Olá! Esta aula de Língua Portuguesa é destinada a educandos da 5ª Série da Eaja.
A aula de hoje abordará o gênero narrativo, sua estrutura bem como seus elementos composicionais, ressaltamos a voz narrativa e sua capacidade memorial, registros emotivos marcados pela escritora goiana Cora Coralina em seu conto: A casa velha da ponte. Além de conto, a figuração ultrapassa a imagem, pois a distinta casa velha da ponte da Cidade de Goiás é mais que um marco, é mais que um cenário, trata-se de um personagem vivo que pode fazer parte das nossas estórias.
Assista a videoaula abaixo, com a temática – Língua Portuguesa – O memória e a lembrança presentes no conto goiano
O memória e a lembrança presentes no conto goiano
Hoje, iremos estudar o gênero conto, especialmente o conto goiano, regado de nostalgia e ancestralidade colocaremos para análise e estudo o conto: “Casa velha da ponte” da autora Cora Coralina, este relato busca no tempo o registro do passado e coloca uma casa como personagem protagonista, cuja narradora conversa com a casa, neste diálogo a autora e narradora Cora Coralina canta o passado e retoma o presente por meio de memórias e saudosismo.
“A Casa Velha da Ponte” é um conto que faz uma homenagem à Casa Velha da Ponte (enquanto patrimônio) buscando recuperar sua história e de seus moradores a casa projeta-se enquanto um elo entre o passar do tempo, trazendo cenas de um tempo distante, de vivências passadas, circunstâncias de gerações a gerações.
Na enunciação ficcional, o conto coloca em pauta pessoas que por ali viveram, são revelados fatos e circunstâncias de vida dos antigos proprietários da casa, dos seus antigos vizinhos, dos escravos que, encostados em seus muros, produziam rumores dos castigos e dos desejos secretos. Cora Coralina na sua composição faz uso do tom autobiográfico para confidenciar ao leitos o passado da casa, observando a relação estabelecida entre o factual e o ficcional a autora também recorre as estratégias ficcionais, bem como os elementos da estrutura narrativa: o narrador a própria autora Cora Coralina e a personagem protagonista: A casa velha da ponte. Para melhor ilustrar esta relação de aproximação e diálogo vamos apreciar um fragmento da obra?
“CASA VELHA DA PONTE…
Olho e vejo tua ancianidade vigorosa e sã.
Revejo teu corpo patinado pelo tempo, mascado das escaras da velhice. Desde quando ficaste assim?
Eu era menina e você já era a mesma, de paredes toscas, de beiradão desusado e feio, onde em dias de chuva se encolhiam as cabras soltas da cidade. Portais imensos para suas paredes rudes de barrotins e enchimento em lances sobrepostos salientes.
Folhas de portas pesadas de arvores fortes descomunais, serradas a mão, unidas e aparelhadas, levantadas para a entrada e saída de gigantes homens feros, duros restos de bandeira. Fechaduras anacrônicas, chavões de broca, gonzos rangentes de feitio estranho e pregos quadrados.
MINHA CASA VELHA DA PONTE… assim a vejo e conto, sem datas e sem assentos. Assim a conheci e conto sem datas e sem assentos. Assim a conheci e canto com minhas pobres letras. Desde sempre. Algum dia cerimonial foste casa nova, num tempo perdido do passado, quando mãos escravas te levantaram em pedra, madeirame e barro.
(…)
CORALINA, Cora. Estórias da Casa Velha da Ponte. 11. ed. São Paulo: Globo, 2001.
Este conto foi publicado originalmente no livro Estórias da Casa Velha da Ponte, compõe-se de dezoito peças em escrita leve e bem humorada. São casos folclóricos alguns, mas em todos se sobressaem o cotidiano, o absurdo da vida e ensinamentos. A casa é personificada e tornando-se um ser cujo corpo traz as marcas do tempo. “Olho e vejo tua ancianidade vigorosa e sã. Revejo teu corpo patinado pelo tempo, marcado das escaras da velhice.”. Sua figura, a imagem da casa velha sobre o Rio Vermelho representa um depositário da história das grandes famílias senhoriais com seus escravos, suas riquezas e especialmente suas ruínas que marcaram o fim do ciclo colonial. Fartura e a pobreza de suas paredes guardam os segredos de gerações e gerações.
A autora Cora Coralina recebeu menção honrosa da crítica literária especializada. Recebeu elogios e é anunciada como revelação uma de época, mas, só muitos anos depois, em 1985 foi verdadeiramente reconhecida como autora e poetisa.
A narrativa se faz de histórias e de estórias, ou seja, “Casa velha da Ponte” é um grandioso recorte temporal entre verdades e quase verdades. Nesse universo em que histórias e lendas se misturam, são sempre relembradas as notícias de possíveis riquezas enterradas entremeio às paredes do porão da Casa Velha da Ponte. Atualmente a “Casa velha da ponte” funciona como um museu, aberto a visitações e claro, um retrato vivo do foi e ainda é a autora Cora Coralina, afinal foi exatamente nesta casa que autora viveu sua infância, em sua fase adulta criou seus filhos e como doceira, contadora de casos e poetisa tornou-se conhecida pelo mundo todo.
Atividades
Questão 01 – Certamente você conhece ou já ouviu falar da famosa “Casa velha da ponte” ou mesmo conhecida “Casa de Cora Coralina”. De forma criativa, escreva um convite ou mesmo um anúncio que divulgue e chame a sua comunidade para conhecer a casa da escritora Cora Coralina.
Questão 02 – Em sua opinião, além dos ancestrais, antigos moradores da casa e a própria casa, quem mais mereceria ser personagem do conto “Casa Velha da Ponte” de Cora Coralina? Troque ideias com seus familiares e amigos e escolha um novo personagem para habitar a casa. Quero orientar você que no passado Cora Coralina foi uma grande amiga de seus vizinhos.
Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento: | (EAJALP0417) Reconhecer a função social de textos em diferentes campos da vida. (EAJALP0418) Inferir informações implícitas nos textos lidos. (EAJALP0471) Analisar os efeitos estilísticos, composicionais e temáticos dos gêneros. |
Referências: | Cora Coralina recita: Casa Velha da Ponte, disponível em:CORALINA, Cora. Estórias da Casa Velha da Ponte. 11. ed. São Paulo: Globo, 2001. |