Alunas cegas são alfabetizadas em Braille na Escola Municipal Maria da Terra
Estudantes estão entre os 42 educandos com deficiência visual atendidos pela rede de ensino
A alfabetização costuma ser desafiadora para quem ensina e para quem aprende. Isso não é segredo para ninguém. Pedagogo e filósofo, Paulo Freire disse: “Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar”. Na Escola Municipal Maria da Terra, no Bairro Floresta, duas alunas cegas, Geovanna Veríssimo dos Santos Oliveira, 7 anos, e Ana Clara de Melo e Silva, 6 anos, estão “aprendendo a caminhar”. As duas estão sendo alfabetizadas em Braille, por meio do Método da Fragmentação da Palavra em Sílabas, em celas braille feitas pelas professoras com materiais pedagógicos e bolinhas de gude.
O processo tem sido realizado com a parceria do Centro Brasileiro de Reabilitação e Apoio ao Deficiente Visual (Cebrav), que mantém convênio integral com a Secretaria Municipal de Educação e Esporte (SME). As alunas estão cursando o 2º ano do Ciclo I e já estão formando palavras, assim como os demais dez alunos da turma. “Elas chegaram no começo deste ano bem travadas, um pouco aquém em relação ao desenvolvimento para a idade. Mas, nos últimos dois meses, notamos um salto muito grande. Elas melhoraram bastante tanto na socialização, quanto na parte pedagógica em si”, pontua a professora de Atendimento Educacional Especial (AEE) na Sala de Recursos, Cyntia Staciarim.
Para adaptar às necessidades das duas alunas, a escola se reorganizou e fez o possível para recebê-las bem. “Confesso que quando elas chegaram eu senti medo. Mas está dando tudo muito certo. Os alunos acolheram muito bem as duas. Ajudam na hora do recreio, explicam as coisas, orientam, guiam. A maior dificuldade delas é sair da sala, mas sempre tem alguém junto e elas se resolvem muito bem. Ambas têm boa autonomia dentro da escola”, relata a pedagoga, Suzanny Resende R. Pimentel, que lida diariamente com as meninas em sala de aula.
Sobre o processo de alfabetização em si, a professora conta que as meninas até surpreendem no aprendizado. “É realmente um desafio diário, mas a parceria que temos aqui na escola, com o Cebrav e com as famílias traz resultados bem positivos em todo o processo. Elas evoluem e nós também, como pessoas e profissionais”, comemora Suzanny.
Quem também fica muito feliz em ver o sucesso das meninas é a mãe da Ana Clara, Cristiane Macedo Melo Silva. “Nós moramos bem longe da escola, mas atravesso a cidade por ela, para ver o progresso dela. Estou muito satisfeita com o trabalho da escola. Gosto de ver o empenho das pessoas que trabalham aqui e tratam minha filha com tanta dedicação e carinho. Faço as tarefas de casa com ela e vejo o quanto ela já aprendeu. Me emociono com cada avanço dela”, afirma a confeiteira.
As pequenas já sonham com o futuro, comemoram que estão realmente “aprendendo a caminhar” e estão muito felizes por isso, mas deixam claro que gostam também de brincar e se divertir com os novos amigos. “É muito legal. No início estranhei um pouco, mas agora gosto muito das minhas amigas. Acostumei e todos me ajudam. Fiz amizades com adultos e crianças, brinco bastante. O que eu mais gosto são as brincadeiras, corro, pulo, danço. Às vezes é difícil, mas é muito legal porque as tias me ajudam. Quando eu crescer, quero ser professora igual a elas”, disse Geovanna. Ana Clara completa: “Aprendi o alfabeto! Faço Educação Física, aprendi a andar sozinha sem medo. Quando eu crescer, vou ser médica para cuidar das pessoas”.
As alunas são duas entre os 18 educandos totalmente cegos matriculados na rede municipal de ensino. No total, são 42 deficientes visuais, ou seja, alguns com baixa visão, ou perda gradativa da visão. Por lei, esses alunos não têm direito a cuidador, pois conseguem desenvolver atividades básicas como comer e ir ao banheiro sozinhos, entretanto a Prefeitura de Goiânia, por meio da parceria da SME com o Cebrav, oferece atendimento para esses alunos em escolas e centros municipais de Educação Infantil (Cmei), além de capacitação para servidores que lidam diretamente com esses alunos.
Texto: Lívia Máximo
Fotos: Andréia Barra