu a porteira e tangeu as reses, que saíram devagarinho.
Levantou o chapéu e a mão, tomando a bênção.
O pai mastigou um “Deus te acompanhe” e ficou vendo-o ir-se, assoviando, ligeiro, pelo trilho pedregoso.
QUEIROZ, Rachel de. O quinze. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. p. 44-46.
QUESTÃO 1
O principal motivo que leva Chico Bento a decidir “arribar” é
(A) a violência da cidade grande.
(B) a falta de emprego nas fazendas.
(C) a seca e a miséria que enfrentam.
(D) o desejo de enriquecer no Norte.
QUESTÃO 2
De acordo com o texto, o destino escolhido por Chico Bento é
(A) São Paulo, onde pretendia trabalhar em fábricas.
(B) o sertão cearense, para tentar sobreviver da terra.
(C) o litoral, em busca de pesca e trabalho em portos.
(D) o Amazonas, em busca de trabalho com borracha.
QUESTÃO 3
A fala de Chico Bento: “Em todo pé de pau há um galho mode a gente armar a tipoia…” revela:
(A) uma linguagem formal e técnica.
(B) traços da linguagem popular e regional.
(C) influência do inglês no português falado.
(D) uso excessivo de neologismos científicos.
QUESTÃO 4
O que o texto revela sobre a relação de Chico Bento e Cordulina com a terra em que vivem? Justifique com elementos do texto.
QUESTÃO 5
Explique como o narrador mostra a transformação do estado emocional de Chico Bento do início ao fim do trecho.
QUESTÃO 6
Explique por que esse texto pode ser classificado como parte de um romance social.
QUESTÃO 7
Com base na situação de Chico Bento e Cordulina, escreva um texto narrativo em que você imagine como foi a chegada deles ao destino desejado. Mostre os desafios enfrentados e se as expectativas foram ou não atendidas.
Autoria: | Marlon Santos |
Formação: | Letras – Português |
Componente curricular: | Língua Portuguesa |
Conteúdo(s)/Objeto(s) de conhecimento | Gêneros literários |
Habilidade estruturante: | (EF69LP47-B) Perceber como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto, indireto e indireto livre), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios de cada gênero narrativo. |
Descritores: | D1 – Localizar informações explícitas no texto. D3 – Inferir o sentido de uma palavra ou expressão. |
Referências: | Documento Curricular para Goiás (DC-GO). Goiânia/GO: CONSED/ UNDIME Goiás, 2018. Disponível em: <https://cee.go.gov.br> Acesso em: 03, fev. 2025 QUEIROZ, Rachel de. O quinze. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. |