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Língua Portuguesa – O gênero memória literária

Esta atividade de Língua Portuguesa tem como base as sequências didáticas propostas pelo Programa Aprender Sempre, da SME-Goiânia, com base no DC/GO – Ampliado e está destinada a estudantes do 7º ano do Ensino Fundamental.

Disponível em: <https://pixabay.com/images/id-4169862/> Acesso em: 02, mai. 22

Segundo Ecléa Bosi, “a lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, à nossa disposição, no conjunto de representações que povoam nossa consciência atual“. O gênero memória literária é um texto narrativo em que o produtor procura resgatar memórias, permitindo compartilhar valores de uma dada cultura. Esse gênero discursivo desempenha, portanto, um papel significativo na preservação da história, identidades, sociedades e culturas. Por meio da escrita e da narração de histórias, esse gênero permite que as pessoas compartilhem suas experiências e reflexões sobre eventos passados, possibilitando que as gerações futuras conheçam e compreendam o passado de uma maneira mais profunda.

A função social da memória literária é manter viva a memória coletiva de uma comunidade ou sociedade. Ao registrar e transmitir relatos pessoais, eventos históricos, tradições e valores culturais, esse gênero contribui para a preservação e a transmissão do patrimônio cultural de um povo. Além disso, também pode servir como uma forma de resistência contra a marginalização e o apagamento de certos grupos sociais, permitindo que suas vozes sejam ouvidas e valorizadas.

A estrutura da memória literária varia, mas geralmente inclui elementos como introdução, desenvolvimento e conclusão. A introdução estabelece o contexto histórico e social em que a narrativa se desenrola, apresentando o autor e a época em que os eventos ocorreram. O desenvolvimento é onde os detalhes do enredo são explorados, com descrições vívidas e diálogos que ajudam a recriar os acontecimentos passados. A conclusão pode refletir sobre o significado mais amplo da memória e seu impacto na identidade, sociedade ou cultura.

Uma das características mais interessantes desse gênero é a perspectiva única de cada autor baseada em suas experiências pessoais, sua posição social e histórica. Ao ler várias memórias literárias, os leitores são expostos a diferentes pontos de vista, o que enriquece sua compreensão da diversidade humana e ajuda a construir empatia.

É importante considerar a autoria e o contexto social e histórico de uma memória literária ao analisá-la. A autoria nos ajuda a compreender as motivações e as influências pessoais do autor, bem como a avaliar sua credibilidade como narrador. O contexto social e histórico nos permite entender como os eventos descritos na memória se encaixam em um quadro mais amplo e como foram influenciados por fatores políticos, econômicos e culturais da época.

Assista à videoaula do professor Marlon Santos com essa temática.

Canal Portal Conexão Escola – Aprender Sempre – L. Portuguesa – 7º Ano – 1º Bim – Videoaula 4 – O Gênero Memória Literária – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZFalRAabVLM> Acesso em: 08, mai. 22

Responda às questões a seguir.

Leia o texto a seguir para responder às questões 1 a 4.

A estrada de ferro

A estrada de ferro passava no outro lado do rio. Do engenho nós ouvíamos o trem apitar, e fazia-se de sua passagem uma espécie de relógio de todas as atividades: antes do trem das dez, depois do trem das duas.

Costumávamos ir  para a beira da linha ver de perto os trens de passageiros. E ficávamos de cima dos cortes olhando como se fossem uma coisa nunca vista os horários que vinham de Recife e voltavam da Paraíba. Mas nos proibiam esse espetáculo com medo de nossas traquinagens pelo leito da estrada. E tinha razão de ser tanta cautela: um dos lances mais agoniados da minha infância eu passei numa dessas esperas de um trem. O meu primo Silvino combinara em fazer virar a máquina na rampa do Caboclo. Já outra vez, com um pano vermelho que um moleque pregara num pau, um maquinista parara o horário das dez. Agora o que meu primo queria era um desastre. E botou uma pedra bem na curva da rampa.

Nós ficamos de espreita, esperando a hora. Quando vi o trem se aproximar como um bicho comprido que viesse para uma armadilha, deu-me uma agonia dentro de mim que eu não soube explicar. Parecia que eu ia ver ali perto de mim pedaços de gente morta, cabeças rolando pelo chão, sangue correndo no meio de ferros desmantelados. E num ímpeto, com o trem que vinha roncando pertinho, corri para a pedra e com toda a minha força empurrei-a pra fora. Um instante mais ouvi o ruído da máquina que passava. Fiquei sozinho, ali no ermo da estrada de ferro. Os meus primos e os moleques tinham corrido. Meu coração batia apressado. Parecia que eu era o único culpado daquela desgraça que não acontecera. Comecei a chorar, com medo do silêncio. Muito de longe, o trem apitava. E banhado pelas lágrimas andei para casa. Nunca mais em minha vida o heroísmo me tentaria por essa forma.

(REGO, José Lins do. Menino de Engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972, p. 24-6)

QUESTÃO 1

No relato do narrador, em que cenário se passa a história?

QUESTÃO 2

Quais características do gênero memória literária são encontradas no texto lido?

QUESTÃO 3

Leia o seguinte fragmento do texto:

“Fiquei sozinho, ali no ermo da estrada de ferro. Os meus primos e os moleques tinham corrido. Meu coração batia apressado. Parecia que eu era o único culpado daquela desgraça que não acontecera. Comecei a chorar, com medo do silêncio. Muito de longe, o trem apitava. E banhado pelas lágrimas andei para casa. Nunca mais em minha vida o heroísmo me tentaria por essa forma”.

A) Retire do fragmento um trecho que revele uma impressão do narrador a respeito de alguma ação.

B) Retire do fragmento um trecho que demonstra uma reflexão do narrador.

QUESTÃO 4

Na construção da memória, você percebeu que há a mistura de descrição de ações, impressões do narrador a respeito das ações e relato das sensações obtidas a partir dessas impressões. Sabendo disso, revisite suas memórias e produza uma memória literária que remeta a algum momento de sua infância.

QUESTÃO 5

Por que é importante considerar a autoria ao analisar memórias literárias?

(A) Para desvalorizar a diversidade de perspectivas. 

(B) Para avaliar a credibilidade do autor como narrador. 

(C) Para estabelecer um único ponto de vista sobre os eventos. 

(D) Para ignorar o contexto social e histórico da produção.

QUESTÃO 6

Como as memórias literárias estabelecem múltiplos olhares sobre identidades, sociedades e culturas? 

(A) Apresentando apenas um ponto de vista dominante. 

(B) Ignorando as experiências pessoais dos autores. 

(C) Mostrando perspectivas únicas e diversas dos autores. 

(D) Reforçando estereótipos e preconceitos.


AutoriaMarlon Santos
Formação:Letras – Português
Componente curricular:Língua Portuguesa
Habilidades estruturantes:(EF69LP44-A) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários.
(EF69LP44-B) Reconhecer, em textos literários, formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas, considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.
(EF69LP47-A) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, as escolhas lexicais típicas de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo
(EF67LP30-B) Observar os elementos da estrutura narrativa próprios ao gênero pretendido, tais como enredo, personagens, tempo, espaço e narrador.
Referências:BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: T.A. Queiroz, 1979.
GOIÂNIA. Secretaria Municipal de Educação. Aprender Sempre. 6° ao 9º ano – Ensino Fundamental; Língua Portuguesa; 1° Bimestre; Goiânia, 2022.
REGO, José Lins do. Menino de Engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972.