Esta atividade de Língua Portuguesa tem como base as sequências didáticas propostas pelo Programa Aprender Sempre, da SME-Goiânia, com base no DC/GO – Ampliado e está destinada a estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental.
O apólogo é uma narrativa curta que traz, implicitamente, um julgamento moral através de alegorias representadas por personagens inanimados que assumem a postura humana. Esse gênero tem a finalidade de divertir o público-alvo e, ainda, ensinar uma lição de moral, promovendo uma reflexão.
O apólogo costuma ser narrado em 3ª pessoa e tem a finalidade de divertir o público-alvo e, ainda, ensinar uma lição de moral, promovendo uma reflexão. Algumas vezes, há uma certa confusão quanto aos conceitos dos gêneros apólogo e fábula, pois ambos possuem algumas características semelhantes. No entanto, enquanto a fábula emprega como personagens elementos da fauna e da flora, o apólogo é protagonizado por objetos inanimados, como objetos, pedras, relógios, moedas ou estátuas, por exemplo. Um apólogo muito conhecido na literatura brasileira é o texto “Um apólogo”, de Machado de Assis, que narra um debate entre uma linha e uma agulha na tentativa de provar qual das duas é mais importante.
O conto de fadas é um gênero textual de narrativa curta, que se originou da tradição oral e as histórias foram resgatadas, principalmente, por Charles Perrault e os Irmãos Grimm. Ele se origina da necessidade humana de contar e ouvir histórias para transmitir ensinamentos, valores ou divertir as crianças. Sua finalidade consiste em relatar fatos imaginários, de forma rica e criativa, despertando a curiosidade, a imaginação e a criatividade, além de promover o enriquecimento na vida interior.
Na composição de um conto de fadas há personagens que representam a realeza, como príncipes e princesas, fadas e feiticeiras, por exemplo, mas não é uma regra, como no caso de Chapeuzinho Vermelho. A narração costuma ser realizada na 3ª pessoa, com tempo mais indefinido, geralmente introduzido por “era uma vez”.
Os espaços recorrentes nesse gênero são florestas, reinos, casa dos pais, casa de bruxa. É costumeiro apresentar algum elemento mágico e fantasioso, promovendo reflexões ou ensinamentos, terminando com um final feliz.
Assista à videoaula do professor Marlon Santos com essa temática.
Responda às questões a seguir.
Leia o texto “Um apólogo”, de Machado de Assis para responder às três próximas questões.
Um apólogo
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
– Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
– Deixe-me, senhora.
– Que a deixe? Que a deixe, por quê? Por que lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
– Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
– Mas você é orgulhosa.
– Decerto que sou.
– Mas por quê?
– É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
– Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?
– Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados…
– Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando…
– Também os batedores vão adiante do imperador.
– Você é imperador?
– Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana – para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
– Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima.
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E quando compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:
– Ora agora, diga-me quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
– Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: – Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar, 1994. v. II.
QUESTÃO 1
Após a leitura do apólogo de Machado de Assis, é possível perceber que as personagens linha e agulha possuem uma visão de mundo distintas. Explique como cada uma percebe seu valor no mundo.
QUESTÃO 2
O apólogo, por meio de objetos que ganham vida e que são dotados de sentimentos, consegue estabelecer vários olhares sobre as identidades, sociedade e cultura.
A) Neste texto machadiano, quais valores sobre nossa cultura são apontados?
B) A partir do comportamento das personagens linha e agulha, o que pode-se inferir a respeito da identidade de cada uma delas?
C) Quais críticas e/ou lições a narrativa faz através do diálogo e comportamento e destino das personagens?
QUESTÃO 3
Identifique no texto e extraia dele um trecho que comprove o espaço em que a discussão das personagens linha e agulha acontece.
QUESTÃO 4
No texto, a voz do narrador em 3ª pessoa pode ser vista no trecho:
(A) Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha.
(B) – Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
(C) – Deixe-me, senhora.
(D) – Que a deixe? Que a deixe, por quê?
QUESTÃO 5
No texto, a voz de uma personagem, por meio do discurso direto, pode ser vista em
(A) – Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante.
(B) Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
(C) A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela.
(D) Contei esta história a um professor de melancolia.
QUESTÃO 6
Você sabe que um conto de fadas sempre começa com um “Era uma vez…”, costuma ter príncipes, princesas e bruxas, apresenta algum elemento mágico e fantasioso e, depois de alguma dificuldade, o casal apaixonado vive feliz para sempre. Recorde um conto de fadas que você gosta e preencha as seguintes informações sobre ele:
A) Quem são os protagonistas (mocinhos) e antagonistas (vilões) da história? Como você pode caracterizá-los?
B) Há outros personagens secundários? Quais? Caracterize-os.
C) Em que lugar se passa esse conto de fadas?
D) Qual é a dificuldade enfrentada pelos protagonistas?
E) O que é feito para que a dificuldade enfrentada pelos protagonistas seja resolvida?
F) O que acontece com o antagonista no desfecho?
QUESTÃO 7
Na questão anterior, você relembrou um conto de fadas que gosta muito. Agora, é sua vez de recontá-lo de uma maneira atualizada. Isso mesmo! Reescreva uma versão contemporânea do conto apresentado por você. Se fosse hoje, onde ele aconteceria, quem seriam as personagens, o que elas fariam para vencer as dificuldades causadas por uma personagem má? Boa escrita!
Autoria: | Marlon Santos |
Formação: | Letras – Português |
Componente curricular: | Língua Portuguesa |
Habilidades estruturantes: | (EF69LP44-A) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários. (EF69LP44-B) Reconhecer, em textos literários, formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas, considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção. (EF69LP47-A) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, as escolhas lexicais típicas de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo (EF69LP47-B) Perceber como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto, indireto e indireto livre), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo. (EF67LP29) Identificar, em texto dramático, personagem, ato, cena, fala e indicações cênicas, rubricas e a organização do texto: enredo, conflitos, ideias principais, pontos de vista, universos de referência. |
Referências: | GOIÂNIA. Secretaria Municipal de Educação. Aprender Sempre. 6° ao 9º ano – Ensino Fundamental; Língua Portuguesa; 3° Bimestre; Goiânia, 2022. MOISÉS, Massaud. Dicionário de Termos Literários. São Paulo: Cultrix, 2004. |