Olá! Esta aula de Língua Portuguesa é destinada a educandos da 6ª Série da Eaja.
A aula de hoje abordará o gênero textual lenda, seus conceitos, características. Semelhante aos demais gêneros narrativos, a lenda está intimamente ligada a tradição oral de um povo, seus valores, crenças e costumes. O gênero lenda busca explicações na natureza para dar força em seu enredo, seus personagens atravessam situações difíceis e até mesmo heroicas, no entanto algumas narrativas apontam acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais.
Assista a videoaula abaixo, com a temática – Língua Portuguesa – A lenda do pequi.
A lenda do pequi.
Hoje, iremos conhecer o gênero textual lenda, sua grandiosidade narrativa que mistura fatos reais e imaginários, as lendas formam um conjunto de explicações sobre os acontecimentos humanos, no entanto seu maior destaque está presente na natureza. São transmitidas pela oralidade de um povo respeitando suas crenças. Misturam a história e a fantasia, vão sendo contadas ao longo do tempo e modificadas através da imaginário popular.
Nesta aula vamos conhecer uma lenda do ouro do cerrado, isto mesmo, a lenda do pequi, cercada de crenças populares o fruto do pequizeiro envolve uma belíssima história de amor. Para quem é de Goiás, esta fruta é uma velha conhecida. Com safra entre outubro e janeiro, o pequi é nativo do cerrado brasileiro, consumido largamente por todo o estado de Goiás e nos adjacentes. De tronco tortuoso e galhos com fissuras e cristas, o pequizeiro atinge até 10 metros de altura. A fruta apresenta as cores do Brasil, casca verde e interior amarelo, e recebeu o nome por causa dos inúmeros espinhos encontrados em sua polpa. Na língua indígena, pequi é pele (py) e espinho (qui). Assim como sua etimologia a palavra pequi também tem sua origem lendária relacionada a elementos da cultura indígena. Vamos apreciar agora a lenda do Pequi e da índia Tainá-Racan.
Por Laurenice Noleto Alves
Um jovem e formoso guerreiro de uma tribo vizinha – Maluá -, assim que viu Tainá-Racan, sentiu forte fogo no corpo e o coração saltando no peito: “Ela é linda como a estrela da manhã. Hei de amá-la enquanto durar a minha vida!”. Pouco tempo depois, estavam casados. A vida deles era bela e alegre como o ipê florido. Todas as manhãs, Maluá saía para caçar e pescar, enquanto Tainá-Racan sentava-se na porta de sua oca, tecendo colares e esteiras, moqueando o peixe e preparando o calugi, para ofertar ao seu amado, quando voltasse.
Ao seu lado, sempre se deitava um jacaré, lhe fazendo companhia e conversando, pois, nessa época, os bichos também falavam. O tempo foi passando…. Caíram as flores. Os cajueiros arcaram de fartura e beleza seus galhos com frutos vermelhos. As castanhas escondiam-se no seio da terra boa. As cigarras enchiam as matas com sua forte sinfonia. Após três anos de casamento, numa noite bonita, deitados numa pedra grande à beira do rio calmo, Maluá encostou a cabeça no peito de Tainá-racan e apertou-a com ternura.
– Está triste, amado meu?
– Sim. Você sabe que eu estou triste e você também está. Nossa dor é a mesma.
– Onde está nosso filho, que Cananxiué não quer mandar? – disse Tainá-Racan.
Maluá alisou com carinho o ventre da formosa esposa, dizendo: “E o nosso filho não vem”, murmurou. Dois pequeninos rios de lágrimas deslizaram pelas faces coradas de Tainá-Racan. Um vento forte fez balançar as árvores da floresta e arrepiou as águas do rio. Uma nuvem escura cobriu a lua. Trovões reboaram ao longe. Maluá abraçou Tainá-Racan e amou-a.
– Nosso filho virá, sim. Cananxiué também o quer – disse ele.
Luas depois, quando os ipês voltaram a florir, numa madrugada alegre, nasceu Uadi, o Arco-Íris. Era lindo, gordinho, tinha os olhos cor de noite estrelada, como os da mãe, e era forte como o pai. Mas havia nele algo diferente, que espantou o pai, a mãe, a tribo inteira: Uadi tinha os cabelos dourados como as flores do ipê amarelo. Ainda assim, Maluá recebeu o nascimento do filho com alegria. E, para explicar a sua diferença, espalhou pela tribo que Uadi era filho de Cananxiué. Mas os próprios índios de sua tribo zombavam-no, dizendo que Uadi era filho do jacaré. Alheio às piadas maldosas, o menino crescia cheio de encanto, alegria, e com uma inteligência incomum. Fascinava a mãe, o pai, a tribo toda. Com rapidez incrível, aprendeu o nome das coisas e dos bichos. Com sua mãe, aprendeu a cantar as baladas tristes e alegres de seu povo. Era a alegria da tribo.
