Olá, educando (a)! Esta videoaula de História foi veiculada na TV no dia 02 de Junho de 2021 (Quarta-Feira). Aqui no Portal Conexão Escola, ela está disponível juntamente com a proposta de atividade.
Esta aula apresenta alguns aspectos sobre os processos migratórios dos grupos indígenas, dos portugueses e dos africanos que culminaram na formação do Brasil.
Assista a videoaula abaixo, com a temática – História – As questões históricas relativas às migrações: Migrações que formaram o Brasil.
Migrações que formaram o Brasil
Você já deve ter ouvido falar que o Brasil foi formado a partir do encontro de três raças: os indígenas, os portugueses e os africanos. Essa narrativa foi criada a partir do século XIX, quando o país tornou-se independente e investiu na construção de uma identidade para a nova nação. Ela ganhou força no início do século XX. Alguns intelectuais desenvolveram a tese de que o Brasil é um país onde as raças convivem harmoniosamente. No final do século XX, essa tese passou a ser criticada. Percebeu-se que, na verdade, houve mais um choque do que um “encontro”, o Brasil foi palco de formas de violências, ao mesmo tempo, brutais e sutis, principalmente contra africanos e indígenas.
Em todo caso, o que queremos observar é que a presença desses três grupos nesse território é fruto de processos migratórios que aconteceram em épocas diferentes, com motivações diferentes e que resultaram no surgimento de uma cultura diversa.
Indígenas
A chegada dos indígenas a esse território é matéria de discussão entre os cientistas. Estamos em pleno desenvolvimento de pesquisas que têm ainda muitas descobertas a serem feitas. Há quem estabeleça a chegada dos primeiros seres humanos por aqui em 35 mil anos ou até 50 mil anos atrás, mas isso ainda precisa de melhor fundamentação. Em aula anterior falamos das teorias sobre a chegada aqui na América dos ancestrais dos povos que os portugueses encontraram em 1500.
O fato é que quando os portugueses chegaram aqui, encontraram esse território povoado por alguns milhões de indígenas. As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling caracterizam quatro áreas do atual território brasileiro ocupado pelos índios às vésperas da chegada dos portugueses.
1. A costa, o litoral, por onde os portugueses chegaram, era ocupada por uma população homogênea. De norte a sul, era habitada pelo povo tupi-guarani, composta de aproximadamente dois milhões de indivíduos. Praticavam a pesca, a caça e a agricultura de coivara; também desfrutavam de recursos fluviais e marítimos. A base alimentar era o milho e a farinha de mandioca. Eram organizados em aldeias de 500 a 2 mil pessoas que se ligavam a outros grupos por laços consanguíneos. A guerra era uma atividade importante desses povos.
2. Os campos do cerrado eram ocupados pelos povos Jês, donos de uma sofisticada economia e cosmologia. Praticavam a horticultura a milênios, desenvolviam a cerâmica desde a pré-história. Viviam em assentamentos em forma de anel de 800 a 1500 pessoas, cultivavam milho e batata doce. Os Jês são móveis, têm grandes aldeias, tecnologia de subsistência simples, adornos corporais elaborados, não possuem chefes supremos, mas têm estruturas de prestígio e instituições comunitárias e cerimoniais notáveis.
3. A região do rio Xingu possuía um sistema multiétnico e multilinguístico, mas culturalmente homogêneo. Eram sedentários, plantavam mandioca e pescavam. Nos séculos XV e XVI, existia uma sociedade populacionalmente numerosa com interação social, longe de ter grupos isolados. Desenvolveu-se nessa região um modelo de chefia e distinção social onde a hierarquia se combinou com autonomia política.
4. A várzea do Amazonas era marcada pela ocupação descontínua ao longo deste rio. O tamanho das aldeias variava, algumas chegavam a ter sete quilômetros ao longo do rio com estrutura pública e atividades político-cerimoniais. Os povos dessa região praticavam a pesca e a agricultura, milho e mandioca eram os produtos principais. A cerâmica era uma atividade importante. Desenvolveram-se muitos sistemas políticos, mas com predominância do cacicado: sistema político de chefias centralizadas, em que um líder supremo tinha poderes sobre aldeias e distritos hierarquicamente subordinados.
