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Língua Portuguesa – Os gêneros apólogo e conto de fadas

Esta atividade de Língua Portuguesa tem como base as sequências didáticas propostas pelo Programa Aprender Sempre, da SME-Goiânia, com base no DC/GO – Ampliado e está destinada a estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental.

Assista à videoaula do professor Marlon Santos com essa temática.

Canal Portal Conexão Escola – Aprender Sempre – L. Portuguesa – 6º Ano – 3º Bim – Videoaula 4 – OS GÊNEROS T. APÓLOGO E CONTO – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=l2C1GYPLQjM> Acesso em: 27, set. 22

Responda às questões a seguir.

Leia o texto “Um apólogo”, de Machado de Assis para responder às três próximas questões.

Um apólogo

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

– Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?

– Deixe-me, senhora.

– Que a deixe? Que a deixe, por quê? Por que lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

– Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

– Mas você é orgulhosa.

– Decerto que sou.

– Mas por quê?

– É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

– Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?

– Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados…

– Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando…

– Também os batedores vão adiante do imperador.

– Você é imperador?

– Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…

Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana – para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

– Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima.

A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E quando compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:

– Ora agora, diga-me quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

– Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: – Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar, 1994. v. II.

QUESTÃO 1

Após a leitura do apólogo de Machado de Assis, é possível perceber que as personagens linha e agulha possuem uma visão de mundo distintas. Explique como cada uma percebe seu valor no mundo.

QUESTÃO 2

O apólogo, por meio de objetos que ganham vida e que são dotados de sentimentos, consegue estabelecer vários olhares sobre as identidades, sociedade e cultura. 

A) Neste texto machadiano, quais valores sobre nossa cultura são apontados?

B) A partir do comportamento das personagens linha e agulha, o que pode-se inferir a respeito da identidade de cada uma delas?

C) Quais críticas e/ou lições a narrativa faz através do diálogo e comportamento e destino das personagens?

QUESTÃO 3

Identifique no texto e extraia dele um trecho que comprove o espaço em que a discussão das personagens linha e agulha acontece.

QUESTÃO 4

QUESTÃO 5

QUESTÃO 6

Você sabe que um conto de fadas sempre começa com um “Era uma vez…”, costuma ter príncipes, princesas e bruxas, apresenta algum elemento mágico e fantasioso e, depois de alguma dificuldade, o casal apaixonado vive feliz para sempre. Recorde um conto de fadas que você gosta e preencha as seguintes informações sobre ele:

A) Quem são os protagonistas (mocinhos) e antagonistas (vilões) da história? Como você pode caracterizá-los?

B) Há outros personagens secundários? Quais? Caracterize-os.

C) Em que lugar se passa esse conto de fadas?

D) Qual é a dificuldade enfrentada pelos protagonistas?

E) O que é feito para que a dificuldade enfrentada pelos protagonistas seja resolvida?

F) O que acontece com o antagonista no desfecho?

QUESTÃO 7

Na questão anterior, você relembrou um conto de fadas que gosta muito. Agora, é sua vez de recontá-lo de uma maneira atualizada. Isso mesmo! Reescreva uma versão contemporânea do conto apresentado por você. Se fosse hoje, onde ele aconteceria, quem seriam as personagens, o que elas fariam para vencer as dificuldades causadas por uma personagem má? Boa escrita!


Autoria:Marlon Santos
Formação:Letras – Português
Componente curricular:Língua Portuguesa
Habilidades estruturantes:(EF69LP44-A) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários.
(EF69LP44-B) Reconhecer, em textos literários, formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas, considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.
(EF69LP47-A) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, as escolhas lexicais típicas de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo
(EF69LP47-B) Perceber como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto, indireto e indireto livre), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo.
(EF67LP29) Identificar, em texto dramático, personagem, ato, cena, fala e indicações cênicas, rubricas e a organização do texto: enredo, conflitos, ideias principais, pontos de vista, universos de referência.
Referências:GOIÂNIA. Secretaria Municipal de Educação. Aprender Sempre. 6° ao 9º ano – Ensino Fundamental; Língua Portuguesa; 3° Bimestre; Goiânia, 2022.
MOISÉS, Massaud.  Dicionário de Termos Literários. São Paulo: Cultrix, 2004.