Um dia, Maluá, com outros guerreiros, foi chamado para uma guerra. Os olhos pretos de Tainá-racan encheram-se de lágrimas. O rostinho alegre de Uadi se entristeceu. Nesse momento, Cananxuié, o senhor de todas as matas, de todos os animais, de todos os montes, de todas as águas e de todas as flores, desceu do céu sob a forma de Andrerura – a arara vermelha – e gritou um grito forte: “Vim buscar meu filho!”, e o agarrou e o levou pelos ares. Tainá-Racan e Maluá caíram de joelhos. O guerreiro abriu os braços gritando: “O filho é nosso, sua casa é a de sua mãe, Tainá-Racan, aqui na Terra! Devolve meu filho”! O grito de Maluá ecoou pela mata, ferindo de dor o silêncio. O peito do guerreiro sofria como uma aroeira ferida pelo machado.
O velho chefe guerreiro aproximou-se, bateu-lhe no ombro e bradou: “Maior que sua dor é sua honra de guerreiro e a glória de nossa tribo! Cananxiué buscou o que você disse que era dele. Muitos outros filhos ele vai lhe dar. Tainá-Racan é jovem. Você é jovem. Vai, guerreiro, não deixe a dor matar sua coragem!” Maluá partiu. Tainá-Racan chorou três dias e três noites na sua oca. E o jacaré, seu amigo, que veio da mata ao escutar os seus gritos de dor, ficava deitado à sua porta, dia e noite, tomando conta dela. Uma noite, o jacaré implorou a Cananxiué que tivesse piedade dela, prometendo ir embora para sempre, nunca mais falar com os humanos e morar somente nas margens dos rios, se a fizesse novamente feliz. Ouvindo-o, Cananxiué tomou novamente o corpo de uma arara vermelha e voltou à Terra, dizendo a Tainá-Racan:
Das suas lágrimas nascerá uma planta, que crescerá como uma árvore copada. Ela dará flores cheirosas que as pacas, veados, capivaras e os lobos virão comer nas noites de luar. Depois, nascerão frutos. Dentro da casca verde, os frutos serão dourados como os cabelos de Uadi. Mas a semente será cheia de espinhos, como os espinhos da dor de seu coração de mãe. Seu aroma será tão tentador e inesquecível, como você o será sempre para o seu amigo jacaré. E aquele que o provar, jamais o esquecerá.
Tainá-Racan sorriu. E imediatamente viu nascer uma planta, que chamou de Tamauó. A mesma que os índios Mehinako, do Xingu, conhecem como akain; e que os homens brancos, do Norte, Nordeste e Centro-Oeste chamam de Pequi. E, quando Maluá voltou, encontrou uma linda, grande e frondosa árvore, cheia de frutos, chamada de pequizeiro. Ele pegou alguns no chão, partiu, tirou os caroços dourados e os comeu, com farinha, junto com Tainá-racan. E depois, se amaram muito, ali mesmo à sombra do pequizeiro.
Assim foi que, durante muitos anos a seguir, sempre que os ipês e os cajueiros voltavam a florir nas matas e os pequizeiros também deixavam seus frutos maduros cair na terra, servindo de alimentos para todos, Tainá-Racan e Maluá eram abençoados com mais filhos. E, a cada filho que nascia, plantavam mais um pequizeiro. E eles tiveram muitos filhos. E viveram felizes para sempre.
A lenda do pequi ressalta seus elementos mágicos como as matas e os índios, e com um terna explicação descreve o fruto com suas propriedades. Sua cor, seu perfume e seus espinhos são explicitados na história por meio do sofrimento de uma jovem mãe que perdeu seu filho prematuramente para forças oriundas da natureza.
ATIVIDADE
Questão 1 – ACESSE O LINK E ASSISTA AO VÍDEO: Meio Ambiente por Inteiro – Pequi (17/10/15): https://www.youtube.com/watch?v=3hh-YZLGDmk
Você observou que além dos valores gastronômicos o pequi apresenta uma grande diversidade de espécie. A presença do pequizeiro é importante para garantir a sobrevivência de muitas espécies vegetais e animais que são essenciais ao equilíbrio do ecossistema na região do Cerrado. Levando em consideração a lenda do pequi e as informações sobre o pequi e o meio ambiente, repense: de que forma podemos juntos garantir a vida longa do pequi?
Questão 2 – Faça a releitura da “Lenda do pequi” mencionada acima: Para isso acesse o link:https://www.xapuri.info/mitos-e-lendas/lenda-do-pequi-o-fruto-do-amor-de-taina-racan-e-malua/
Após a leitura da lenda, observe o que havia de semelhante entre o pequi e a criação de seus personagens, lembre-se de destacar os nomes indígenas que compõem a família de Taina-Racan.
Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento: | (EAJALP0513) Ler e relacionar textos literários (contos populares, contos de terror, contos folclóricos goianos e lendas de outras culturas) com ilustrações e outros recursos gráficos (leitura multissemiótica). (EAJALP0515) Perceber e compreender os elementos das narrativas: narrador, personagem, enredo etc. |
Referências: | Laurenice Noleto Alves recita “A lenda do pequi”. Site Xapuri Socioambiental, disponível em:https://www.xapuri.info/mitos-e-lendas/lenda-do-pequi-o-fruto-do-amor-de-taina-racan-e-malua/ |