Portugueses
Os portugueses chegaram ao Brasil em 1500. Para eles, a viagem que os trouxe até aqui era principalmente um empreendimento comercial. Nessa época, o comércio de especiarias do Oriente havia se tornado um negócio altamente lucrativo, estabelecendo-se rotas comerciais que, no entanto, eram dominadas por mulçumanos e depois passou ao controle dos turcos.
Os portugueses começaram a investir numa rota alternativa pelo mar. Passou mais de um século até conseguir contornar a África e chegar às Índias, em 1498. A expedição chefiada por Pedro Álvares Cabral partiu em março de 1500 com destino às Índias e chegou em abril no local onde hoje se encontra a cidade de Porto Seguro, na Bahia.
O conhecimento que os portugueses tinham do mundo era fundamentado na religião católica da Idade Média. Inclusive essas viagens para terras distantes tinham também como objetivo disseminar a fé católica pelo mundo. Essa visão cristã do mundo marcou o modo preconceituoso como eles interpretaram os povos que encontraram por aqui. O preconceito começou no nome que deram aos nativos. Como tinham partido para a Índia, chamaram o povo de índio, um nome só para todos os povos que existiam aqui desconsiderando a diversidade de culturas e modos de vida. O preconceito continuou: disseram que os índios eram preguiçosos, não obedeciam regras em seu dia a dia, não conheciam Deus, chegando até à discussão sobre a humanidade dos indígenas.
Os portugueses trataram de assegurar a posse da terra de acordo com as convenções europeias e começaram a exploração dos recursos naturais, objetivo principal pelo qual vieram. Permaneceram por muito tempo explorando o litoral, só no século XVII é que a colonização adentrou o território.
Africanos
A migração dos africanos para o Brasil foi compulsória. Ou seja, eles foram obrigados a deixar a África e virem para o Brasil. A escravização dos africanos fez surgir e movimentou uma rede de comércio organizada.
Reinos africanos aliados dos portugueses faziam o apresamento em guerra ou emboscada dos futuros escravos. Em seguida, o cativo fazia uma extensa viagem pelo interior da África até os pontos de embarque. Os capturados ficavam amontoados em alojamentos precários nos portos esperando completar a carga para a viagem, que durava de 30 a 50 dias. Luanda, Benguela, Cabinda e Ouidá foram os principais portos de embarque no continente africano, no século XVI.
Após o desembarque, no Brasil, as autoridades anotavam os recém chegados por sexo e idade; também o número de crias (crianças filhos dos escravos) era anotado. Os traficantes pagavam impostos e os escravizados eram encaminhados para o local de leilão. Se não houvesse clientes para o leilão na alfândega seguiam para armazéns próximos à zona portuária. Lá, eram maquiados, preparados para melhorar a aparência muitas vezes abatida pela viagem, para serem vendidos. Os escravizados também eram anunciados em jornais e vendidos por pequenos comerciantes como mascates e tropeiros. No século XVII, Salvador e Recife se firmaram como principais portos de desembarque, já no século XVIII o porto do Rio de Janeiro tornou-se o principal.
Os escravizados na América falavam línguas distintas, pois vinham de diferentes lugares e tinham culturas diversas. A venda final rompia laços familiares e culturais, os proprietários preferiam formar um plantel com pessoas de diferentes origens e idiomas pois assim dificultava a comunicação entre eles. As práticas religiosas dos escravizados eram proibidas pela igreja católica. Mas os africanos fizeram uma releitura de suas religiões na nova situação que viviam. Elas foram por isso alteradas, misturadas ao catolicismo e aos cultos populares.
Enfim, o Brasil!
O “encontro” desses grupos neste território que hoje é o Brasil resultou em extermínio da população nativa, exploração extrema dos africanos e enriquecimento dos europeus. Mas, houve também o surgimento de um país com uma cultura bastante diversa e peculiar. O idioma português foi enriquecido, a religião católica se fundiu com as religiões africanas e indígenas, os tipos físicos europeu, africano e indígena se misturaram. Enfim, o Brasil!
Atividade
Questão 1 – Depois de ler o texto, você acha que aconteceu no Brasil um encontro ou um choque entre indígenas, portugueses e africanos? Justifique sua resposta.
Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: | (EAJAHI0420) Reconhecer os processos migratórios para a formação do Brasil: os grupos indígenas, a presença portuguesa e a diáspora forçada dos africanos e suas contribuições para a diversidade cultural brasileira. |
Referências: | SCHWARCZ, Lilia. STARLING, Heloísa. Brasil: uma biografia. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. |